segunda-feira, 21 de abril de 2014
Maria não foi cúmplice da missão de Jesus
É um ponto controverso para os católicos, mas tudo indica que Maria, mãe de Jesus, nunca foi cúmplice ou discípula das obras do mestre judeu. É uma hipótese muito chocante, porém bastante provável, até pelas relações hierárquicas familiares e pelo fato de Jesus ter sido uma pessoa bastante ousada em seu tempo.
Imagine um jovem que desiste de ser um anônimo carpinteiro para se tornar andarilho pelas diversas localidades da Judeia e, em visita de casa em casa, transmitir seus conhecimentos bastante avançados e sua inteligência fora do comum naqueles tempos tão atrasados, de uma classe política que ainda resolvia seus problemas matando pessoas.
Ele certamente causaria indignação a seus pais, Maria e José - lembrando aos desavisados que José foi marido de Maria e pai biológico de Jesus, tese rejeitada pela mitologia católica - , que não aceitariam tamanha rebeldia de seu principal filho. Há indícios de que Jesus tenha tido irmãos.
Em sua breve vida, Jesus visitou casas de diversas pessoas, procurando esclarecê-las de diversas formas. Bastante informado, Jesus falava sobre política, mas também, como em toda visita, falava amenidades e demonstrava seu senso de humor. Jesus ria, contava piada, brincava e adorava festas, sua jovialidade contradiz o mito católico de que ele teria sido sisudo e extremamente formal.
Paciência. O mito de Jesus sisudo, lacônico e formalista veio da religião montada pelos imperadores romanos a partir de Constantino, que moldou Jesus como se fosse um precursor dos chefes militares, uma visão que vale até hoje, é defendida por muitos, mas não tem o menor senso de veracidade.
O que Jesus foi mesmo era uma figura da mais sofisticada inteligência. Algo que se mostrava desde a infância. Daí o episódio, ilustrado por esta charge, do menino Jesus desaparecer, num passeio familiar, para conversar com doutores em uma academia. Os doutores ficaram impressionados com os conhecimentos diversos expressos pelo garoto.
Foi essa inteligência livre e sofisticada que irritou os políticos romanos que, vendo em Jesus um possível subversivo à ordem romana, já que Jesus também era de conversar sobre política com muitas famílias, esclarecendo muita coisa que elas não tinham a menor ideia, decidiram condenar o mestre judeu à cruz.
E vale lembrar que o tão dramatizado julgamento de Pôncio Pilatos nunca existiu. Não há registros históricos a respeito. Pilatos teria condenado Jesus de forma rápida e rasteira, como era de natureza dos políticos da época, que não queriam conversa e, quando condenavam, bastava uma ordem ou ato.
E, depois de crucificado e morto, que situação teve Maria depois da perda de seu filho? Que ela se tornou o 13º apóstolo, que passou a ser embaixatriz do ministério cristão de pregações moralistas e testemunha ocular e afetiva do sisudo mestre senhor dos exércitos, lacônico e com olhar grave?
Não necessariamente. Como toda mãe, é verdade que Maria tornou-se testemunha do mestre judeu e, com as típicas relações afetivas que teve com seu querido filho, ela de alguma forma mostrou-se solidária com seu legado.
Descontadas as diferenças de contexto, é o que vemos no caso brasileiro de Lucinha Araújo e seu falecido filho Cazuza. Os dois tinham divergências, a mãe não aprovava as ousadias do filho mas depois passou a respeitá-las e, com a morte dele, passou até a admitir pontos positivos da missão filial.
Mas isso não quis dizer uma cumplicidade ou uma herança. Imagine uma mãe que, perdendo seu filho, torna-se responsável pelo seu espólio. E digamos que o filho tenha deixado, além de seu skate, seus discos de hardcore, seus livros de Jack Kerouac e J. D. Salinger, suas revistas da DC Comics e as revistas de mulheres nuas que ele usava para suas "necessidades".
Será que sua mãe iria assumir como seu aquele espólio todo? Não. Ela cuidaria dele com carinho? Talvez. E ela compreenderia as ousadias e estranhezas do filho? Completamente, e respeitaria isso com boa vontade. Mas ela não tomaria isso como algo seu, mas apenas como lembranças do filho que ela teve.
Maria não concordava com a militância de Jesus. Zelosa, ela achava isso muito arriscado, como de fato foi. Por ela Jesus seria apenas um anônimo carpinteiro a se perder no esquecimento do tempo. Leal ao marido, José, Maria sabia também que José (mais velho e influenciado pela sociedade patriarcal da época) era mais inflexível nisso.
Morto Jesus, Maria simplesmente respeitou as virtudes que Jesus mostrava para as pessoas. Sem concordar com as atividades ousadas do filho, ela compreendeu depois o que Jesus desejava para as pessoas. Mas não virou cúmplice, não iria se tornar tardiamente "apóstola" numa missão que ela discordava por achar bastante arriscada em tempos violentos como aqueles.
Lembremos também que Maria, "coroa", já era bem enrugada, do contrário que o Catolicismo prega, de que ela teria tido pinta de brotinho até o fim da vida. Naquela época não eram conhecidos tratamentos de beleza que fizessem idosas ou "coroas" terem aparência mais jovial; não era como hoje, em que uma Sandra Bullock vira cinquentona com aparência de gatinha. Os tempos eram mais atrasados.
O que Maria fez foi ser testemunha do legado do filho, e ela, à sua maneira, aconselhava as pessoas a se progredirem moralmente, mas não da maneira militante e audaciosa do filho. Ela não militou, apenas falava com as pessoas a respeito da boa índole do seu filho, como toda mãe faz depois que perde um filho querido.
Com todas as discordâncias, compreensões e incompreensões, Maria só quis mesmo provar, na posteridade da breve vida de Jesus, que ela amava muito o seu filho.
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