terça-feira, 1 de abril de 2014
FEB via na ditadura um meio de cumprir as promessas de livro "espírita"
A roustanguista Federação "Espírita" Brasileira via no golpe militar de 1964 e na ditadura que se seguiu durante pouco mais de duas décadas um meio de se verem cumpridas as promessas escritas no duvidoso livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, de Chico Xavier.
O livro, supostamente atribuído a Humberto de Campos - que nunca iria escrever uma bobagem dessas - , anunciava a predestinação do Brasil como uma pátria espiritualista e dotada de muita fraternidade e amor, dentro da perspectiva que conhecemos do Espiritolicismo.
A FEB achava que o golpe militar era o "remédio amargo" que os brasileiros teriam que enfrentar para resolver o problema da corrupção e da invasão de "ideologias desagregadoras", e julgava que a ditadura militar traria a "democracia e a liberdade necessárias ao país".
É uma visão bastante golpista, porque é exatamente isso que os militares da ditadura diziam. Só que isso, no âmbito do "espiritismo" brasileiro, tornou-se um episódio ainda mais trevoso do que as orbes trevosas do imaginário espiritólico tanto narram em seus livros que garantem a fortuna dos chefões "espíritas".
A FEB, que em tese se compromete à promoção da caridade, do amor, da fraternidade, da união e do progresso espiritual - que não exclui o progresso material, que muitas vezes sugere o exercício terreno do altruísmo e da generosidade em benefício do próximo - , comete aí um dos atos mais deploráveis e constrangedores que se pode imaginar.
Afinal, tanto a FEB quanto sua maior estrela, o anti-médium Chico Xavier, defenderam não só o golpe como a ditadura que se seguiu. Houve gente que defendeu o golpe de 1964, mas que, quando a ditadura se instalou, foram para a oposição ao regime. Mas FEB e Chico ficaram fiéis e Chico defendia a ditadura até quando ela passou a espancar, torturar e matar prisioneiros políticos.
Sim, Chico queria que nós rezemos para que Deus protegesse um regime marcado pela violação mais estúpida dos direitos humanos, que trouxe como legados não o "Reino de Luz" que o "iluminado Chico" tanto falava, mas a corrupção, a crise econômica, o caos.
Teríamos que rezar também para que Deus e "Nosso Senhor Jesus Cristo" protegessem os truculentos algozes do DOI-CÓDI, já que eles também estavam comprometidos, em parte, com a construção do "Reino de Luz" que colocaria o Brasil na vanguarda da moral espiritualista e do progresso humanitário?
Aliás, a FEB esteve muito mais próxima de Pôncio Pilatos, o cruel político romano que mandou Jesus para ser crucificado, sem fazer aquele julgamento que equivocadamente virou "história oficial" através de traduções tendenciosas da Bíblia.
Nem Jesus iria aprovar um regime como a ditadura, até pelos aspectos de egoísmo humano que o autoritarismo, a tortura, a censura e a repressão significavam. E se Jesus não aprovaria, então a aprovação de Chico Xavier faz negar de forma decisiva sua suposta condição de "espírito de luz", "espírito puro" e "homem mais iluminado da face da Terra".
A defesa da ditadura, por parte da FEB e de Chico Xavier, mostra o quanto de mentiras tem, tanto do lado da ditadura, que dizia defender a "democracia" e alterou a data do golpe do Dia da Mentira (01 de abril) para um dia antes, quanto da parte dos "espíritas", já que Chico nasceu um dia depois da incômoda efeméride, mas se adiantou a participar das mentiras produzidas ou patrocinadas pela FEB.
O apoio do "espiritismo" brasileiro à ditadura é uma mancha terrível que o próprio contexto já não estava apropriado para um movimento dito "espiritualizado" assumir. E mostra o quanto esse "espiritismo" é retrógrado, porque se afastou da essência de Allan Kardec, preferindo um confuso espiritualismo que reunia "restos" jogados fora por outras religiões. E que, quando quer e pode, é capaz de defender até mesmo a tirania para se projetar na sociedade.
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