quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Superinteressante cometeu falhas ao analisar "cartas psicografadas" de Chico Xavier


Dias atrás, o blogue Obras Psicografadas, de Vítor Moura, publicou, a título de debate, uma reportagem de Superinteressante - revista da Editora Abril - , que publicou três supostas cartas "inacreditáveis" que o anti-médium Francisco Cândido Xavier "psicografou".

A ideia do texto, de Sílvia Lisboa, é dar a impressão de que Chico Xavier "não tinha acesso" às informações contidas nas cartas, recurso feito até mesmo por "acadêmicos" como Alexander Moreira-Almeida e companhia.

Três supostas psicografias são mencionadas: uma foi atribuída ao espírito do menino Rangel, vulgo Tetéo e outra atribuída a Arthur Joviano, professor que havia falecido em 1934 e cujo filho, Rômulo Joviano, era servidor e chefe de Chico Xavier no posto do Ministério da Agricultura em Pedro Leopoldo. A terceira foi atribuída ao jovem William Figueiredo, morto por doença enquanto servia o Exército.

Na reportagem, Sílvia alega que dados simplórios como o apelido de Rangel ter sido Tetéo e o irmão de William, Wilson, era apegado à boemia, eram "desconhecidos" do anti-médium, assim como detalhes familiares do seu próprio patrão, Rômulo Joviano, no Ministério da Agricultura.

No entanto, esses dados podem ter sido colhidos pela chamada "leitura fria", mesmo que esta tenha sido feita por outros funcionários do "centro espírita" onde Chico Xavier trabalhava. A leitura fria é um recurso de linguagem em que o entrevistador tenta envolver emocionalmente o entrevistado para que ele lhe oferecesse informações mais sutis sobre algo ou alguém.

Talvez o fato de haver colaboradores de Chico Xavier atuando nas entrevistas possa criar o mito de que o anti-médium "não sabia" de informações trazidas por supostas psicografias. Além da atuação de terceiros nas entrevistas ser feita pelo motivo natural de que Chico não teria tempo para ele próprio entrevistar todos, um por um, era uma forma de livrá-lo da responsabilidade da "leitura fria" em muitas entrevistas, dando um aparato de espontaneidade às supostas psicografias.


Acima, a suposta carta do menino Rangel Diniz, trazida pelo Centro "Espírita" da Prece, em Uberaba. Nota-se que, embora a mensagem forje uma linguagem infantil, já que Rangel faleceu aos três anos, em 1983, num acidente de bicicleta, a caligrafia é toda do estilo de Chico Xavier, o que em si põe em xeque a veracidade da mesma. A suposta carta foi publicada em 1984. A título de comparação, reproduzimos a assinatura do anti-médium.


Mensagem atribuída ao professor Arthur Joviano, pai de Rômulo Joviano, patrão de Chico Xavier. A caligrafia, mesmo em letra cursiva ou itálica, segue o mesmo estilo do anti-médium, o que nos fez editar a caligrafia de Chico Xavier para uma forma itálica (usamos o recurso "Distort" do programa de edição de imagens PhotoFiltre 7), o que dá sentido a esta constatação.

Note-se que introdução da mensagem segue o mesmo estilo truncado de outra mensagem supostamente psicográfica, atribuída a outro espírito, Wilsom de Oliveira, que também apresentou dúvidas quanto à alegada veracidade.


Do contrário que alega Sílvia Lisboa, a assinatura do suposto Arthur Joviano não confere com a original. A forma como é escrita a letra "J" é bem diversa, embora a assinatura "psicográfica" tente desenhar a letra de forma mais sofisticada que a original. O “A” de Arthur tenta imitar a grafia original, mas observando com maior atenção, não passa de imitação. E a curvatura do final da assinatura é bem diferente.

Quanto aos dados familiares ligados a Rômulo Joviano e seu pai, essas informações podem ter sido colhidas provavelmente por meio de conversas informais de Chico Xavier com seu patrão, como é de praxe no cotidiano de trabalho. Nem precisa de "leitura fria", porque tais conversas ocorrem várias vezes, por acaso, é praticamente certo que Chico Xavier tenha sido bom funcionário e amigo de seu chefe.

Consta-se que as supostas cartas de Arthur Joviano estão entre as "psicografias" mais antigas de Chico Xavier atribuídas a pessoas não-famosas, e os fragmentos reproduzidos correspondem à data de 13 de janeiro de 1941.



Já estes dois fragmentos correspondem ao adolescente William Figueiredo, que serviu o Exército já com 17 anos, e que, num acidente, feriu o calo de um dos pés num corte, causando uma grave infecção que o matou pouco depois, por gangrena, em setembro de 1941.

A primeira mensagem divulgada, que corresponde ao fragmento, é de outubro daquele mesmo ano. Algo que costuma ser estranho, porque, conforme a Ciência Espírita trazida pelos estudos de Allan Kardec, um espírito, nesse prazo, ainda tem muita dificuldade para se manifestar, e o suposto William já enviava uma carta "serena" como se fosse alguém que estava apenas longe de casa:

"Querida mamãe, peço ao seu bom coração me abençoe e, por minha vez, rogo a Deus que nos ajude a vencer suas lutas de sempre. Sua alma sensível continua atravessando o perigoso mar das provas e prossigo ao seu lado, somando, quando lhe faltam, forças no leme para a condução do barco, sei como lhe dói a tempestade dos últimos dias. Para o espírito materno, as nuvens do horizonte dos filhos são sempre mais pesadas e mais tristes. Multiplicam-se as dores, os receios, as aflições". 

Outro equívoco é a presunção da jornalista de que Chico Xavier "se saiu bem" nas supostas psicografias e que "não teria como saber" dos dados transmitidos. Ela não apresentou um embasamento sério quanto a isso e ainda errou na comparação de duas assinaturas que só têm em comum o fato de apresentarem uma caligrafia bonita.

A reportagem acabou apresentando um tom sensacionalista e nada disse quanto à veracidade das supostas mensagens. Mas aqui observamos os aspectos que foram acima citados e damos uma constatação segura que desagrada severamente os chiquistas.

Asseguramos, portanto, que as três cartas foram tão somente escritas por Chico Xavier, vindas de sua própria mente e as informações teriam sido trazidas por diversos colaboradores de seu trabalho, assim como de conversas que Chico teve com seu patrão no funcionalismo público de Pedro Leopoldo.

E isso foi fruto apenas de uma simples observação e pesquisa, com o máximo de objetividade e com os mesmos critérios usados por Allan Kardec quando recebeu de outros médiuns supostas mensagens espirituais. Analisamos e simplesmente vimos que essas três "psicografias" nada tiveram de psicográficas.

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