sábado, 5 de setembro de 2015

"Espiritismo" brasileiro é incapaz de resolver as tensões sociais

A REALIDADE É COMPLEXA DEMAIS PARA FICARMOS APENAS DE MÃOS DADAS.

O "espiritismo" brasileiro tornou-se incapaz de resolver os problemas e as tensões sociais num país complexo como o nosso. Sua promessa de transformação moral foi por água abaixo, pelos defeitos mostrados pela doutrina brasileira, que se distanciou do alegado vínculo a Allan Kardec, condição que se reduz à letra "desencarnada".

Isso porque o cientificismo de Kardec foi traído, tanto pelo religiosismo extremado dos "espíritas", numa herança mal-disfarçada do Catolicismo português de moldes medievais, quanto pela mediunidade mal-estudada que lança mão de fraudes, protegidas pela carregadíssima mensagem religiosa, como se mentir em nome da fraternidade resolvesse alguma coisa.

Diante das crises e dos retrocessos sofridos pelo país, tudo o que os "espíritas" fizeram apenas é aceitar qualquer cilada e sorrir para os opressores. Não há um equilíbrio de interesses nem de necessidades, mas um desequilíbrio que precisa ser aceito e consentido, de forma até infantilizada, como se o opressor fosse "ingênuo" nos seus abusos e crueldades.

Palestras e palestras se desperdiçam pedindo apenas que demos as mãos aos nossos algozes, que oremos para que eles olhem para a gente de forma compassiva, que eles cedam de seus interesses mesquinhos e considerem nossas necessidades.

Tudo isso só resulta em mediocridade. Os egoístas já "cedem" em "nosso benefício". "Democratizam" seu autoritarismo consultando-nos de que forma queremos que as medidas impostas por eles se expressem.

Eles lançam paliativos para tornar a opressão "menos opressiva", o transtorno "menos incômodo", o prejuízo "menos nocivo", sem que deixemos de ser oprimidos, transtornados e prejudicados. Para manter seus interesses, os algozes fingem serem bonzinhos, quando estão sempre em vantagem.

Não se trata de transformação moral o que os "espíritas" pedem para nós. Pelo contrário. O mito da "reforma íntima", tão lindamente anunciado, é na verdade uma farsa que consiste apenas em pedir para que aguentemos os retrocessos e "reeduquemos" nossas almas para abrir mão até das mais essenciais necessidades, se for preciso.

E isso não só acoberta ou mostra consentimento com as injustiças sociais - como se a hipótese delas terminarem daqui a cem anos fosse "daqui a pouco" - como se mostra cruel e injusta ao seu modo, porque a "teologia do sofrimento" que o "espiritismo" extraiu do Catolicismo se torna mais cruel que sua fonte de inspiração.

Dizer que o "sofrimento é lindo", que precisamos aguentar toda opressão "com fé e resignação", sofrer "amando" e acreditando na tal "vida futura" que não conhecemos e por isso não temos ideia do que se trata, é muito fácil, quando os líderes "espíritas" estão no seu bem bom, de palestras bem remuneradas e livros e vídeos idem.

Se nossas necessidades não são atendidas na encarnação presente, se nossos projetos pessoais são abortados, não é a garantia da vida futura, da reencarnação, que irão assegurar o atendimento dessas necessidades. Em cem anos, tudo muda, e, se a reencarnação existe, cada encarnação, todavia, é única.

Os tempos mudam, a complexidade da vida mostra isso. Se em vinte anos as pessoas veem ruírem muitos sonhos e perspectivas, se uma catástrofe pode tirar uma cidade do mapa em poucos minutos, adiar os planos de uma encarnação para outra pode se revelar uma tarefa impossível.

Daí a crueldade da moral "espírita". Se deixamos de fazer algo por causa do infortúnio, muito provavelmente deixamos de fazê-lo para sempre. Teríamos que refazer todos os planos, repensar todas as necessidades, porque a vida futura será muito diferente da nossa, para melhor ou para pior.

Os "espíritas", sádicos, acham que tudo será melhor. Eles se apoiam no ideal positivista, já que Auguste Comte é mais valorizado pelos "espíritas" do que Allan Kardec. Diante dos retrocessos de hoje, em que nosso desejo de progresso é bloqueado por barreiras praticamente intransponíveis, o progresso de amanhã precisa ser repensado para a outra encarnação.

Isso porque, se levarmos os retrocessos adiante, os próprios algozes irão se apropriar dos prodígios abortados, das causas de justiça social, deturpando-as, sabotando-as ou apenas adotando os pontos mais inócuos, usando a revolução social vedada dos outros em causa própria.

Projetos de transformação social são paulatinamente absorvidos por aqueles que os condenavam, mediante algum oportunismo pessoal ou alguma pressão das circunstâncias. O que poderia parecer um processo aprofundado e integral torna-se lento e gradual, mas comprometido pelo tendenciosismo, a justiça social vira moeda de autopromoção dos que sempre defendiam injustiças.

Daí que a sociedade muda, mesmo nessa forma tão perniciosa, e aqueles que queriam transformar o mundo no limite de uma encarnação terão que repensar seus planos, ou ir a mundos mais evoluídos, o que geralmente ocorre, para que possam, pelo menos, executar seus projetos de vida com um menor risco de alteração.

O Brasil, em que os medíocres querem ser mais geniais que os gênios, a situação é terrível. Aceitar as injustiças, as arbitrariedades e os infortúnios é algo que não traz transformação da alma, antes fosse um sentimento masoquista de aceitar tudo regredindo, enquanto nos reduzimos a meros animais a sobreviver, e não viver mais.

A "reforma íntima" reduz as pessoas a animais que, pelo menos, diferem, não mais pela capacidade de raciocinar de forma crítica, mas somente pela capacidade de orar. O que é muito inócuo e inútil diante das faculdades que a Natureza deu à espécie humana.

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