Falecida há cinco anos, na manhã de 20 de dezembro de 2009, em Los Angeles (EUA) - no Brasil, era o começo da tarde - , com apenas 32 anos, a atriz norte-americana Brittany Murphy traz uma lição curiosa sobre a ilusão das reputações numa realidade tão complexa quanto a nossa.
Atualmente ligada tão somente à cobertura sensacionalista de sua tragédia - na qual fatos verídicos são superestimados e até acrescidos a inverdades e mesmo dados inventados pelos jornalistas - , Brittany tornou-se o inverso do que se observa no "movimento espírita" brasileiro.
O "movimento espírita" brasileiro é famoso por sua elevada reputação, pelo seu status de doutrina superior, conceituada institucionalmente e dotada do mais alto nível moral, tido como doutrina que, em tese, une com equilibrada perfeição elementos da Ciência e da Religião, sendo vista oficialmente como adaptação criativa das ideias codificadas na França por Allan Kardec.
Brittany Murphy, juntando estigmas verdadeiros com outros irreais, acumula em si uma "péssima imagem" de atriz temperamental, medíocre e relapsa, neurótica e depressiva, viciada em remédios (e, segundo uns, por drogas, fato desmentido até por exames médicos) e cujo pai, Angelo Bertolotti, havia sido preso por atividades ligadas à máfia.
Para se somar a essa tragédia deprimente que ronda a bela atriz, há também o histórico sombrio de seu marido, o produtor e roteirista inglês Simon Monjack, que antes de conhecê-la já havia sido preso por passar cheques sem fundo e que, no final da vida de Brittany, ele havia traído a esposa repassando parte do salário dela para sustentar ex-namoradas.
Além disso, a própria morte da atriz é coberta de rumores assombrosos: ela teria sido envenenada? Ela e seu marido foram vítimas de um atentado? Simon teria envenenado a própria esposa, depois que ela descobriu sua traição? Ele teria se casado por causa da fortuna dela? Ou teria sido a Máfia que assassinou o hoje falecido casal?
Vendo todo esse roteiro, é certo que o pior lado, o pior exemplo de vida estaria do lado da jovem atriz de As Patricinhas de Beverly Hills (Clueless) e Grande Menina, Pequena Mulher (Uptown Girls), ao passo que os louros ficam sempre do lado de figuras aparentemente maravilhosas como Chico Xavier e Divaldo Franco, correto?
Erradíssimo. Pois o "espiritismo" brasileiro, de projeções tão melífluas, aparentemente inabalável e docilmente triunfante, foi responsável por uma série de fraudes e irregularidades gravíssimas, que viraram até caso de polícia e de batalhas judiciais sérias, além de seu conteúdo ideológico apresentar ainda valores moralistas dignos de julgamentos cruéis da Idade Média.
Chico Xavier, o "espírito puro" associado a uma imagem de "confiabilidade plena e inabalável", esteve associado a práticas de plágios literários e à cumplicidade de fraudes de materialização, situações complicadas que, se não fosse o status do anti-médium mineiro, o teriam arruinado para sempre.
Já a "toda problemática" Brittany Murphy, na verdade, era uma brilhante atriz, excelente cantora e produtora cinematográfica, e, como figura humana, surpreendia a todos pela sua personalidade alegre e divertida, pelo seu jeito carinhoso e uma índole bastante generosa e admirável.
Há quem diga que Divaldo Franco "matou" Brittany, porque quando ela seguia a ponte aérea Los Angeles-Nova York-Londres (ela gravava o filme britânico Amor e Outros Desastres (Love and Other Disasters)), o anti-médium baiano estava em turnê entre a Europa e EUA. Não se sabe como tais caminhos foram cruzados, mas consta-se que o "espiritismo" brasileiro traz azar para muita gente.
Isso porque Brittany, depois, teria sofrido os mesmos efeitos daqueles que gozam dos "benefícios" do "espiritismo" brasileiro, criando aparentes benefícios - Britt passou a morar numa mansão em Hollywood Hills e se casou com Monjack, aparentemente especializado numa função prestigiada que é a de produtor de cinema - que, depois, revelaram seu aspecto nocivo e trágico.
Brittany estava indo bem e se destacando até como cantora - ela havia participado, com sucesso, num disco do DJ inglês Paul Oakenfold - , quando, depois do casamento, deixou de ter a projeção que tinha e caminhou para uma decadência que propiciou sua tragédia.
E logo Brittany que seria a última pessoa a sofrer uma tragédia dessas. Ela tinha muitos projetos de vida e muita alegria de viver. Com apenas 32 anos, era cheia de planos e tinha um potencial enorme para expressar seu talento de maneira peculiar e exemplar.
Como figura humana, era muitíssimo adorável, como garantem ex-colegas da atriz, como Ashton Kutcher e Dakota Fanning, e profisisonais como os cineastas Amy Heckerling e Frank Miller (este também cartunista), que sempre destacaram, com segurança, o ótimo talento e excelente caráter que tinha a saudosa colega.
Num mundo poluído de baixas vibrações, seja pelo capitalismo, pela herança do Catolicismo medieval e, no Brasil, com o reforço das energias pesadas do "espiritismo" brasileiro, nota-se que pessoas especiais acabam morrendo no meio do caminho, e a ausência de tais pessoas é complicada pela falta de chances de estudar o Espiritismo a sério.
Se houvesse um estudo sério, sem as "boas energias" e "brilhantes figuras" do "espiritismo" brasileiro, teríamos levado adiante estudos sérios sobre comunicação com os espíritos e, quem sabe, a ausência de pessoas como Britt, bem à frente de seu tempo, seriam amenizadas pela Trans-Comunicação Instrumental.
Agora, uma coisa é certa. Brittany, que era agnóstica, não é do tipo de aparecer através dos pretensos médiuns brasileiros para fazer panfletarismo religioso com as mesmas tediosas mensagens de "amor e caridade". Se um "médium" desses aparecer com uma mensagem atribuída à Brittany Murphy, é bom deixar o desconfiômetro ligado.
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