quarta-feira, 31 de dezembro de 2014
"Movimento espírita" fez apelações diversas em 2014
Abalada com o crescimento das reações que há muito tempo acontecem contra as deturpações ocorridas na Doutrina Espírita, a Federação "Espírita" Brasileira celebrou 130 anos menos em comemoração à sua trajetória do que em lançamento de novos produtos de marketing para recuperar o prestígio da instituição.
Em que pesem as promessas, nos últimos 40 anos, de manter fidelidade às bases doutrinárias de Allan Kardec, nunca se cometeu tanta traição à sua doutrina. Nem mesmo os traidores de carteirinha, Chico Xavier e Divaldo Franco (que cinicamente juraram falsa fidelidade a Kardec, já nos anos 70 e 80), iriam tão longe.
Fora da rota febiana, o astro da "mediunidade de mercado", Robson Pinheiro, que através de um suposto espírito Ângelo Inácio, criou uma imagem debiloide de Cazuza em sua suposta vida espiritual, teve um plágio identificado por um texto do portal Obras Psicografadas.
Querendo estabelecer uma conciliação entre a umbanda e o "espiritismo" que ele aprendeu "de forma independente" com Chico Xavier e seus amigos, Robson também seguiu a "metodologia" do anti-médium mineiro, de plagiar obras literárias apenas rearrumando as palavras.
O livro Aruanda, também escrito em nome de Ângelo Inácio, teria sido plagiado de dois livros terrenos sobre a cultura religiosa africana, Orixás, do famoso fotógrafo francês, que passou boa parte de sua vida na Bahia, Pierre Verger, e Iemanjá e Oxum, de Lydia Cabrera.
Mesmo que Robson tenha citado Verger (mas não Lydia) em uma nota explicativa, o plágio ocorreu, uma vez que boa parte dos trechos plagiados foram escritos sob o pretexto de terem sido mensagens do tal espírito Ângelo Inácio. Uma amostra desse plágio pode ser notada aqui:
- Examinemos Oxóssi – prosseguiu Pai João. – Irmão de Ogum, na mitologia, o arquétipo de Oxóssi é bem diverso. Representa as pessoas espertas, rápidas, donas de notável agilidade, sempre em alerta e em movimento. Cheias de iniciativa, estão sempre em busca de novas descobertas e novas atividades, mas possuem grande senso de responsabilidade e de cuidado com a família. (Pinheiro, pág. 154)
O arquétipo de Oxossi é o das pessoas espertas, rápidas, sempre alerta e em movimento. São pessoas cheias de iniciativas e sempre em vias de novas descobertas ou de novas atividades. Têm o senso de responsabilidade e dos cuidados para com a família. (Verger, pág. 54)
Dentro do perímetro febiano, as apelações foram sempre no sentido do sensacionalismo e da pieguice, e, da parte da própria FEB, os produtos diretamente relacionados à instituição estão mais próximos de um caráter retrospectivo do que de algum verdadeiro ineditismo.
Com isso, foram lançadas publicações como Allan Kardec para Todos e a série Evangelho por Emmanuel, o primeiro sintetizando as traduções dos livros de Kardec por Guillón Ribeiro, e o segundo é uma seleção de textos de Emmanuel distribuídos em volumes temáticos referentes ao Novo Testamento.
Mesmo o recém-lançado livro Fé e Vida, obra "inédita" da aparente psicografia de Chico Xavier, é uma coletânea de textos diversos, longe de ser um material "realmente novo" que teria sido deixado pelo anti-médium mineiro, cuja maior apelação se daria num documentário cujo apoio da FEB é explícito, porém indireto.
Trata-se do documentário Data-Limite Segundo Chico Xavier, de Fábio Medeiros, em que um sonhozinho de nada, de algumas poucas horas de sono, foi transformado num "profetismo" pretensamente científico, encaixando muito bem nos desvarios sensacionalistas do chamado "movimento espírita" brasileiro.
O documentário, que na verdade segue rigorosamente os princípios "proféticos" de Jean-Baptiste Roustaing, supõe prever, entre outras coisas, a destruição da Europa, EUA e Ásia e a promoção do Brasil como nação mais poderosa do planeta, "previsão" que esconde intenções de supremacia do "espiritismo da FEB", o Catolicismo medieval redivivo que faria o Brasil um novo Império Romano.
A reboque, temos também o livro Nossa Nova Caminhada, suposta psicografia de quatro diferentes "médiuns" - como se isso em si fosse garantir os critérios do Controle Universal dos Ensinamentos dos Espíritos, criado por Allan Kardec - atribuída a parte das vítimas da tragédia da boate Kiss, ocorrida em janeiro de 2013.
O livro já peca pelo carregadíssimo apelo religioso, que cria um discurso solene e formal demais para ser realmente atribuído aos espíritos dos jovens mortos. A obra também serviu para autopromoção de um dos "médiuns", o esperto Carlos Bacceli, ex-figurão da FEB.
Só que irregularidades observadas na suposta assinatura de uma das vítimas, a jovem Stéfani Posser Simeoni, com o prenome escrito rasurado (escreveu-se o "Sp" em vez de "St") e o nome todo reescrito abaixo, dão forte indício de fraude.
Para o público infantil, a apelação foi dada pelo livro Meu Pequeno Evangelho, parceria de Maurício de Sousa com dos membros da FEB, em que Allan Kardec literalmente leva uma violenta coelhada de Sansão, o bichinho de estimação que Mônica usa para abater Cebolinha e Cascão toda vez que eles chamam a garota de "baixinha, gorducha e dentuça".
O livro pretende ensinar a Doutrina Espírita para as crianças mas nem de longe cumpre seu recado, se limitando a pregar, com mensagens piegas e conservadoras, um reles religiosismo moralista, a pretexto de trazer lições de "amor, fraternidade e caridade".
Tais apelações mostram que o "movimento espírita" tenta resistir a todo custo, jurando fidelidade a Allan Kardec mas traindo-o a todo momento, o que nos faz pensar como será a Contra-Reforma dos medievais "espíritas" brasileiros para 2015.
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