quarta-feira, 4 de maio de 2016

Religião nem sempre pode tudo

EDUARDO CUNHA, O "TODO-PODEROSO" PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DEPUTADOS.

A "bancada da Bíblia", integrante do bloco parlamentar mais reacionário do Congresso Nacional, a "bancada BBB" - Bíblia (evangélicos), Bala (policiais e entidades armamentistas) e Boi (latifundiários) - , acha que pode tudo e conceber um Brasil que só eles acreditam.

Representados pelo presidente da Câmara dos Deputados, o prepotente Eduardo Cunha - ele mesmo um evangélico - , ansioso em governar o país nas viagens do futuro presidente Michel Temer (os dois são articuladores do impeachment da presidenta Dilma Rousseff), a "bancada evangélica" anda tramando propostas obscurantistas, comprometidas com o retrocesso social do país.

Chegaram mesmo a tentar mudar o princípio da Constituição, no parágrafo único do Artigo 1º, trocando a expressão "todo poder emana do povo" para "todo poder emana de Deus", desafiando a condição democrática do Estado laico, que não depende de crenças nem movimentos religiosos.

A bancada - oficialmente denominada Frente Parlamentar Evangélica - esteve diante de uma polêmica recente, que é a autorização, prevista na PEC (Proposta de Emenda Constitucional) do deputado João Campos (PSDB-GO), o mesmo que se tornou famoso pela "cura gay", das igrejas questionarem regras ou leis junto ao Supremo Tribunal Federal.

Sim, as igrejas se tornam, com isso, uma espécie de poder paralelo junto ao Poder Judiciário, com o poder de decisão equiparado ao maior órgão dessa esfera de poder, se caso a PEC fosse aprovada. Isso é ruim porque a religião acaba agindo em total prepotência ao interferir nas atividades políticas do Brasil.

A bancada evangélica está relacionada a muitas pautas reacionárias, como a proposta de definir família apenas quando há um casal de marido e mulher. Casais homoafetivos e mães solteiras ou descasadas, ou mesmo pais que criam sozinhos os filhos, não podem ser considerados "família". A proposta não foi aprovada mas é uma das bandeiras da FPE.

Junta-se a tudo isso o obscurantismo social de Michel Temer, o parceiro de Eduardo Cunha no golpismo político, cujo governo implantará medidas reacionárias como a desvalorização do salário mínimo, o fim da mediação da legislação sobre negociações trabalhistas (o patrão pode decidir o que quer sobre o trabalhador, sob a desculpa do "livre diálogo"), e os cortes em investimentos sociais.

E O "ESPIRITISMO", COM ISSO?

A bancada evangélica se ascendeu quando a mídia associada, já arrendando horários em emissoras de rádio e TV, teve como marco a compra, por parte de Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus, da histórica Rede Record, comandada pela TV Record de São Paulo, uma das mais antigas emissoras de televisão que estão no ar atualmente, surgida em 1953.

As seitas cresceram, se multiplicaram e criaram até mesmo dissidências. E seitas se apropriaram de veículos de comunicação como complemento da politicagem que havia se apropriado dos mesmos, principalmente a partir dos anos 1980.

Isso fez com que os evangélicos levassem vantagem na competição para derrubar a supremacia da Igreja Católica. O "movimento espírita", que apenas eventualmente se une aos evangélicos em causas como o combate ao aborto, está em desvantagem nesta disputa.

E o que os "espíritas" têm a dizer com essa situação? Da maneira mais simplória possível. Eles irão dizer que, depois do impeachment, resta orarmos pelos novos governantes e pedir para que eles considerem os princípios de fraternidade e amor ao próximo, trabalhando em prol destas finalidades.

Como dizer assim é muito fácil, e é muito fácil forjar fraternidade num ambiente de profundas desigualdades e injustiças, então o governo Temer irá acolher os "espíritas" com "generosidade". Desde que todos troquem elogios, gentilezas e sorrisos, tudo bem.

É muito fácil forjar fraternidade dentro desse contexto porque basta pedir aos sofredores que aguentem suas desgraças e supliquem a eles misericórdia aos algozes que abusam em seus privilégios. Para o sofredor, o "espiritismo" defende que "é melhor" dar do que receber misericórdia, pois os sacrifícios, por mais que estejam acima da capacidade do sofredor, são "um caminho seguro" para a "purificação espiritual".

A desculpa para a defesa das desgraças é que a "verdadeira vida" não é aqui. É certo que existe mundo espiritual e vida espiritual, mas a concepção que se tem entre nós é misteriosa e desconhecida. Além disso, soa muito perverso defender os sofrimentos, usando a "vida futura" como desculpa para que desperdicemos uma encarnação inteira com infortúnios.

Daí, tanto faz para os "espíritas" essa vida qualquer nota. E a desculpa da "fraternidade" só complica as coisas, porque "aceitar" e "acreditar" não contribuem para resolver os retrocessos observados no Brasil. Pelo contrário.

Se esperarmos a "outra vida" ou a "vida futura" para melhorar as coisas, será terrível, porque seria esperar uma melhoria num futuro que não temos a menor ideia do que seja. Acreditar que o "incerto" irá nos salvar será cair numa nova perdição.

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