terça-feira, 31 de maio de 2016

"Espiritismo" protege poder da Rede Globo


O "espiritismo" é, como fenômeno religioso atual, um subproduto da Rede Globo. Evidentemente, não é criação da mídia da família Marinho, que antes era hostil a essa doutrina igrejista, mas foi a famosa rede televisiva, famosa pelo seu poder manipulador, que contribuiu decisivamente para a imunidade que essa religião deturpadora e hipócrita tem no Brasil e outras partes do mundo.

É graças à Globo que o "espiritismo" tornou-se "intocável". Graças ao poder hipnótico da Globo, os mitos de Chico Xavier e Divaldo Franco se consolidaram, cresceram e se tornaram invulneráveis, isso partindo da mesma corporação que trata Luís Inácio Lula da Silva como a "encarnação do mal".

As pessoas não percebem que a Globo insere no inconsciente coletivo, até de parte de seus detratores, muitos hábitos e formas de ver o mundo, o que torna o poder da corporação midiática ainda mais perigoso.

Até o vocabulário é manipulado, lembrando a "novilíngua" de 1984, de George Orwell, na qual gírias e jargões são criados para empobrecer o vocabulário (tal qual na obra orwelliana). A indigesta gíria "balada", que causa estranheza por não ter a vida naturalmente efêmera e os limites grupais de uma gíria de verdade, é o maior símbolo dessa manipulação.

Lançada pela Jovem Pan FM - rádio hoje conhecida pelo reacionarismo extremo, que fez a emissora ser apelidada de "Klu-Klux-Pan" - e popularizada por Luciano Huck, que tinha um programa na rádio e hoje é um dos maiores astros da Rede Globo, a gíria "balada", surgida de um trocadilho eufemista com drogas em forma de pílulas, tem um significado vago que varia de uma apresentação de DJ a um jantar entre amigos.

Há também a opção preciosista da expressão "cliente", que substituiu a expressão freguês, numa "novilíngua do bem" que tenta dar uma promoção ao "freguês". Até quem compra um pacote de biscoitos de um ambulante virou "cliente", quando o termo, antes, era específico para pessoas que usavam serviços como bancos, assistência jurídica e consultas médicas.

A Globo dita o gosto musical - como a breguice musical que conhecemos ou a MPB que é autorizada a fazer sucesso entre o grande público - , o vestuário das pessoas, o comportamento dos jovens, a visão analítica da política brasileira. A Globo é um monstro moral, e o alcance dela é ainda mais monstruoso quando se observa a influência em parte de seus detratores.

Muitos assimilam os valores da Globo como se eles fossem naturais, fizessem parte da rotina espontânea das pessoas. Daí a postura constrangedora de pessoas que nem parecem odiar a Globo mas que ficam nas mídias sociais com uma suposta postura de oposição, se promovendo com a adesão a bandeiras de protesto como "O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo" e "A realidade é dura, a Rede Globo apoiou a ditadura".

No "espiritismo", a ideia de promover a idolatria a Chico Xavier e Divaldo Franco revela a intenção da Globo de concorrer com a religiosa Rede Record sem no entanto usar uma roupagem claramente religiosa. Observa-se que o "espiritismo" não é mais do que um "Catolicismo à paisana" de crenças sobrenaturais, o que favorece ser usado para a Globo para manipular a fé das pessoas.

Só que as pessoas não percebem isso. É verdade que os ídolos "espíritas" também encontram outras mídias, incluindo a TV paga, para divulgarem seus dogmas, mas a Globo é o reduto central de renovação de símbolos e paradigmas que cercam essa doutrina igrejeira.

É bom deixar claro que, se Chico Xavier é um mito glorificado no Brasil, deve-se agradecer à Rede Globo. O mito foi criado e alimentado por Antônio Wantuil de Freitas, presidente da FEB, mas de forma atrapalhada que deixou vazar escândalos. Mas foi a Globo que solidificou esse mito e o reforçou com estereótipos conservadores ligados ao amor e à caridade.

Ninguém deve esquecer que, se Chico Xavier é adorado, é porque houve uma manipulação ideológica que a Rede Globo lançou em seus noticiários e documentários, com os mesmos elementos que foram trazidos do documentário Algo Bonito para Deus (Something Beautiful for God), que Malcolm Muggeridge dirigiu e apresentou para a BBC, a respeito de Madre Teresa de Calcutá.

O "milagre da Kodak", já que o documentário britânico de 1969 se serviu de tecnologias avançadas de registro da imagem sob a famosa marca, permitiu transformar Madre Teresa de Calcutá em "ícone da caridade", escondendo aspectos sombrios como o descaso que ela fazia com seus alojados em suas "casas de caridade".

A "missionária" sendo saudada por multidões em sua chegada. A "missionária" carregando um bebê no colo. A "missionária" acolhendo um idoso doente deitado na cama. A "missionária" lançando frases de efeito - geralmente, formas adocicadas de princípios da Teologia do Sofrimento, coisas do tipo "é na pior desgraça que se encontra o caminho da salvação" - que viram "lições de sabedoria" etc.

Tudo isso foi adotado por Chico Xavier, numa revisão "limpa" de seu mito, antes ligado a escândalos mal dissimulados, como as denúncias de pastiches literários, fraudes de materialização, a ameaça de denúncias do sobrinho Amauri, o envolvimento com a farsa de Otília Diogo, fora outras coisas que poucos se esquecem, como o catastrofismo da "data-limite" e o perverso julgamento de valor contra as humildes vítimas do incêndio em um circo de Niterói, acusadas de "romanos sanguinários".

O próprio Chico Xavier e, por associação, seu congênere Divaldo Franco, servem como instrumentos de manipulação da Rede Globo. Em momentos de tensão política, como o final da ditadura militar, e, mais recentemente, as crises políticas de 2013 até agora, o "espiritismo" é a água com açúcar moralista que tenta frear os movimentos sociais de maneira "dócil" e "bondosa".

Como um "Catolicismo à paisana", o "espiritismo" não desperta suspeitas e pode manipular religiosamente sem que as pessoas percebam. "Desce macio" no inconsciente coletivo; E, além disso, não chama a atenção da Rede Record porque a concorrência religiosa é muito mais sutil, como uma operação de guerra em que os soldados se escondem em camuflagens.

A exemplo da equipe de Michel Temer e dos deputados federais e senadores que prepararam seu terreno, o "espiritismo" também se envolve na "arte" de inocentar acusados condenáveis, enquanto condena pessoas vítimas de vagas e infundadas suspeitas.

A equipe de Michel Temer tem indiciados pela Operação Lava-Jato e outros. Sua base de apoio inclui políticos que variam de espancadores de ex-mulheres a assassinos de agricultores, passando por grileiros, cobradores de propinas, correntistas de paraísos fiscais e outros casos graves.

Todos, porém, foram "legitimados" - fora alguns punidos aqui e ali e, mesmo assim, de forma branda a permitir que eles continuem agindo nos bastidores, como o deputado suspenso Eduardo Cunha - , e agem como se estivessem trabalhando pela mais rigorosa legalidade.

Mas é o Brasil em que Chico Xavier realizou pastiches literários grotescos e passou a ser promovido com o "foro privilegiado" dos ídolos religiosos, convertido num quase deus aos olhos de seus deslumbrados seguidores. Ele virou um "intocável" e, inimigo interno do Espiritismo (pregava o oposto ao pensamento original de Kardec), o "médium" mineiro é tido por muitos como "seguidor rigorosamente fiel (sic) à Doutrina Espírita".

Repetimos. Se Chico Xavier é idolatrado, seus seguidores deveriam pensar duas vezes antes de atacar a Rede Globo, porque foi ela que influiu nisso. Devem evitar gafes como o de uma blogueira de esquerda que reclamou do "boicote da Globo" ao filme As Mães de Chico Xavier, se esquecendo que a Globo nunca iria boicotar uma produção da Globo Filmes, da mesma companhia.

Escrevemos isso nos baseando em fatos. A Globo fez uma parceria com a FEB, depois que a TV Tupi, antiga parceira, foi extinta, e se inspirou no documentário de Malcolm Muggeridge para recriar o mito de Chico Xavier.

Tudo isso é uma construção de discurso, uma fábrica de ideologia, que ganha sentido num país em que o deslumbramento religioso é uma doença infantil. Graças a isso, um esquisito paranormal que plagiava livros construiu um caminho que o levou a uma "divinização" difícil de desfazer. Tudo por causa da fé religiosa que leva muitos a essa cegueira.

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