sábado, 21 de maio de 2016

Estranho mercado de trabalho que subestima o talento

PARA MUITAS EMPRESAS, O EMPREGADO PADRÃO DEVE TER, ANTES DE MAIS NADA, O HUMOR CÍNICO DE DANILO GENTILI.

Estranho país em que os medíocres se dão melhor do que as pessoas de talento. Salvo honrosas exceções, o mercado de trabalho no Brasil está tão tomado de mediocridade que hoje o que importa, para se obter um emprego, não é o talento nem a vocação, mas o "jogo de cintura".

Depois da onda do "veterano júnior", aquele critério maluco de exigir pessoas com baixa idade e muita experiência de trabalho - só faltava contratar bebês de seis meses que tivessem, no mínimo, três anos de experiência profissional (não se leva em conta encarnações passadas, vale lembrar) - , agora se tem o profissional-humorista, não necessariamente talentoso, mas dentro do padrão "sociável".

No Sul e Sudeste, regiões que estão tomadas de profundos e acelerados retrocessos sociais - o Estado do Rio de Janeiro sucumbiu a uma decadência vexaminosa de fazer matuto do Acre ficar boquiaberto - , o mercado de trabalho parece não ligar muito para pessoas talentosas, geralmente mais talentosas que gerentes, diretores de empresas e membros do departamento de recursos humanos.

O desemprego é grande e, nesse contexto de suposta crise econômica - em que as elites escondem o dinheiro que roubaram (sim, é a mesma elite que tomou o poder, com Michel Temer) e inventam que há crise para tirar dinheiro do povo ainda mais com as tais privatizações e cortes nos gastos públicos - , as pessoas que têm talento para uma coisa são obrigadas a se especializar em outra.

No "espiritismo", isso é moleza. Para os "bondosos espíritas", pimenta nos olhos dos outros é refresco. Faltou o "divino" Chico Xavier dizer coisas do tipo "quando a pimenta arde dolorosamente nos olhos de alguém, é sinal que uma nova visão se clareia no horizonte, e se a pessoa é impedida de enxergar o mundo, ao menos poderá enxergar a luz maior de Deus e de Nosso Senhor Jesus Cristo".

Segundo o "espiritismo", tanto faz a pessoa ter vocação para X e ter que trabalhar na função Y. E não se fala em busca de versatilidade ou de variação de atividades, mas sim da pessoa que é forçada a fazer algo que não sabe fazer, porque o que sabe não encontra oportunidade de realização.

É a vida "qualquer nota". O "espiritismo" despreza a vida material, ignora a individualidade humana, até pelo fato das "psicografias" e "psicofonias", além das pinturas "mediúnicas", que produz não têm, nem de longe, os estilos pessoais dos autores falecidos alegados.

Para o "espiritismo", tanto faz perder uma encarnação com infortúnios pesados e sacrifícios exaustivos. Tanto faz encarar tragédias à toa, desgraças surgidas do nada. Achando que a "verdadeira vida" é no além-túmulo - o que é verdadeiro - , isso todavia não significa que a pessoa possa perder uma encarnação inteira virando "capacho do destino".

Isso mostra o quanto a religião é insensível. Ela fala em ajuda, fraternidade, solidariedade, mas o circo das palavras bonitinhas não é a prática dos atos concretos e firmes. Até porque se pede demais "fraternidade", mas não se dá. E, vendo o caráter moralista e igrejista do "espiritismo", dá para perceber o quanto esta religião não ajuda.

E, neste contexto ruim de recessão extrema, em que se exige demais do que não tem enquanto quase nada se cobra do que têm demais, o mercado de trabalho é reflexo de um país com overdose de fé e níveis anoréxicos de razão e bom senso.

O mercado de trabalho quer um trabalhador comediante, que não necessariamente seja criativo. Seja, sim, uma pessoa de acordo com o perfil da empresa, que obedeça uma lógica de trabalho, sem acrescentar muito de talento pessoal, mas que tenha senso de humor um tanto cínico para contar piadas com os colegas.

É um cara que tem que torcer por futebol, ter uma anedota pronta, o que distorce a natural descontração que um profissional, como em qualquer ambiente social, deve ter com os amigos. Porque não se trata mais de uma descontração espontânea, mas uma obrigação de trabalho, de ser brincalhão não pela natural situação do momento, mas como uma regra de trabalho.

O mercado de trabalho é "mão de vaca", e muitos "nãos" são ditos para quem tem talento e poderia salvar as empresas de falência ou cortes de gastos. A empresa que rejeita um rapaz que parece tímido numa entrevista de emprego ou se atrapalha num teste psicológico acaba rejeitando justamente aquele que iria fazer a companhia crescer, atrair mais renda, se destacar no mercado.

Perdidas em clichês como a "boa aparência" - um "mauricinho" branco tem mais chance de obter emprego do que um "nerd" mulato ou um branco de cabelos crespos - ou a "experiência" - um bully com mais tempo de emprego leva mais vantagem, assim como o boçal de pouca idade - , as empresas acabam ficando confusas na hora da crise, e contratam profissionais insossos em detrimento dos talentosos que ficam no olho da rua.

Isso é mal, porque o vício do Brasil de manter o jogo das aparências - no "espiritismo" temos o endeusamento de espertalhões como Chico Xavier e Divaldo Franco, por causa da aparência "dócil" e das palavras "com sabor de mel" - faz com que as pessoas obtenham prejuízos diversos, com péssimas escolhas mediante o sabor das conveniências.

Desta forma, as pessoas colhem pedras pintadas de ouro e acham que levam preciosidades. Fazem escolhas motivadas pelo status, pela posição social e pela aparência "bonita", achando que isso protegerá suas rendas e privilégios, quando na verdade isso lhes traz prejuízos diversos. Acabam evitando o melhor e sucumbindo ao pior, apegados às aparências e ao status social.

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