domingo, 19 de outubro de 2014

Por que as profecias de Chico Xavier são equivocadas?


O sensacionalismo com que cerca o "movimento espírita" brasileiro, com toda a certeza, apela para surtos de pretensiosismo nas tentativas de julgar as pessoas - logo eles que pedem para os outros "não julgarem - e de prever o futuro, mostrando a arrogância de seus líderes e celebridades em quererem ser os "donos dos mortos" e os "senhores do tempo".

O "espiritismo" brasileiro há muito desviou-se do caminho seguro de Allan Kardec, esse professor tão bajulado, que recebe juras falsas de fidelidade e é evocado até para justificar e explicar aquilo que o mestre de Lyon nunca iria defender. O "espiritismo" brasileiro é, assim, hipócrita, porque beija a mão de Kardec e o apunhala pelas costas.

O que seus integrantes mais destacados fazem é um engodo que envolve desde moralismo religioso até previsões esotéricas, adotando o pior arremedo de ciência e fazendo com que um grupo de cidadãos seja tomado de estrelismo e de pretensão de estar com a verdade, mesmo sem declarar tal intento, mas ficando sempre com a última palavra, a pretexto de receber mensagens do além.

A "previsão" de Chico Xavier já é equivocada em diversos aspectos. Sabe-se que elas vieram desde 1969, diante da onírica e fantasiosa "reunião" dos "espíritos benfeitores" e Chico Xavier, algo tão verídico quanto as "viagens" que os jovens faziam em Woodstock, na mesma época.

Allan Kardec adverte, principalmente em livros como A Gênese e Obras Póstumas, que tentar prever o futuro é uma tarefa arriscada, já que o livre-arbítrio segue caminhos diversos, conforme as estruturas de privilégios e injustiças, benefícios e prejuízos, que se tornam imprevisíveis na humanidade.

Marcar datas para a ocorrência de fatos decisivos é muito complicado e nem sempre dá certo, e mesmo a alegação de Geraldo Lemos Neto de que Chico Xavier "preveu" o crescimento da Petrobras é risível, uma vez que a meta de crescimento da Petrobras era coisa que se desejava há tempos, seu crescimento não foi uma realização de uma profecia, mas fruto de um trabalho.

MÉTODO EQUIVOCADO

O próprio método de lançar previsões é equivocado, porque não há uma análise científica. Pode ter sido apenas um sonho de Chico Xavier, anunciado como se fosse uma "reunião", pois Chico tinha suas manias delirantes, ele idolatrava mortos precoces (como Humberto de Campos e Meimei) e se apropriava indevidamente do carisma deles, e via "profecias" em meros sonhos.

Chico, que falhava muito, errando, hesitando ou contradizendo, muito além da conta para ser chamado de líder de qualquer coisa, foi promovido, gratuitamente, a médium, filósofo, professor, profeta e cientista, sem possuir plenamente as habilidades a ele atribuídas oficialmente.

Empurrado para responsabilidades que no fundo era incapaz de assumir, só falta ele virar vice-deus, porque ele é praticamente visto como um semi-deus por seus adeptos. Um péssimo aluno de Allan Kardec, que seguramente definimos como ignorante no kardecismo, e cuja mitologia o impulsiona a ser até "senhor do tempo".

É só verificar o que é "previsto" no livro Não Será em 2012, de Geraldo Lemos Neto e Marlene Nobre, e no documentário indiretamente derivado Data Limite, Segundo Chico Xavier, de Fábio Medeiros, para que nós, com toda a segurança, contestemos Chico Xavier com inabalável firmeza.

Além de marcar datas certas para transformações, Chico se arroga de rogar aos países europeus, asiáticos e norte-americanos um futuro de catástrofes violentas, a ponto de fazê-las tornarem-se inabitáveis, transformando o problemático Brasil, ainda sofrendo muitos retrocessos de ordem política, econômica, cultural, moral etc, num "eldorado" do amanhã.

"PÁTRIA DO EVANGELHO" SUBENTENDE IMPÉRIO MEDIEVAL

O Brasil será o "reino de luz" da "provecia" xavieriana, sobrecarregando seu território com os exilados do Hemisfério Norte, mas por trás desse discurso melífluo há a intenção de transformar o Brasil num império prepotente, a "Pátria do Evangelho" como um eufemismo para um país tomado de mediocridade sócio, política e cultural, apegado a dogmas católicos medievais.

Ou seja, a mensagem subliminar as "previsões" de Chico Xavier, um católico ideologicamente conservador, revela que, na verdade, não haverá um progresso social com a ascensão do Brasil na comunidade das nações, mas tão somente a subordinação do Brasil a um religiosismo medieval - o "espiritismo" de bases jesuítas - e a supremacia desse religiosismo sobre o resto do mundo.

Mesmo a evocação de "avanços científicos" e "progressos culturais" são apenas formas de dizer que o "espiritismo" brasileiro, caso atinja a tão sonhada supremacia, coopte cientistas e intelectuais para seguirem um padrão de crenças, dogmas e procedimentos associados a aspectos moralistas, pragmáticos e de cunho teocrático, tecnocrático e politicamente oligárquico.

Com tais "previsões", Chico Xavier foi 100% fiel a Jean-Baptiste Roustaing redivivo, renascido nas ideias do "anjo Ismael", o "pai" do conceito de "Pátria do Evangelho". E foi 0% Allan Kardec, por ter arriscado marcar datas certas a longo prazo, através de um misticismo esotérico em que nada de critérios científicos são sequer cogitados, até porque seria impossível.

O futuro da sociedade não se move só por tempestades ou castigos morais. Se move pelos processos naturais e nem sempre conflituosos de ordem antropológica, sociológica, histórica e biológica. Mesmo muitos dos fenômenos violentos da Natureza são consequência dos interesses mesquinhos de lucro do ser humano, e se consequências são trágicas, não é por algum castigo de ordem divina.

O que há, por exemplo, são outros fatores. Se há erupção vulcânica, é porque o solo conta com idade geológica recente, que também provoca terremotos devido a suas falhas. Se há temporais acima do esperado, é porque o homem provoca tantas queimadas e desmatamentos que provoca reações químicas que possibilitam essas tempestades.

Chico, porém, queria atribuir isso à "fúria da Natureza", alter-ego do antigo "Deus punitivo" do Catolicismo medieval. Uma "fúria" pronta a "destruir o Velho Mundo" tal qual se queimavam hereges e livros e folhetos proibidos pela "Santa Igreja", em prol de um Catolicismo medieval redivivo pelo rótulo de "espírita" a promover a mundialização dos retrocessos que já ocorrem no Brasil.

Desse modo, haverá tecnocracia que desviará a ciência para preceitos autoritários de interesse privativo de "especialistas". Haverá a teocracia reciclada pelo "espiritismo" de moldes jesuítas. Haverá o pragmatismo de valores em que a qualidade de vida é limitada à mera sobrevivência biológica e um certo castramento moral movido pela fé cega mística e dominadora.

É isso que se move o "espiritismo" e as supostas "profecias" de um interiorano de Pedro Leopoldo, migrado depois para Uberaba, e que não teve os dons verdadeiros de promover ciência, filosofia, meteorologia, sociologia e outros ramos do conhecimento.

Chico era, tão somente, um católico de palavras dóceis que, pelos seus estereótipos ligados à humildade interiorana e, depois, da velhice, fez com que muitos de seus seguidores o idealizassem mais do que ele era, atribuindo a ele habilidades que ele não tinha.

Com toda a segurança, dizemos: as "profecias" de Chico Xavier não têm validade, porque são apenas um amontoado de apostas de ordem opinativa, mística, moralista e vindas provavelmente de um sonho, desses que qualquer pessoa tem quando dorme. E que, portanto, nada têm a ver com ciência nem com profecias autênticas sobre o futuro da humanidade. Professor Kardec o reprovaria na certa.

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