LIVRO DE CHICO XAVIER, NA PRÁTICA, SINTETIZA E ADAPTA, PARA O CONTEXTO BRASILEIRO, AS IDEIAS DE JEAN-BAPTISTE ROUSTAING.
Nunca Chico Xavier foi tão fiel a Jean-Baptiste Roustaing quanto em suas "profecias", divulgadas recentemente pelo documentário Data Limite, Segundo Chico Xavier, em que se nota que, fora os pontos mais polêmicos, o advogado de Bordeaux continua conduzindo o "movimento espírita" brasileiro até hoje.
Nem mesmo as tentativas de Chico Xavier e Emmanuel tentarem agradar os kardecistas autênticos, num momento ou em outro, se aproveitando do fato de Chico ser amigo de Herculano Pires - que, todavia, sempre ficou preocupado com os maus procedimentos do mineiro - , definido de forma bajulatória por Emmanuel como o "metro que melhor mediu Kardec", fizeram afastar o anti-médium mineiro das bases católicas de Roustaing.
Isso tanto é certo que as "profecias" que fizeram Chico Xavier ser reconhecido pelos incautos não só como "médium" e "pensador", mas também como "profeta", "professor" e "cientista", são carregadas de todos os "presságios" do "anjo Ismael", o "espírito" que teria traduzido os ideais de Roustaing para a realidade brasileira.
Analisando com muita cautela e observação as ideias de Chico Xavier, mesmo quando de suas posturas pretensamente "kardecistas", a fidelidade a Roustaing é notória e pode-se seguramente dizer que, depois dos escândalos que "queimaram" o advogado de Bordeaux, não foi mais preciso apreciar Os Quatro Evangelhos, já devidamente adaptados no Brasil pela literatura associada a Xavier.
Se Os Quatro Evangelhos previa a "união de todas as religiões" em prol de um catolicismo neo-medieval de cunho espiritualista, as "profecias" de Chico Xavier "preveem" a "união de todos os povos do mundo no Brasil", com a "destruição do Hemisfério Norte", e de "todas as suas culturas" em torno de uma "mesma espiritualidade cristã" através do "espiritismo" brasileiro.
É a mesma coisa. O "espiritismo" brasileiro, surgido com bases teóricas fundamentadas no catolicismo medieval português, diferindo deste apenas no que se diz à "tolerância" de outras crenças - mas dentro do método de "inculturação" trazido pelos jesuítas lusitanos no Brasil colonial - , segue o mesmo suposto ecletismo pensado por Roustaing.
Esse suposto ecletismo, na verdade, é algo que os mais tendenciosos almejam. Absorver as mais ecléticas correntes e expressões, para criar uma "doutrina unificada", uma centralização que mais separa pela "união", eliminando a diversidade por uma visão católica medieval da "união de povos e de crenças", todos "com um mesmo Pai", nenhum com suas próprias identidades pessoais.
A visão totalitária de um Brasil centralizado no mundo, convertido num novo império dominante, exílio da rancorosa ideia de destruição dos Estados Unidos, da Europa e da Ásia, talvez por conta do maior número de agnósticos e ateus, ou pela alta produção de questionamentos que a prosperidade econômica traz, até pelas desilusões das promessas capitalistas não cumpridas.
Afinal, atualmente se questionam desde os distúrbios de ordem social - como os raciais, nos EUA - até mesmo o consumismo e o fanatismo político-religioso, como nos confrontos do Oriente Médio. Além do mais, estadunidenses, europeus e asiáticos também procuram repensar os padrões de Educação, Economia e de valores morais, não sem problemas, mas com autocrítica e discernimento.
RETROCESSO DO "ESTABELECIDO"
Aqui no Brasil, porém, o que se nota é que os vários focos de retrocesso existentes em várias esferas de atividades humanas sempre contam com alguma blindagem de adeptos intelectuais ou de internautas reacionários.
Qualquer baixaria possui algum fanático defensor que, se depender do caso, é capaz de criar um blogue inteiro para "zoar" quem não concorda com ele, despejando pesadas ofensas pessoais. O "estabelecido" da degradação sócio-cultural brasileira possui seus "cães de guarda" ferozes, e só agora a Justiça começa a se preocupar com esse vandalismo digital.
Mas isso tudo é problemático no nosso país. O Brasil não tem condições de ser vanguarda de coisa alguma. O que temos de oferecer como "vanguarda cultural" para o mundo? O "funk"? Só que isso tem muito a ver com a mentalidade que é o nosso "espiritismo", e que glúteos funqueiros estão mais relacionados com os "viajores e caminheiros" das "searas de amor e luz" do que se imagina.
É a mesma relação do antigo carnevale com a austeridade católica na Idade Média. O carnevale, origem do Carnaval, era um feriado religioso no qual se liberavam momentaneamente os instintos, em que o profano encontra seu razoável espaço de expressão, como meio de se manifestar a catarse coletiva numa breve "inversão" de valores.
Assim, o "funk" seria o carnevale da religiosidade "espírita", em que o espiritualismo cedia espaço para os mais intensos instintos sexuais e outros próprios do sentimento catártico de "extravasar" e "botar tudo para fora". No projeto do "coração do mundo", as pessoas cumpririam sua religiosidade no "espiritismo" da FEB e, nos festejos, "desceria até o chão".
"DIVERSIDADE" É DESCULPA
Num projeto de país em que se padronizam corações e mentes, gostos e crenças e até mesmo pinturas de empresas de ônibus, promovido pelas mentes que o "espiritismo" define como de "elevado nível técnico" e "elevada inclinação progressista", a ideia de diversidade, na prática ameaçada de banimento, serve apenas de desculpa para as supostas profecias do "homem-amor" que tem frases enfeitando perfis no Facebook.
Defende-se no discurso o que se combate violentamente na prática. O Brasil criou o pior tipo de armadilha, a das palavras, das meias-verdades, capazes de desmentir com argumentos o que se faz e continua fazendo nos procedimentos.
Com isso, as argumentações pseudo-científicas das falsas previsões de Chico Xavier, no fundo dotadas do mais alto grau de sensacionalismo e predição esotérica, tentam usar o pretexto da diversidade cultural e étnica do Brasil para tentar amenizar o caráter totalitário da ideia de Brasil como "potência máxima" da "comunidade das nações" (com Europa, Ásia e EUA reduzidos a ruínas).
Afinal, o que se pode constatar, através dessa arrogante medida de julgar o futuro, trazida pelo jesuíta Emmanuel, que era racista, machista e antissemita, e divulgada por um dito médium mineiro que apoiou a ditadura militar e a eleição de Fernando Collor, é algo que nada tem de progressista, que nada tem de futurista, e que nada tem de realmente solidário e fraterno na face da Terra.
O que Chico Xavier quis dizer, por trás de suas palavrinhas "doces", foi o seguinte: o Catolicismo medieval, há muito tentando recuperar sua supremacia na Terra, encontra no Brasil seu terreno fértil para uma nova Contrarreforma de grandes proporções, criando ao mesmo tempo um novo Império Romano e um novo Catolicismo, dentro de uma Idade Média reformulada pelos contextos atuais.
A Idade Média repaginada consistiria em transformar o Brasil num novo mega-Império, absorvendo outras crenças e outras culturas para nelas impor o Catolicismo Romano redivivo, apenas "adaptado aos novos tempos", tendo como doutrina econômica o Neoliberalismo e como religião o "espiritismo" ideologicamente "codificado" pela FEB e por uma versão mais moderada do roustanguismo.
Portanto, as "profecias" de Chico Xavier nada têm de Allan Kardec. Nem chegam sequer perto. Mas elas têm tudo de Jean-Baptiste Rostaing, porque preveem a volta do Catolicismo medieval e do Império Romano repaginados conforme os contextos atuais - de tecnocracia, alta tecnologia, consumismo e "liberdade sexual" - , tomando o Brasil como território-base desse Império.
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