O "MOVIMENTO ESPÍRITA" BRASILEIRO RETOMA O MITO DO "CASTIGO DIVINO" DOS CATÓLICOS, USANDO COMO EXEMPLO A TSUNAMI NA ÁSIA EM 2004.
É muito perigoso transformar um pobre interiorano num semi-deus. Pois é isso que aconteceu com Chico Xavier, um modesto jovem mineiro, leitor de livros e devoto católico, que só por causa de alguns dons paranormais e pelo fato de conversar com a mãe falecida e com um padre jesuíta, foi promovido a posições que estiveram acima de seus limites humanos.
Sem conhecer coisa alguma da Doutrina Espírita, Chico virou "líder máximo" do Espiritismo. Médium razoável, a ele foram atribuídos superpoderes que na verdade ele não tinha tanto assim, como o mito dele ter sido o "Speed Racer da escrita mediúnica". Ele apenas conversava com jesuíta do além, com mãezinha falecida, "sonhava" acordado e poucas habilidades a mais.
No entanto, ele não só foi promovido a supermédium como virou dublê de pensador, com suas frases enfeitando perfis de gente em boa-fé no Facebook. De dublê de filósofo, virou pretenso profeta, a anunciar até mesmo o "fim dos tempos", de pretenso profeta virou suposto cientista, a "analisar" os rumos da humanidade, e de suposto cientista arrogou a ser o juíz final da Terra.
Sim, isso é altamente perigoso. E sabemos que o mito de Francisco Cândido Xavier foi armado pela Federação "Espírita" Brasileira, primeiramente nas bases explícitas do roustanguismo mais entusiasmado. E quando a crise do roustanguismo tornou-se insustentável, Xavier foi oportunista o bastante para pegar carona nos que reivindicavam fidelidade a Allan Kardec.
O "movimento espírita", através de mensagens ditadas pelo padre jesuíta Emmanuel - o Ermano Manuel da Nóbrega que queria desviar as tribos indígenas de suas culturas originais, escravizando-as no trabalho ou ao menos na fé do Catolicismo medieval português - , queria que nós, pobres mortais, não façamos julgamento dos atos referentes ao "movimento espírita".
"Não julgueis", escreveu certa vez Emmanuel. Mas ele, Chico Xavier e seus pares julgavam muito mais. E julgavam pior. De repente o "movimento espírita" tornou-se um movimento cujos líderes e astros - os ditos "médiuns" - viram donos dos mortos, juízes do tempo, sentenciadores do passado e senhores do futuro, num grave delito à natureza humana.
Eles queriam ser sobrenaturais, queriam estar acima do bem e do mal, ter a verdade em suas mãos, ficar com a última palavra. Não adianta a falsa modéstia desmentir isso, porque a prática muitas vezes escapa do repertório de dicionários e dos limites dos vocábulos. Os piores atos muitas vezes tentam se esconder pelo desmentimento fácil de palavras dóceis.
O que se nota é essa mania de julgar, de se apropriar da ciência sem entendê-la de fato. Há muitos maus conhecedores de ciências, no "movimento espírita", que tentam fazer-se entendedores daquilo que não sabem, fazendo pretensas previsões, falsos pareceres, corrompendo compreensões ligeiras e superficiais com delírios místicos, rancores moralistas e muito pedantismo.
DEUS PUNITIVO
A coisa é tão grave que o "movimento espírita" acabou resgatando o já esquecido mito do "Deus punitivo", agora restaurado pelas pretensas "profecias" de Chico Xavier, que havia feito previsões que inspiraram o livro Não Será em 2012, de Geraldo Lemos Neto e Marlene Nobre, e o filme Data Limite, Segundo Chico Xavier, de Fábio Medeiros.
Chico atribui à "punição da Natureza" a ocorrência de cataclismas feitos para punir o abuso violento dos homens. Segundo o anti-médium, a ocorrência de terremotos, ciclones, erupções vulcânicas e tsunamis é uma resposta à Natureza à falta de amor dos homens diante das ameaças de Terceira Guerra Mundial expressas pelo terrorismo e por focos diversos de ações violentas.
A interpretação é moralista, mística e esotérica. Afinal, se percebemos bem, os cataclismas ocorrem por intervenção humana, sim, mas por conta da poluição e da degradação ambiental, cujo desequilíbrio mexe com a estrutura dos elementos químicos, da diversidade biológica e geológica, causando os efeitos danosos próprios.
Além disso, a ocorrência de tsunamis, tremores e vendavais diversos e erupções vulcânicas não se deve a algum julgamento moralista, mas ao fato de que as estruturas geológicas localizadas em várias partes da Terra, como na Ásia e no oeste de todo o continente americano, são consideradas bastante recentes.
A "ira de Deus" que marcava os católicos medievais e impulsionava até as mais sanguinárias cruzadas a lutarem em defesa do que acreditavam ser o Cristianismo, volta através de Chico Xavier agora usando o nome do kardecismo para se voltar contra Allan Kardec, que havia dado palpites mais realistas sobre os rumos da humanidade.
Sem apelar para datas marcadas nem para cataclismas violentos e muito menos para um sensacionalismo pseudo-profético, Kardec apenas previu que a humanidade sofreria conflitos e injustiças, produzindo tragédias consequentes naturalmente pelos seus erros graves e se limitou a dizer que a evolução humana na Terra seria lenta e gradual, sem arriscar detalhes.
Já Chico Xavier, que não tinha a instrução nem a sabedoria de Kardec mas era dotado de altíssimo grau de pretensiosismo, teve o cinismo de "prever" até mesmo a destruição do Hemisfério Norte, o grande êxodo de seus sobreviventes para o Brasil e a conversão deste país em que vivemos em centro de reconstrução da humanidade na Terra.
Chico pareceu desejar prever um "imperialismo brasileiro", dentro de seu moralismo religioso. O anti-médium mineiro, mesmo bajulando Allan Kardec e se autoproclamando "fiel" a ele, mantém-se, na verdade, fiel ao "anjo Ismael", nas suas previsões do brasilocentrismo, num ufanismo um tanto hipócrita, porque a espiritualidade não tem pátrias nem limites territoriais de qualquer espécie.
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