sábado, 4 de outubro de 2014
Documentário se dedica a suposta profecia de Chico Xavier
Existe um ditado popular que diz: "não se deve meter o nariz onde não é chamado", que nos faz pensar a respeito do mito que se tornou o anti-médium Francisco Cândido Xavier, com toda certeza um dos homens que mais trabalharam contra a integridade da Doutrina Espírita de Allan Kardec.
Pois Chico Xavier era apenas um interiorano mineiro, católico fervoroso e apenas dotado de uma limitadíssima mediunidade - entre seus poucos dons, via um antigo padre jesuíta e conversava mentalmente com ele - e para o qual foram atribuídos dons e responsabilidades que ele, na verdade, nunca teve.
De um católico fervoroso e paranormal, Chico foi promovido a líder de uma doutrina, no caso o Espiritismo, que ele no fundo nunca entendeu direito. Pior: ele passou a ser considerado, também, um dublê de filósofo, um arremedo de profeta e, ainda por cima, um pastiche de cientista.
Ou seja, Chico Xavier meteu seu nariz onde nunca foi chamado, e foi além. E um de seus episódios é tema do documentário Data Limite, Segundo Chico Xavier, com filme promocional já divulgado e dirigido por Fábio Medeiros, Rebeca Casagrande e Juliano Pozati.
O documentário tem pretensão "científica" de abordar o momento em que, após a chegada do homem ao solo da Lua, em 20 de julho de 1969, uma reunião de vários espíritos desencarnados, tidos como Espíritos Puros e Eleitos do Senhor (?!?!), se reuniram para discutir os rumos da humanidade nos próximos 50 anos a partir de então.
Na suposta reunião, compareceram Emmanuel e o único encarnado que tinha era Chico Xavier. O dito "governador da Terra", Jesus - referido por Xavier pelo título católico de Nosso Senhor Jesus Cristo - , teria comandado a reunião dos "seres angelicais do nosso Sistema Solar", para discutir os meios de "evitar uma Terceira Guerra Mundial".
A reunião é narrada no livro Não Será em 2012, que Marlene Nobre e Geraldo Lemos Neto lançaram há três anos atrás, e que, com base nos critérios espiritólicos de "marcação de datas para mudanças profundas", como se eles fossem os "donos do futuro", e Geraldo, conhecido também como Geraldinho, cita a frase que Chico Xavier havia dito para ele, quando o escritor entrevistou o anti-médium para a Folha Espírita, em 1986:
"Nosso Senhor deliberou conceder uma moratória de 50 anos à sociedade terrena(4), a iniciar-se em 20 de julho de 1969, e, portanto, a findar-se em julho de 2019. Ordenou Jesus, então, que seus emissários celestes se empenhassem mais diretamente na manutenção da paz entre os povos e as nações terrestres, com a finalidade de colaborar para que nós ingressássemos mais rapidamente na comunidade planetária do Sistema Solar, como um mundo mais regenerado, ao final desse período".
Evidentemente, o livro pauta o documentário de Fábio Medeiros - o diretor "titular" do filme - que entrevista, entre outras personalidades, outro anti-médium, o baiano Divaldo Franco, também um entusiasta de marcar datas para transformações profundas da humanidade.
Diz a sinopse do filme, que mistura moralismo religioso, conceitos esotéricos e arremedos de conhecimento científico, que diversos "fatos e conexões históricas, agora, apontam que a data limite está próxima, promovendo a reflexão sobre a grandeza do universo e que a posssibilidade do surgimento de uma nova era é cada vez maior".
A suposta profecia de Chico Xavier sugere que o suposto Jesus - com certeza o caricato e choroso Jesus de Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho - teria dado à Terra uma moratória de 50 anos, contados daquela data de 1969, para que a humanidade se evoluísse moralmente (no sentido religioso do termo) e evitasse uma Terceira Guerra Mundial.
TESE CONTRÁRIA AOS PRINCÍPIOS DE ALLAN KARDEC
No entanto, o tema do referido documentário de Fábio Medeiros e do livro de Geraldo Lemos Neto, que é a tal reunião dos "espíritos benfeitores" - que, segundo Chico, havia sido prevista por Emmanuel em 1938 - , vai contra os princípios de Allan Kardec, que não defendia a marcação prévia de datas para fatos de grandes mudanças de qualquer natureza.
O livre-arbítrio revela conflitos de interesses, decisões e hesitações, alianças e conflitos e todo um leque diverso de escolhas que fazem com que seja até possível prever alguma tendência provável de mudança em tempos futuros, mas geralmente isso é cogitável a curto prazo, ou seja, só se pode prever com segurança o que pode ocorrer dentro de pouco tempo adiante. Previsões a longo prazo são muito mais arriscadas de fazer.
A longo prazo, porém, a previsão torna-se muito difícil. Nos últimos anos, já se previu o "fim do mundo" em 2000 e 2012 e nada aconteceu que justificasse tais previsões. E as tais "conexões históricas" de que diz o filme Data Limite, Segundo Chico Xavier não sugerem exatamente se o ano de 2019, o suposto ano dessas transformações, será realmente decisivo. Pode até não ser.
Se as transformações da humanidade acontecem, é pelos rumos que as decisões humanas fazem, para o bem e para o mal. Além disso, se a "profecia científica" de Chico Xavier queria prevenir sobre a Terceira Guerra Mundial, algumas abordagens sobre os conflitos no Oriente Médio já sugerem esse confronto, remanescente dos antigos conflitos da Guerra Fria encerrados há 25 anos.
As mudanças sociais, tão conflituosas e imprevisíveis, não podem ser previstas com uma antecedência de 50 anos. No seu tempo, Allan Kardec não previa os rumos da humanidade futura, porque não cabia a ele decidir o destino da humanidade. E, além disso, se existem intensas mobilizações sociais na Terra, elas escapam das perspectivas de qualquer religião, mesmo o "espiritismo" de Chico Xavier.
PÉSSIMO ALUNO DE KARDEC
O que podemos dizer, não só com esse episódio, mas com tantos outros, é que Chico Xavier foi um péssimo aluno de Allan Kardec, seguramente um dos piores e dos mais faltosos às lições valiosas do pedagogo francês.
Chico não passou mesmo de um interiorano que era católico fanático e que mantinha contatos com um padre jesuíta falecido há muito tempo. No entanto, ele foi promovido a "líder espírita", "filósofo", "profeta" e até "cientista", sem ter sequer a competência mínima para, mesmo de forma ligeira e superficial, assumir tais especialidades.
Portanto, se Xavier estivesse na escola espírita do professor francês, teria não só levado muitos zeros nas provas, como sua reprovação teria sido preocupante, o que, nos padrões da educação brasileira, faria o anti-médium mineiro ter repetido de ano, sem passar em provas de recuperação.
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