terça-feira, 21 de outubro de 2014

A dependência psicológica dos espíritas críticos a Chico Xavier e Divaldo Franco

CHICO XAVIER E DIVALDO FRANCO, DURANTE UM EVENTO "ESPÍRITA".

Há uma preocupante situação, mesmo nos setores mais críticos dos espíritas, aqueles que se mobilizam para manter a maior fidelidade possível às ideias de Allan Kardec, que tendem a uma postura condescendente às figuras dos anti-médiuns Chico Xavier e Divaldo Franco.

Juntos, os dois fizeram mais do que Jean-Baptiste Roustaing na deturpação da Doutrina Espírita e no afastamento das lições originais de Allan Kardec, de tal forma que soa muito estranho que haja setores do Espiritismo que preguem a fidelidade ao professor lionês e a apreciação dos dois anti-médiuns.

Carregados de religiosismo conservador, Chico e Divaldo transformaram o Espiritismo num espetáculo, num mero entretenimento a adoçar a emotividade das pessoas, enquanto se diziam pedir maior respeito à doutrina de Kardec, eles que são os primeiros a desrespeitá-la.

Através dos dois, o Espiritismo do Brasil foi distorcido e adulterado de tal forma que hoje as pesquisas em torno das comunicações espirituais foram paralisadas, porque não há um incentivo grande. Outras pessoas, a partir dos exemplos dos dois senhores - ultimamente, de apenas um deles - , brincam de se comunicar com espíritos, usando suas fantasias igrejistas.

Muito se fala em favor da ciência, muitas vezes interpretando seus ramos de conhecimento de forma confusa e delirante, ou de forma pedante e superficial. É muito fácil ilustrar textos de periódicos e anúncios de seminários ditos "espíritas" com figuras da anatomia humana ou de cenários cósmicos.

O maior problema que existe no Brasil, e não é exclusivo do "espiritismo" que é feito aqui é uma visão viciada que confunde desinformação com originalidade. Tornamo-nos não portadores de uma leitural local, quando distorcemos as novidades de fora e desviamos de sua essência original. Estamos nos tornando, sim, provincianos.

Sempre somos tentados a aceitar penetras em uma festa. O cara não foi convidado e não quis ir, mas depois que a festa acontece ele vai, se infiltra em algum acesso, e quando damos conta, ele está dentro do ambiente e, de tanto chamar a atenção, torna-se o "dono da festa".

E aí, quando queremos recuperar o sentido original das coisas, aceitamos manter diluidores que ainda gozam de alta reputação. Temos medo de contestá-los, primeiro pela alta popularidade que possuem, segundo porque eles diluem com algum senso de esperteza, de tal forma que eles tentam vincular suas imagens à causa original, que eles foram os primeiros a se afastarem de sua essência.

Daí esse medo, que tem muito com o temor da perda de alguma visibilidade, prestígio ou mesmo dinheiro. Medo de desagradar as pessoas. Medo de perder vantagens pessoais. Daí a mania brasileira de diluir as novidades, as novas causas, num suposto "meio-termo" entre o velho e o novo, num equilíbrio de aparência que mostra desequilíbrio na essência.

Isso cria consequências ruins. Se queremos resolver a deturpação de uma causa nova, mas mantivemos os maiores diluidores imunes a críticas e repulsas pesadas, mantendo-os na esperança de nos ajudarem a recuperar a causa na sua essência original, o efeito soa exatamente o contrário.

A causa original apenas é precariamente recuperada, com alguma brecha aqui e ali, alguma promessa de melhorias futuras, e uma certa condescendência conciliatória, em que mestres pioneiros e diluidores mais prestigiados se "aguentam" em prol de uma aliança que pretende "equilibrar" a situação diminuindo o grau de diluição e assimilando um pouco mais a essência original.

Ele não ocorre sem tensões. Afinal, os diluidores mantém-se de pé, e o interesse deles é que a causa original seja mesmo deturpada. As tentativas de recuperação ficam comprometidas, sendo elas superficiais, confusas, contraditórias.

No "espiritismo" brasileiro, é o que se nota quando os científicos, que são a corrente que prega a fidelidade máxima às ideias de Allan Kardec (o que não impede uma adaptação brasileira dentro dessas condições), parecem complacentes com as atitudes de Chico Xavier e Divaldo Franco.

Eles continuam prevalecendo, com todo seu religiosismo, tudo porque eles personificam estereótipos que reúnem aspectos díspares porém convergentes como velhice, experiência, humildade e erudição. Ninguém quer tirá-los de seus pedestais, mesmo admitindo que eles "até erraram muito".

Mas aí o grave prejuízo é que, em vez de recuperarmos as bases doutrinárias, criamos um "roustanguismo sem Roustaing" e um "kardecismo com Chico Xavier", fazendo do Espiritismo que é feito no Brasil uma doutrina esquizofrênica e maluca.

A dependência psicológica dos críticos do "espiritismo" febiano aos seus maiores astros só faz com que o caminho da doutrina não se volte totalmente às bases de Kardec, mas permanecesse num meio caminho entre um cientificismo razoavelmente apreciado e um religiosismo ainda exaltado.

De que adianta ler as traduções das obras kardecianas por Herculano Pires e pedirmos maior cobertura de temas científicos, se num dado momento o coração amolece, os instintos se afrouxam e vem a tentação de darmos ouvidos às palavras de Emmanuel ou atribuídas a André Luiz?

Se reagirmos com indignação aos "criptógamos carnudos" de Roustaing mas sentimos fascínio por supor haver gatinhos e cachorrinhos fofinhos e pássaros graciosos no mundo espiritual, então de nada adiantou reclamar fidelidade a Kardec, se continuamos o traindo pelas costas.

Por isso é que, mantendo Chico Xavier e Divaldo Franco na reputação espírita é reafirmar o afastamento das bases doutrinárias, porque os dois simbolizam a deturpação, a falta de firmeza e tantos erros e fraudes cometidos sob o rótulo de espiritismo. Não podemos acender a vela para dois senhores: ou fiquemos com Kardec, ou com Chico e Divaldo. Com dois lados juntos, não dá.

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