sábado, 17 de maio de 2014

Emmanuel errou: textos originais do Evangelho estão perdidos

MARCOS TERIA SIDO O PRIMEIRO A ESCREVER OS CAPÍTULOS QUE CONSTITUEM O EVANGELHO, PARTE INTEGRANTE DO NOVO TESTAMENTO.

Uma das provas contundentes que Emmanuel não teria vivido nos tempos de Jesus é a série de contradições e equívocos, vários deles gravíssimos, que contrariam fatos e informações realmente relacionadas à época do jovem ativista judeu e mesmo de tempos posteriores no Império Romano.

Um desses equívocos mostra a completa desinformação que o "mentor" de Chico Xavier tem em relação aos textos bíblicos, entre as quais a suposição de que continuam existindo os textos originais do Evangelho escritos por Marcos, Mateus, Lucas e João.

Esta desinformação consta no livro O Consolador, que Emmanuel, através da pena de Xavier, trouxe para publicação em 1941, pela editora da FEB. O trecho em questão é reproduzido abaixo e os questionamentos que fizemos se baseiam em informações do historiador Lair Amaro, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Segue o trecho:

"A grafia original dos Evangelhos já representa, em si mesma, a própria tradução do ensino de Jesus, considerando-se que essa tarefa foi delegada aos seus apóstolos".

O que Amaro relata é que os textos originais dos Evangelhos - a gente pode defini-los no plural, Evangelhos, se referirmos às obras individuais, ou no singular, Evangelho, como compilação de todo esse trabalho - não estão mais entre nós, como muitos dos textos e livros que se produziram na Antiguidade e em tempos posteriores, como os de Jesus e boa parte da Idade Média.

Os textos, que já são posteriores à vida de Jesus, teriam sido escritos provavelmente a partir de alguns anos antes da destruição do Segundo Tempo de Jerusalém, em 70 d.C, na chamada Guerra Judaico-Romana que durou de 66 a 73. Esta data seria a época em que Marcos teria escrito o seu Evangelho (nome que quer dizer "boa nova", no grego, a partir da palavra "euangelion").

Há controvérsias sobre se Marcos teria sido o mais antigo ou se ele havia resumido os relatos de outros evangelistas, como Mateus e Lucas (João teria sido o último a escrever um Evangelho). Mas muitos historiadores, em que pese o fato do Evangelho de São Marcos ser o mais curto, afirmam que há fortes indícios de que ele teria sido o primeiro a escrever tais textos.

Neste sentido, Marcos teria influenciado Mateus e Lucas, que teriam se aprofundado nas pesquisas para seus trabalhos, usando os textos de Marcos como fonte primária para os mesmos. A partir dessa hipótese, considerada a mais provável, Marcos teria escrito o Evangelho na primeira década de 60 da nossa era.

No entanto, alguns pesquisadores alegam que os textos do Evangelho de São Marcos aparecem sem registro de sua autoria, o que faz alguns pensarem que nem sequer Marcos teria sido seu autor, sendo, neste caso, uma autoria apócrifa.

Em todo caso, os textos que se preservaram teriam sido reproduções, já que os textos originais, que já não haviam sido escritos em aramaico, idioma falado por Jesus, e eram posteriores à morte do ativista, mas sim em grego, haviam sido perdidos. A cópia mais antiga dos Evangelhos que nos resta data de 125 e é um pequeno fragmento que tem o tamanho de um cartão de crédito.

REPORTAGENS?

Há quem diga que os trabalhos dos evangelistas teriam sido um misto de reportagens com trabalhos de historiadores, embora aspectos mitológicos ou surreais sejam identificados em suas obras, pelo menos da forma de suas traduções mais acessíveis, fontes para os livros que nos são acessíveis atualmente.

Mateus, João Evangelista (obviamente não se deve ser confundido com o primo de Jesus, João Batista) e Marcos teriam convivido com Jesus. Já Lucas não conviveu com o ativista, tendo apenas convivido com apóstolos que haviam sido companheiros de Jesus.

Em todo o caso, os quatro autores colheram diversos relatos de gente que viveu a época, três deles tomaram como base seus testemunhos sobre Jesus e em suas obras inseriram o que compreendiam das lições que o mestre judeu deixou para a posteridade.

Pode até ter que os livros originais tivessem sido uma espécie de reportagens, à sua maneira e dentro do nível de compreensão da produção dos textos. Evidentemente, não existia o jornalismo tal como o conhecemos, mas o processo e o propósito se aproximam do que hoje entendemos como os livros de reportagens.

Além do problema de não se ter mais os textos originais, há também o problema das traduções medievais, sobretudo de uma crença católica criada por imperadores romanos, o que deturpou seriamente os ensinamentos e a natureza de Jesus, já que o Império Romano duplamente eliminou o chamado cristianismo primitivo.

Esse extermínio se deu, primeiro, com a condenação, sob diversas formas, de seus seguidores e pregadores à morte, e, segundo, pela tendenciosa reabilitação de Jesus, feita para atender aos interesses das elites imperiais.

ERROS E ERROS

Portanto, pode-se acreditar que, com as deturpações promovidas pelo Catolicismo medieval, lançado pelo Império Romano, se deu a visão surreal de muitos fatos bíblicos, não só os do Novo Testamento, criando um nível de percepção católico que se tornou dominante e fortemente defendido por seus adeptos, mas no fundo sem qualquer sentido lógico para a realidade daquele tempo.

Há também outros Evangelhos escritos - vários compostos de fragmentos do que pôde chegar aos nossos dias - de apóstolos de Jesus, como os de Pedro, Judas Iscariotes e Maria de Magdala (que teria sido namorada do ativista judeu). Não se entende por que a Igreja não os acolheu na Bíblia, uma vez que são obras de gente que conviveu pessoalmente com Jesus.

Graças a essa situação, a compreensão de Jesus se tornou um tanto atrofiada, reduzindo ele a um misto de mágico, místico e pregador moralista. Nem criar religião foi seu propósito, e hoje diferentes seitas religiosas chegam a fazer confrontos violentos em nome de Jesus.

E se ele havia sido usado como pretextos para atos rigorosamente anti-cristãos, como as condenações mortais dadas a supostos hereges na Idade Média, só isso é suficiente para que se busque a essência de Jesus fora do dogmatismo religioso, através do processo científico - inclusive antropológico e sociológico - que busca entender o que realmente aconteceu nos tempos de Jesus.

Com as pesquisas arqueológicas, sociológicas, historiográficas e antropológicas, se buscará melhor a essência de Jesus bem mais do que o dogmatismo religioso que, em suas diversas matizes, apenas se ocupa em mitificar Jesus, do Catolicismo medieval mais sanguinário ao suposto Espiritismo (o da FEB, o de Emmanuel) dotado ainda de vícios dogmáticos.

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