terça-feira, 22 de abril de 2014

Chegada de Cabral ao Brasil foi mera atividade político-econômica


Do contrário que supõe anunciar o livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, de Francisco Cândido Xavier, a chega do navegador português Pedro Álvares Cabral ao Brasil nem de longe significou a realização da promessa de um "novo Eldorado", de uma "pátria-luz da humanidade futura".

Claro que essa lorota também é feita em relação aos EUA, quando Cristóvão Colombo chegou à América do Norte, batizou o novo continente de América em homenagem a Américo Vespúcio e os historiadores mais tendenciosos pregassem a imagem dos EUA de nação-guia da humanidade planetária. Na melhor das hipóteses, porém, os EUA se limitaram a ser um novo Império Romano.

No Brasil, porém, não houve a tal promessa. A chegada de Cabral foi tão somente uma atividade político-econômica. Noticiava-se que havia uma terra, localizada ao Leste no Hemisfério Sul, em que havia uma admirável diversidade de fauna e flora potencial para aproveitamento econômico para comercialização ou matéria-prima para produtos diversos.

Até mesmo a versão de "descobrimento", tão dominante nas abordagens históricas oficiais, é muitíssimo duvidosa e sem sombra de veracidade. Primeiro, porque para fazer uma navegação dessas, era preciso muito preparo para enfrentar mares agitados com embarcações relativamente precárias, mas bastante modernas para a época, virada do século XV para o XVI.

Imaginem os custos para a empreitada. Imaginem os perigos do mar revolto e muito longo. As embarcações eram muito lentas. Não havia higiene e conforto nas suas instalações e em qualquer momento alguém morria e seu cadáver apodrecia ali mesmo, deixando o ambiente fétido e doentio.

Além disso, Pedro Cabral só iria mesmo navegar com sua tripulação e sua esquadra se tivesse certeza que iria encontrar ali material para exploração econômica, sobretudo o pau-brasil, não sendo doido a enfrentar aquele mar pouco conhecido porque iria descobrir alguma "ilha" por acidente ou porque estaria à procura da prometida nação-guia que seria o Reino de Luz da humanidade futura.

Não. O que houve, na verdade, é que o território que hoje conhecemos como a América do Sul, em maior parte o Brasil, já era previamente conhecido por vários navegadores, não apenas portugueses. Isso se tornou claro pelas informações de antigas navegações realizadas antes de 1500 que chegaram ao nosso conhecimento.

Consta-se que vieram navegadores nórdicos e até chineses, bem antes do 22 de abril de 1500. E mesmo portugueses teriam vistoriado a área muito antes. Mas o que poucos admitem é que, séculos antes, povos da Oceania, sobretudo na área conhecida como Polinésia, já teriam migrado para o território sul-americano, tendo sido ancestrais dos índios brasileiros e dos indígenas andinos.

A expedição de Cabral, portanto, foi apenas uma mera atividade político-econômica. Portugal queria passar a dianteira na exploração daquele território precioso e decidir povoar suas áreas, embora esta intenção tenha sido bastante precária e confusa, em relação ao que aconteceu nos Estados Unidos da América.

Os livros oficiais de História, em sua maioria, erram ao classificar o ato como descobrimento, uma vez que o que hoje corresponde ao Brasil não era uma terra desconhecida, mas um terreno cobiçado, naquela fase em que as grandes navegações impulsionaram também as condições que, mais tarde, se dariam na Revolução Industrial.

E isso agrava, e muito, a reputação de Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, porque o livro "revelador" em nada acrescentou aos livros oficiais e à visão dominante que se tinha na História do Brasil naqueles idos de 1938.

Para piorar, o livro também não contesta o que os mais débeis e preconceituosos livros de História de então transmitiam em seus textos e, mais grave ainda, se mantém na sua narrativa fabulosa e a única coisa que "revelou" foi a tese fantasiosa e inverídica do Brasil como "pátria-guia de luz para a humanidade". Quanta besteira!!

Portanto, fiquemos com os registros históricos de verdade e com os esforços que historiadores sérios fazem para que, mesmo diante de um passado remoto cheio de versões mitificadas dos fatos, busquem aproximar tais épocas do mais fiel relato da realidade possível.

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