sábado, 29 de março de 2014

FEB e Chico Xavier apoiaram a ditadura militar


O Espiritolicismo apoiou o golpe militar de 1964, sob o pretexto de que os militares garantiriam a "nova nação" descrita pelo livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho. Segundo essa tese, cabe ao povo enfrentar "sacrifícios" para chegar à fase de prosperidade prometida pelos pregadores do "espiritismo" brasileiro.

Como é que uma doutrina que se diz tão transformadora e se autoproclama a última palavra em termos de espiritualidade e fé decide defender um regime obscurantista, que não trouxe a prosperidade prometida, mas caos, crise e muita confusão, entre outros problemas que se refletem até hoje?

É simples. O Espiritolicismo tem seus interesses elitistas. A Federação "Espírita" Brasileira, presidida por Wantuil de Freitas, defendeu a ditadura militar para que recebesse, do Estado, subsídios para a construção da opulenta sede de Brasília. Até então, a sede era na Av. Passos, no Rio de Janeiro, que se tornou uma filial da FEB.

Mas não era só isso. A FEB via em cenários políticos conservadores uma ideologia afim com seu moralismo religioso, em que valores ligados à hierarquia, ao elitismo e ao dogmatismo são garantidos na afinidade com os "poderosos da Terra".

O que surpreende, no entanto, é que Chico Xavier também apoiou a ditadura militar. Sim, o dito "homem chamado amor" apoiou serenamente um regime que custou a vida de muitos inocentes, fez agravar a corrupção política, causou uma das piores crises econômicas da história do Brasil e deixou a sociedade numa crise de identidade sócio-cultural, através do aumento das desigualdades sociais.

Para quem duvida, eis o que comprovou o "insuspeito" Francisco Cândido Xavier, numa entrevista dada ao programa Pinga Fogo, da TV Tupi, realizado em 1971. Com base em conselhos que Chico disse ter recebido de "benfeitores espirituais", ele teria definido o cenário da ditadura como "muito digno" e o classificou como "democracia", pedindo a união do povo para orar pelo país.

Ele havia defendido o governo militar a pretexto de combater ideologias que promovessem a "degeneração" social, alegando que os "garantidores da ordem e da lei" no país eram a garantia para a "formação do país como o Reino de Luz para o qual o povo brasileiro estava se encaminhando". Ele acrescentou que a "liberdade" estava garantida pela "democracia" trazida pelos militares.

Compare isso com o contexto político em que vivíamos. Era o governo do general Emílio Garrastazu Médici, que aplicava o terrível e temível AI-5 para estabelecer a "ordem" através da rígida repressão e censura. Naquele 1971, entre tantos desaparecidos políticos, destacou-se o deputado Rubens Paiva, pai do escritor Marcelo Rubens Paiva e político ligado ao antigo PTB de João Goulart.

Havia seminários nas Forças Armadas apresentando instrumentos de torturas. Soldados cheiravam até "baseado" para ficarem mais agressivos e violentarem prisioneiros políticos. Jornalistas e produtores de programas de rádio e TV tinham que mandar suas criações para a Censura Federal analisar demoradamente, para que pudessem ou não colocar no ar ou em circulação.

Policiais invadiam casas de suspeitos e destruíam tudo, apreendiam livros "suspeitos" e agrediam os detidos ou quem quisesse impedir a sua prisão (que também era detido, em muitos casos, por "desacato"). Viver no Brasil era um pesadelo. Quem podia, ia para algum consulado estrangeiro pedir asilo político, se não queria ser preso ou morto no país.

Esse é o "reino de liberdade" dos "garantidores da lei e da ordem" que agiam em "benefício" de nosso país. E o "homem mais evoluído do país" defendeu serenamente o regime dos generais, que causou tantas dores e desilusões. Que Reino de Luz é esse? Francamente...

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