sábado, 30 de abril de 2016
Para que recorrer ao "espiritismo", se ele considera sofrer "algo tão bonito"?
O "espiritismo", a religião mais cheia de contradições entre todas no Brasil - nem as piores seitas neopentecostais chegam a se contradizer tanto - , tenta fazer assistência social dizendo que o sofrimento é "necessário" e que todas as angústias serão remediadas no além-túmulo, quando a "verdadeira vida" será contemplada pelas "bênçãos futuras".
A "verdadeira vida", que é o mundo espiritual, existe, mas se a gente resolveu ter uma encarnação que dura cerca de 80 anos, o ideal é aproveitá-la e viver de maneira mais satisfatória possível. A satisfação não é capricho da vaidade doentia, mas a forma de permitir que possamos desenvolver nossas qualidades nas melhores condições possíveis.
Mas o "espiritismo", que chega a fazer especulações sobre a vida espiritual que nenhum estudo científico sério conseguiu qualquer definição objetiva, pouco está ligando se a pessoa virou um brinquedo do Destino, se tudo ocorre errado em sua vida e se as coisas, quando lhe surgem são sempre de uma forma longe da desejada ou mesmo da necessária.
A verdade é que o "espiritismo" desvaloriza tanto a vida material quanto a vida espiritual, no sentido de que ignora que a vida material serve para o espírito intervir nela - e não aguentar qualquer cilada - e trabalhar os poucos anos de uma encarnação de maneira positiva e mais proveitosa e agradável possível.
Por isso, tanto faz para o "espiritismo" as pessoas desperdiçarem uma encarnação, para o bem e para o mal. Para quem comete crueldades, a vida se prolonga e o máximo que ela permite é que a presunção do corrupto ou do criminoso mais cruel se dissolva em pequenas e brandas provações, na tentativa apenas de salvar as condições materiais do seu nome e status social.
Quanto às pessoas de bem, elas são obrigadas a enfrentar infortúnios pesadíssimos, tais como muros escorregadios e grandes nos quais não dá para saltar, e encarar falsas oportunidades que escondem armadilhas ou revelam inconvenientes que não correspondem às necessidades pessoais do indivíduo.
ENCARNAÇÃO COMO UM DESPERDÍCIO
Tudo é feito para transformar a encarnação num desperdício. O desprezo à vida material pelos "espíritas" e sua noção errada de que toda encarnação é igual fazem com que as desgraças humanas sejam aceitas pela doutrina brasileira como se fossem um "benefício", com base na Teologia do Sofrimento católica tomada de empréstimo por Chico Xavier.
Se recorremos à assistência do "espiritismo", que se diz a "religião da bondade", buscando tratamento espiritual para resolver impasses difíceis de resolver e, como resultado, só temos mais e mais problemas, atraindo desgraças ainda piores, então por que precisar de uma doutrina dessas que no fundo acredita que o sofrimento é "tão bonito"?
É um grande desrespeito que se tem. Há pessoas que aderem ao "espiritismo" e só conseguem infortúnios gravíssimos, desses que provocam danos morais. E se os "espíritas" acham que isso é coisa pequena, porque na "verdadeira vida" é que virão os "verdadeiros benefícios", isso se torna ainda mais ultrajante e deplorável.
Temos um prazo pequeno para trabalharmos nossas qualidades, um processo necessário para nossa evolução espiritual. Dificilmente chegamos a completar um século de vida, não raro muitos nem chegam a completar a metade. Achar que nós só poderemos nos beneficiar na vida espiritual é um grande contrassenso e vale uma reflexão.
Afinal, se nós só podemos ter algum benefício na vida espiritual, então nem devemos perder tempo com a vida material por ela trazer só desgraça. Até porque, da forma como prega o sofrimento humano, os "espíritas" acabam defendendo, mesmo sem querer, que pessoas sofram demais até se tornarem perversas ou pensarem em atos como o suicídio.
MORALISMO ROUSTANGUISTA
Em muitos casos, a provação pesadíssima e difícil de suportar, a incapacidade de haver qualquer bonança ou as soluções de difícil execução ou as más oportunidades - como alguém trabalhar numa empresa corrupta para ter algum salário - revelam o sadismo do moralismo "espírita", que se desmascara diante de sua forma de ver o sofrimento, difundida por Chico Xavier.
Em primeiro lugar, é a desvalorização da vida material que é o princípio do "movimento espírita" brasileiro. A vida material só é boa para eles, dirigentes e palestrantes, que viajam pelo mundo inteiro, com o dinheiro da "caridade", para espalhar a "boa palavra" e bajular poderosos e aristocratas, muitos deles corruptos e gananciosos. Para a "plebe", o jeito é adotar a tal "reforma íntima", eufemismo para aceitação de tudo que é desgraça.
Em segundo lugar, revela um desrespeito humano, porque as pessoas pedem para extinguir as desgraças e ter alguma salvação, mas todo o tratamento espiritual que recebem e toda doutrinária que frequentam ou ouvem são insuficientes para tal finalidade e, o que é pior, trazem ainda novos infortúnios e desgraças ainda mais preocupantes e, não obstante, trágicas.
Em terceiro lugar, esse moralismo de encarar a encarnação como um "castigo" para a pessoa se "purificar" e buscar "o caminho dos céus" é uma herança de ninguém menos Jean-Baptiste Roustaing, cujo sobrenome virou um "palavrão" para os "espíritas". Essa visão moralista está toda escrita dentro dos volumes de Os Quatro Evangelhos, e a herança roustanguista, queiram ou não queiram os "espíritas", se manteve inteiramente preservada.
Isso é grave, muito grave, porque os "espíritas" de hoje alegam sentirem "fidelidade absoluta" e exercerem "respeito rigoroso" a Allan Kardec e seu legado. Na prática, porém, preferem Jean-Baptiste Roustaing e seu igrejismo fantasioso, meio conto-de-fadas, meio filme de terror.
Daí que é isso que o "espiritismo" faz e que o desqualifica totalmente como um movimento para melhorar a vida das pessoas e transformar o espírito encarnado em alguém melhor. Na medida em que defende o sofrimento como "necessário", dentro dos moldes da Teologia do Sofrimento, o "espíritismo" se desmoraliza em suas contradições, deixando claro que nunca abandonou Roustaing.
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