sábado, 9 de abril de 2016

O "espiritismo" e sua pior ilusão


O "espiritismo" vive sua pior ilusão, perdido em contradições diversas. Sua crise extrema e sem controle, que faz "centros espíritas" perderem frequentadores e se encolherem, se não abrindo mão de seu grande espaço, mas ao menos deixando parte de suas instalações fechadas para economizar gasto de luz (a material, não a "luz religiosa"), se deve a seus próprios vícios doutrinários.

É risível que membros do "movimento espírita" tentem argumentar que são contra o igrejismo e a "vaticanização do Espiritismo", quando apelam para bobagens como definir sua doutrina como "ciência do amor" e citar como "científicas" as pregações igrejistas do jesuíta Emmanuel.

É como se os "espíritas" achassem que nós somos tolos de acreditar em suas contradições. E há "espíritas" dotados dos mais diversos níveis de hipocrisia, desde que o roustanguismo assumido entrou em declínio e hoje Jean-Baptiste Roustaing é considerado palavrão até para os roustanguistas convictos, mas nunca declarados.

Em primeiro nível, há aqueles claramente religiosos, que apelam para transformar o "espiritismo" numa "religião científica", fingindo apreciar a obra de Allan Kardec mas praticando o igrejismo mais aberto, mais apaixonado, mais explícito.

Em segundo nível, há aqueles que são religiosos entusiasmados, mas vestindo o capuz da "ciência", fingindo seguir "com mais rigor" o pensamento de Allan Kardec e até recomendando "estudo mais sério", algo que eles próprios não conseguem fazer, entorpecidos pela sedutora imagem do "bom velhinho" de Francisco Cândido Xavier.

Em terceiro nível, há aqueles ainda dotados de muito deslumbramento religioso, mas com parcial inclinação à Ciência, que juram seguir "realmente" o pensamento de Allan Kardec, falam em assuntos científicos, mas também sofrem a tentação de sucumbir ao mito de Chico Xavier e a muitas fantasias igrejistas, muito mal explicadas por argumentos pseudo-científicos.

Em quarto nível, há aqueles que começam a criticar a deturpação do Espiritismo, falam que as obras de Allan Kardec estão sendo mal-compreendidas, pedem que se leiam as traduções de José Herculano Pires e seus colaboradores e cobram "estudos realmente sérios". Mas também caem na tentação de idolatrar Chico Xavier e similares e sentem medo quando estes ídolos recebem alguma crítica mais severa.

Em todos os níveis, nota-se o maior vício do "espiritismo" brasileiro, a fascinação igrejista, assumida ou não. A lembrança inconsciente dos tempos felizes do catecismo infantil e da primeira comunhão, que faz com que até ateus pouco convictos (que são ateus mais por modismo que por vocação) se sentissem incomodados com as críticas a Chico Xavier e Divaldo Franco, associados a velhos estereótipos de velhinhos simpáticos e supostamente modestos.

As contradições do "espiritismo" brasileiro com uma religiosidade mal resolvida mostram o quanto a doutrina brasileira está muito mais distante de Allan Kardec e muito mais próxima das raízes católicas do Brasil colonial.

Mesmo uma parcela de críticos da deturpação igrejista pelo "movimento espírita", que cobram mais rigor na apreciação do pensamento kardeciano, falha quando pensa em recuperar as bases doutrinárias mantendo Chico Xavier e Divaldo Franco como enfeites, só porque são "bondosos".

As pessoas se apegam a valores e símbolos ligados ao deslumbramento religioso, lembrando antigas fantasias e sonhos de infância, acreditando num mundo de contos de fadas com os bondosos velhinhos falando coisas bonitas, cercados de flores, brinquedos e criancinhas peraltas correndo de um lado a outro pelo parque.

Ninguém quer abrir mão do "mundo da fantasia" de seu inconsciente. Acham que é cruel demais recuperar as bases kardecianas jogando fora Chico Xavier e Divaldo Franco, que numa visão mais realista mostram-se deturpadores cruéis e severos da Doutrina Espírita.

Preferem que os dois anti-médiuns permaneçam como enfeites, quando houver a recuperação das bases doutrinárias, sem saber sequer o que fazer com eles, porta-vozes de um igrejismo convicto e extremo. E, com isso, o "espiritismo" brasileiro continua de pé, enquanto qualquer esforço de recuperar as bases kardecianas sempre esbarra em algum obstáculo.

E isso faz com que o "movimento espírita", sofrendo sua mais aguda crise, de efeitos devastadores e, provavelmente, irrecuperáveis, se mantenha nos seus vícios igrejeiros, nas suas mistificações e contradições constantes, sem resolver seus problemas e trabalhando visões que se contradizem e se chocam sob a menor análise.

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