domingo, 17 de abril de 2016

É muito fácil para os "espíritas" dizerem para os sofredores "aguentarem a barra"

ALGUÉM TERIA CORAGEM PARA DIZER A ESSES ESCRAVOS A NÃO RECLAMAR NEM GEMER DE DOR, FAZENDO "SOL ÍNTIMO" DENTRO DE SUAS ALMAS SOFRIDAS?

É muito fácil os "espíritas", lá de suas mesas de doutrinárias, nos seus palanques de palestras e tudo o mais, dizer que os sofredores cometem frescuras quando reclamam da vida e não se conformam com as limitações que os infortúnios pesados lhes impõem.

Ficam dizendo, não sem uma ponta de orgulho mas tentando forjar uma generosidade paternal, que "nada cai do céu" e que os infortúnios são uma espécie de aprendizado como forma de "extinguir a presunção" e livrar as pessoas da "cupidez" e do "sensualismo". Dizem para eles confiarem em Deus e "aguentar a barra" até que as "bênçãos futuras" venham, nem que seja após o tampar do túmulo.

Muito fácil. Só que muitos se esquecem que, lá nos círculos religiosos, o "conselheiro" é o "eu", e é muito mais fácil dizer ao "outro" para suportar o sofrimento do que ao "eu". Os "espíritas" reclamam quando são acusados de roustanguistas, mistificadores e charlatães, se dizendo "vítimas de intolerância e perseguição de verdadeiras feras em formas humanas".

No entanto, quando é o sofredor que busca um auxílio e luta para sair de sua situação de desgraças, os "espíritas" não compreendem. Se o sujeito reclama da vida amorosa, quando atrai mulheres sem afinidade com ele, os "espíritas" dizem que é para ele aprender a superar as diferenças. Se é para trabalhar em um local pouco confiável, os "espíritas" lhe dizem que é para o sujeito fazer um trabalho honesto e ajudar a empresa a mudar de imagem.

O "espiritismo", repetimos, não compreende individualidades. Se perde no discurso vago de "pedir fraternidade", numa sociedade complexa e desigual. A realidade é muito complicada para que a vida se resuma apenas num cessar de brigas e num segurar de mãos.

Não há como perdermos tempo dando as mãos e cantando hinos religiosos, se as desigualdades e injustiças acontecem. Além disso, soa perverso quando se cobra aos sofredores aguentar suas desgraças sem reclamar, enquanto ninguém fala para os privilegiados conterem e moderarem seus abusos.

Prestemos atenção. O famoso "orador espírita", Divaldo Franco, até mais do que Chico Xavier, tem um apetite redobrado de estar ao lado dos poderosos. A exemplo da Madre Teresa de Calcutá em revelações trazidas por Christopher Hitchens.

Junto a políticos e aristocratas, Divaldo Franco despeja sua verborragia bajulatória, sem cobrar das elites coisa alguma de caridade, nem moderação a seu luxo, se limitando apenas a "pedir paz e fraternidade", coisas tão genéricas e tão vagas.

Chega a ser sádico quando um "espírita" pede ao sofredor para não reclamar, não expor seu sofrimento, até por acreditarem que a ajuda virá "do nada". Isso é cruel sobretudo quando se pede para o sofredor "mudar seus pensamentos", criar "esperança" em sua alma e sorrir mesmo quando a alma se sente "esmagada" por circunstâncias tão cruéis.

Imaginemos no tempo da escravidão. Escravos sendo açoitados por capatazes de senhores de engenhos. Humilhados por capatazes irritados e frios, amarrados e deitados. Será fraterno pedir aos escravos "mudarem os sentimentos", "sorrirem para a vida" sem reclamar, não gemer de dor e ter fé em Deus nas "belas bênçãos" que poderão ter no futuro?

Será que a "religião da bondade" e seus "purificados" ídolos farão "choro de crocodilo", dizendo que os escravos "merecem perdão", mas, no fundo insensíveis, lhes pedirão para suportar as desgraças porque elas são "um valioso aprendizado"?

Existem limitações, dificuldades e empecilhos que, em boa dose, até servem para moderar os impulsos das pessoas que, em primeiro momento, não sabem a medida de suas necessidades, seus méritos, suas vocações e seus desejos. Quando há um limite imposto a eles através de um imprevisto, isso pode se tornar um excelente aprendizado para a vida.

Todavia, quando as limitações se tornam excessivas e danosas, e as pessoas sofrem dificuldades excessivas e de difícil solução, não é pedindo para "criar esperanças" e "mudar os pensamentos" que esses infortúnios serão resolvidos com mais facilidade.

Afinal, os sofredores já fazem sua parte. Quando apelam para o auxílio "espírita", mesmo que seja apenas pela prece, eles já mudam os pensamentos, depositam fé e esperança, tornam-se alegres e resignados, se animam a superar suas dificuldades e fazem todo um esforço para tal finalidade.

No entanto, as desgraças se tornam mais pesadas, novas encrencas surgem do nada, as dificuldades existentes continuam existindo, e as mínimas oportunidades para superá-las, com todo o esforço feito, até com perseverança, lhes escapam de alguma forma como água correndo pelas mãos.

O "espiritismo" é que acaba trazendo azar, pela sua própria natureza de religião marcada por contradições e pela desonestidade doutrinária, que atraem espíritos levianos. Daí ser inútil que os "espíritas" reclamem, da parte dos sofredores, de sua falta de esperança e otimismo. Porque esperança e otimismo os sofredores tiveram, mas as circunstâncias é que fizeram eles ficarem em vão.

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