segunda-feira, 25 de abril de 2016

Chico Xavier tentou fazer de Jair Presente uma "nova Meimei"


Francisco Cândido Xavier era de uma esperteza ímpar. E capaz de certas maluquices. Ele "transformou" sua mãe, Maria João de Deus, em "repórter" de Marte, e também "transformou" Humberto de Campos em um repórter do além-túmulo que escrevia como se fosse sacerdote católico.

Mas não são apenas familiares e amigos ou gente famosa que o anti-médium mineiro usurpava de maneira oportunista e sensacionalista para produzir livros, sob a ajuda de editores da FEB. De vez em quando ele também "promovia" certos mortos anônimos em "cronistas do além", da maneira mais leviana possível.

Irma de Castro, a Meimei, professora mineira prematuramente falecida, aos 24 anos em 1946, foi transformada em "pregadora" e, na prática, uma "porta-voz" da causa de Chico Xavier. Lançou livros moralistas que, embora Meimei tenha sido católica fervorosa, não teria sido capaz de escrever, pelo menos daquela maneira em que o estilo do "médium" se tornava mais explícito nos textos.

Chico repetiu a dose com Jair Presente, e esse livro, de 1985, é uma tentativa de fazer com Jair o mesmo que fez com Irma, convertendo a personalidade anônima em um "famoso pregador do além", de uma forma bastante perniciosa e sensacionalista.

O JOVEM JAIR PRESENTE.

Reproduzimos o conteúdo desse hilário livro, Agência de Notícias, que mostra uma tendência de Chico utilizar referências "jornalísticas" em seus títulos, para dar a falsa impressão de conteúdo informativo. No entanto, apesar do título, trata-se de um livro de poemas (!!!!!).

Jair Presente foi um jovem nascido em Campinas, em 10 de novembro de 1949, que foi estudante de Engenharia Mecânica e estava se divertindo com os amigos quando morreu afogado em uma praia, em fevereiro de 1974. Em março foi divulgada a primeira suposta psicografia que levava seu nome, de uma série de treze publicadas até 1979.

Acadêmicos da Universidade Federal de Juiz de Fora, usando de metodologia dotada de muitas falhas, atribuíram "veracidade" a todas as treze cartas, sob o pretexto de que elas apresentaram informações "complexas" e de "difícil acesso" até pelos familiares de Jair. Alegaram que Chico Xavier "não" teria chance de colher informações desse porte nem ter acesso a jornais paulistas.

No entanto, há possibilidade de Chico Xavier ter recebido informações pelas comunicações dos "espíritas" de Uberaba e Campinas e é provável que jornais locais lhe tenham chegado em mãos. A mãe de Jair passou a trabalhar no "centro" da senhora Wandir Dias, antes da primeira das treze cartas, e é muito provável que informações confidenciais pudessem ter sido transmitidas em várias conversas e Wandir ter enviado os dados para Uberaba, para Chico Xavier tomar conhecimento.

Os textos abaixo não fazem parte das treze cartas, tendo sido produzidos por volta de 1984 e 1985, já depois do controverso caso que causou até um momento de irritação em Chico Xavier, quando ele se revoltou com a desconfiança dos amigos de Jair, que nunca viram qualquer aspecto pessoal do falecido, nas cartas divulgadas. Ríspido, Chico chamou essa desconfiança de "bobagem da grossa".

Notem o conteúdo de apelo fortemente igrejista das mensagens. É a "escola Chico Xavier" em que supostas psicografias não refletem necessariamente os estilos pessoais dos autores alegados, mas sempre vêm com alguma propaganda religiosa, ainda que implícita. Os textos também mostram conteúdo que lembra o estilo das frases do "médium" de Pedro Leopoldo e Uberaba.

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TEXTOS DO LIVRO AGÊNCIA DE NOTÍCIAS, DE FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
ATRIBUÍDOS AO ESPÍRITO JAIR PRESENTE - EDITORA GEEM, 1985.

UM  MÉDIUM

“O que vem a ser um médium?”
Esta pergunta travessa
Demonstra que você traz
Muitos grilos na cabeça.

O médium é uma pessoa
Que trabalha, luta e sente,
Alegra-se, sofre e chora
Qual acontece com a gente.

Costuma ter batedeira,
Desarranjos de bexiga,
Dor nos rins, urina solta,
Fraqueza e dor de barriga...

De estômago delicado,
Muitas vezes, sente azia,
Vesícula complicada,
Engulho e disenteria.

Sempre que coma demais
Dos pratos que tem à mão,
Aflige-se em mal-estar
Ou geme na indigestão.

Tem febre e dor-de-cabeça
Quando apanha resfriados,
Quase sempre, traz no corpo
Os nervos destrambelhados.

Em amor, tem simpatias
Como acontece a qualquer
Se é mulher, pensa no homem,
Se é homem, pensa em mulher.

Necessita, nesse assunto,
De instrução e de doutrina,
Porque amor, em qualquer tempo,
Não dispensa a disciplina.

Se você quer ser um médium,
Conserva a fé que não cai,
Agarra-te a Jesus Cristo,
Aprende a servir e vai...

A  HERANÇA

- “Quero fazer caridade” –
Dizia Júlio das Graças,
Estou cansado de ver
Tanta penúria nas praças;

Vejo mães abandonadas,
Cujo estômago jejua,
Crianças esfarrapadas
Em tristes bandos na rua...

Se Jesus me der recursos,
Farei com muita alegria
Um lar onde os pobres tenham
O pão para cada dia.

Tanto Júlio falou nisso
Que o difícil sucedeu:
Júlio ganhou grande herança
De um tio que faleceu.

Era um antigo solteirão
Que não mostrava riqueza
E o povo considerava
Sovina por natureza;

Ao morrer, viu-se-lhe a vida,
Revelou-se-lhe o caminho...
Tinha mais de dois bilhões
E deixou tudo ao sobrinho.

Após reter a fortuna,
Alguns irmãos da cidade
Vieram a ele indagando
Dos votos de caridade.

Que faria, enfim, agora?
Perguntou-lhe a comissão:
- “Um lar para os enjeitados
E velhos sem proteção?”

Respondeu Júlio, entretanto,
- “Meus amigos, o dinheiro
Que o tio me destinou
Não dá para um galinheiro.

Mais tarde, conversaremos,
Somos amigos leais...
Os dois bilhões de meu tio
Vêm a ser pouco demais.”

A  EVOLUÇÃO  DO  AMOR

O Doutor Leonel de Souza
Dono de terra e dinheiro,
Trazia a cabeça em fogo,
Hora a hora, dia inteiro.

Tinha uma filha somente,
A jovem Ana Maria,
Que lhe dera ao coração
A presença da alegria.

Ela, porém, namorava
O jovem Joaquim Mutamba,
Sempre juntos, noite a noite,
Lembravam corda e caçamba.

Sabendo que os dois se amavam
Com manifesta loucura,
O pai ficou alarmado
E disse à filha, insegura:

- “Ana Maria, você
Não mais procure Joaquim,
Considere o seu romance
Um caso que chega ao fim.

Largue, filha, enquanto é tempo,
Esse Joaquim do pé torto,
Um varredor de cinema
Não tem onde cair morto...”

A filha pediu, no entanto:
- “Pai, rogo à sua bondade,
Quero casar com Joaquim,
Já temos intimidade!...”

O velho esmurrou a mesa,
Dando mostra de machão,
E asseverou, irritado:
- “Não aceito, não e não!...”

O pai buscou, no outro dia,
Um famoso pistoleiro...
Queria um tiro no moço,
Pagaria bom dinheiro.

O pistoleiro, maldoso,
Que era pobre, muito pobre,
Comunicou ao cliente:
- “Sinto fome do seu cobre...”

Semana passa semana,
E o pistoleiro com jeito,
Derrubou Joaquim, a tiros,
Num crime duro e perfeito.

Ninguém viu a cena triste...
No povo, apenas mumunhas.
Buscou a polícia, em vão,
Informes e testemunhas.

Ana Maria chorou
Por muitos e muitos dias,
Parecia torturada
Por íntimas agonias...

O pai cercou-a de mimos,
Sentindo arrependimento
E a moça continuava
Toda entregue ao sofrimento...

Notei com grande surpresa
Que ela trazia de lado,
Em todo passo do dia,
Mutamba desencarnado.

Quatro anos se passaram...
Veio o estouro de repente;
A jovem Ana Maria
Teve um novo pretendente.

Era um rapaz educado,
Um competente engenheiro...
O pai fez o casamento
Gastando muito dinheiro.

Morrer não fora vantagem,
De coração renovado,
A moça trouxera à luz
O primeiro namorado.

Decorridos onze meses
Surgiu a reviravolta...
Um pequenino nasceu...
Era Mutamba, de volta.

Tudo era festa em família,
Felicidade, alegria...
O genro e o sogro, contentes,
Beijavam Ana Maria.

O pequenino ante o seio
Sugava o leite com gana
E eu ficava refletindo
Nas tricas da vida humana.

O avô, vendo o neto ativo
Parecendo esfomeado,
Exclamava, todo dia:
- “Eta, menino danado!...”

TAREFA  FRUSTRADA

Fora ele um grande herói
Na abastança de outros dias...
Agora, doente e velho,
Agonizava Matias.

Gemia, desamparado,
Quem tanto estendera o bem...
Febril, tinha sede e frio
Mas não surgia ninguém.

Orara e dizia, humilde:
- “Jesus é o refúgio meu!...”
E quem devia ampará-lo
Naquela hora era eu...

Abnegados mentores
Que lhe escutaram a prece,
Enviaram-me a servi-lo
Em tudo quanto eu pudesse.

Caia a noite. Cheguei
Ao pequeno pardieiro,
No intuito de auxiliar
Ao querido companheiro.

Depois de assustado, ao vê-lo
Exposto na tábua nua,
Dispus-me a buscar-lhe amparo,
Mesmo fosse, rua em rua...

Pedi, em prece, aos amigos
De minha pobre existência
Que me fizessem andar
Em minha antiga aparência;

Passados breves instantes,
Entrei na licença rara:
Achava-me, tal qual eu fora:
- Corpo igual ao que deixara.

Tentando obter apoio
Que reanimasse o velhinho,
Memorizando endereços,
Fui à casa de Antoninho.

Tinha nele um grande amigo,
Falei do velho doente,
Ele gritou, espantado:
- “Você é o Jair Presente?

Embora você me lembre
Um cara amigo já morto,
Não tenho qualquer auxílio
Para os pobres sem conforto...”

Corri procurando o Sérgio,
Ele exprimiu-se, zombando:
“Se eu pudesse dar esmolas
Não vivia trabalhando...”

Saí, apressadamente,
Para a casa do Dirceu,
Ele, porém, me falou:
- “Auxílio? Primeiro eu...”

Modificando o roteiro
Procurei por Dona Clara,
Ela me disse: “Não tenho!...
A vida está muito cara...”

Tudo em vão... Sempre pedindo,
Fui a vinte moradias...
Não encontrei um vintém
Para socorro ao Matias.

Regressei, desiludido,
Ao pardieiro isolado,
Para ver como estaria
Passando o pobre coitado...

Cheguei chamando o doente...
Tudo silêncio e vazio...
Matias, naquele instante,
Morrera aos golpes do frio.

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