sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Fé religiosa tenta impedir avanço da Ciência

TÃO METIDO A CIENTÍFICO, O "ESPIRITISMO" NÃO CONSEGUE EXPLICAR POR QUE TESOURAS ENFERRUJADAS PODEM SER INSTRUMENTOS PARA CIRURGIAS "ESPIRITUAIS".

A fé religiosa é um problema na medida em que ela tenta se sobrepôr à realidade concreta. Quando começa a invadir o terreno da razão e interferir, com seu surrealismo, em fenômenos que deveriam ser observados à luz da lógica, a fé, que é o equivalente adulto das fantasias e sonhos da infância, torna-se bastante perigosa.

Recentemente, um suposto caso de cura milagrosa aconteceu atribuído a Madre Teresa de Calcutá. Em 2008, um homem de 35 anos, morador de Santos, sentiu-se mal durante a lua-de-mel com sua esposa na cidade gaúcha de Gramacho.

Ele foi para o hospital da cidade e o exame aparentemente deu hidrocefalia, com oito infecções no cérebro. O paciente foi levado às pressas para um hospital em Santos e, supostamente em estado terminal, ele teve sua cirurgia marcada para o dia seguinte.

A esposa foi para uma igreja em São Vicente, cidade próxima de Santos, por fazer parte da Baixada Santista, falou com um padre e este deu uma medalha de Madre Teresa e a aconselhou a rezar por ela. A mulher do enfermo colocou a medalha sob o travesseiro do marido. No dia seguinte, ele estava lúcido, levantou-se e tomou o café sozinho. Ele foi depois identificado como Marcílio Haddad Andrino.

Tudo parece história linda, afinal, a fé trabalha os sonhos e as emoções de pessoas que, na vida cotidiana complexa, são muito inseguras. A religião torna-se a muleta de pessoas que não sabem decidir por conta própria, "acredita-se" nos totens religiosos como se eles fossem as "únicas alegrias possíveis", quando na verdade é a insegurança que se dissimula no apoio à fé religiosa.

O caso aparentemente teve 15 testemunhas e um documento de 400 páginas com "evidências". Uma associação de médicos considerou a cura do homem "cientificamente inexplicável" e considerou, com unanimidade, o caso um "milagre".

O Vaticano decidiu que irá canonizar Madre Teresa de Calcutá, em que pese aspectos sombrios de sua trajetória, como deixar doentes e enfermos à própria sorte nas chamadas "casas de moribundos", baseada na Teologia do Sofrimento, em que as angústias e infortúnios são vistas como "necessárias" para conseguir as "bênçãos futuras" da "vida eterna" ("vida futura", para os "espíritas").

As ideias de "milagre" e "paz" confortam as pessoas. São a água com açúcar emocional, com suas fantasias que prometem a realização da esperança. Há em muitas pessoas medo de questionar totens como Francisco Cândido Xavier, Divaldo Franco e Madre Teresa de Calcutá, até pelo apego a estereótipos de "amor e bondade" que servem como analgésicos para suas inseguranças na vida.

O Brasil está refém da mistificação da fé, do apego a estereótipos de "amor e bondade", de uma ojeriza ao raciocínio lógico, um dom diferenciado da espécie humana que setores da sociedade amaldiçoam. Isso trava o avanço social, mesmo quando o obscurantismo religioso aqui vigente seja expresso de maneira politicamente correta, diferente da crueldade explícita da Idade Média.

Por isso, é surreal que as pessoas se sintam seguras quando curas acontecem de maneira inexplicada. Como é que se pode sentir qualquer segurança com fenômenos que acontecem sem explicação é algo que não dá realmente para explicar. Mas esse é o espírito da coisa: e tais fenômenos não são feitos para serem entendidos ou explicados, eles são feitos para serem apenas "acreditados".

Isso causa um sério problema. Afinal, há o lado "muito bonito" das realizações da fé e do "milagre", que comove, conforta e faz as pessoas dormirem tranquilas. Mas, de outro, está a Ciência, injustiçada e incapaz de buscar curas para as doenças graves humanas, e que realiza o "milagre" de avançar seus estudos sem o respaldo financeiro público e privado e sem o respaldo pleno da sociedade.

Quando "curas" são anunciadas sob a realização da fé, seja ela católica, evangélica ou "espírita", as pessoas comemoram, aplaudem, louvam. Não fossem as denúncias contra seitas neopentecostais, que forjavam falsos paralíticos que "voltavam" a andar durante os cultos, a parte "evangélica" desses processos teria a mesma "legitimidade" das demais.

As pessoas se apegam a estereótipos de "amor e bondade" e, por isso, se conformam que fenômenos tenham que o ocorrer "sem explicação". E isso nos faz pensar na diferença que existe entre o desconhecimento de alguma coisa e a recusa do saber.

Na Ciência, certas coisas não são diagnosticadas nem descobertas porque não existe explicação conhecida para as mesmas. Só que isso acontece em razão de não termos atingido um nível de conhecimento que possa compreender tais fenômenos.

Já na religião, o que acontece é a recusa do saber, e a arrogância em acreditar em fatos surreais, quando eles estão associados ao messianismo religioso, à filantropia aparente e e à devoção mística que faz com que pessoas se subordinem a totens religiosos consagrados.

A fé religiosa, no Brasil, tenta impedir o avanço da Ciência. Setores da Igreja Católica, dos movimentos neopentecostais ou mesmo do "movimento espírita" são os que mais resistem às necessidades de investir na Ciência, na valorização plena de seus intelectuais e no apoio aos trabalhos que se tem em prol da verdadeira conquista do Conhecimento.

No caso "espírita", a Ciência só é apreciada nos seus limites mais manjados. Esses limites são estabelecidos para que não se aprofundem os trabalhos do pensamento lógico. A única diferença, em relação ao Catolicismo medieval, é que o "espiritismo" só admite a Ciência pelo legado que se chegou até agora.

É como se o "espiritismo" dissesse à Ciência: o que foi feito, já foi feito, não tem volta e por isso deixaremos passar. O que se tem que fazer só poder ser feito quando não ameaçam o âmbito da fé religiosa.

Isso quer dizer que a fé religiosa pode intrometer no âmbito da Ciência, competindo com esta na busca de curas de doenças graves. Mas a Ciência não pode interferir na fé religiosa, questionando os absurdos desta, e, quando muito, todos os seus estudos só servem para dar uma fachada de "polêmica" de certos fenômenos para eles depois serem legitimados.

Sob o ponto de vista católico, por exemplo, não podemos questionar a "partição" do Mar Vermelho, na famosa passagem de Moisés. Ver o mar se "rasgando" num processo que nem a Informática consegue forjar é um absurdo que precisa ser "acreditado", mesmo vindo de uma época bem primitiva como a de muitos anos antes de Jesus nascer.

Sob o ponto de vista "espírita", não podemos questionar as irregularidades das atividades "mediúnicas". como os falsetes de Divaldo Franco e o mesmo discurso solene que ele faz para qualquer falecido que "incorpora", ou as "leituras frias" das cartas de Chico Xavier ou coisa parecida.

As pessoas até consideram "verídica" a suposta psicografia de Humberto de Campos, pouco importando se o antigo membro da Academia Brasileira de Letras, de prosa descontraída e fluente, "voltou" com narrativa de padre católico com textos prolixos, pesados e tristonhos. O "mistério da fé" faz as pessoas aceitarem qualquer coisa.

O mais grave perigo disso tudo é que o verniz de "ciência" que o "espiritismo" traz, com seus líderes e palestrantes jurando "fidelidade absoluta" a Allan Kardec, faz com que um quadro pernicioso seja feito e oculto diante do deslumbramento de pessoas extasiadas com verbetes como "amor", "paz", "caridade", que deslizam deliciosamente em almas invigilantes das mistificações religiosas.

O Brasil, país famoso pelos constantes esforços de mistificação e deturpação e pelo hábito viciado de tentar afirmar uma coisa e praticar outra que lhe é oposta, é um ambiente propício para casos como o do homem em Santos, e nos últimos tempos o Brasil tornou-se o exílio de visões retrógradas que no Velho Mundo eram próprias da Idade Média.

Daí a credulidade, o apego à fé religiosa, o medo de confrontar totens como Divaldo Franco, Chico Xavier e Madre Teresa de Calcutá. Daí a insegurança que faz as pessoas buscarem repouso nas fantasias de gente grande da fé religiosa, que em si não constituem problema algum.

O problema é quando a fé religiosa quer estar acima da realidade e se sobrepôr à Ciência. Quando a fé impede que busquemos entender melhor as coisas, ela se torna muito perigosa.

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