terça-feira, 15 de dezembro de 2015

FEB havia lançado livro sobre Magnetismo. Mas Mesmer, que é bom, nada!


O "movimento espírita" brasileiro diz apreciar a Ciência, mas comete dois graves equívocos quanto a isso. Primeiro, porque só aceita a Ciência quando ela não contraria a fé religiosa, e, segundo, porque acaba censurando a apreciação devida dos verdadeiros especialistas sobre vários assuntos.

Assim, não podemos apreciar o pensamento científico sobre glândula pineal nos anos 1940, puxados sobretudo pelo alemão Wolfgang Bargmann. Tudo virou "conhecimento pioneiro" das obras lunático-igrejistas do fictício André Luiz.

Não podemos apreciar o pensamento de Percival Lowell, astrônomo estadunidense que realizou trabalhos analisando a possibilidade de haver vida em Marte e reservas de água naquele planeta, em estudos feitos ainda no século XIX e publicados antes de Francisco Cândido Xavier nascer.

Afinal, temos que acreditar, nós, brasileiros, que Chico Xavier "descobriu" a vida em Marte, enviando sua mãe e um escrevinhador católico que usava o nome de Humberto de Campos para visitarem o Planeta Vermelho antes das sondas espaciais modernas.

Também não podemos apreciar o pensamento do alemão Franz Anton Mesmer, estudioso de Magnetismo Animal cuja obra foi apreciada com gosto pelo próprio professor Rivail, já antes dele se tornar conhecido como Allan Kardec.

Um dos motivos é que, em 1959, quando Chico Xavier fazia a farra da "materialização" - em que pese a "advertência" de um locutor fazendo a voz de Emmanuel, diante de uma maquete com o retrato mimeografado do jesuíta do além e um "corpo" inspirado no Cristo Redentor - , foi lançado um livro mistificador que tentava "estudar" o Magnetismo.

Trata-se de um livro chamado Magnetismo Espiritual, que a exemplo do livro Síntese de O Novo Testamento, publicado dez anos antes (1949), contava com autoria misteriosa. Se este era atribuído a um tal de Mínimus (depois revelado como o próprio presidente da Federação "Espírita" Brasileira, Antônio Wantuil de Freitas), o outro, atribuído a Michaelus, corresponde ao advogado da FEB, Miguel Timponi.

Timponi foi responsável por toda a choradeira que desnorteou os juízes em 1944, no caso do processo dos herdeiros de Humberto de Campos. O advogado da FEB nem precisou ser muito convincente nos argumentos em favor da instituição e de Chico Xavier, porque os próprios juízes não entenderam a questão, pensando que era para pedir direitos autorais para obras enviadas "do além".

Diante do empate jurídico - a "psicografia" não foi confirmada nem negada, porque os juízes julgaram a ação "improcedente" - , Miguel Timponi, sem "ter feito gols", teve suas "jogadas" elogiadas pela cúpula da FEB e, aproveitando sua boa reputação, resolveu escrever um livro sobre Magnetismo.

A identidade de Miguel Timponi foi constatada na ficha técnica do livro, em que seu nome aparece como crédito de autoria, como se Michaelus fosse um pseudônimo, a exemplo de Mínimus que veio depois a ser revelado como o próprio Antônio Wantuil.

Não lemos os livros de Franz Mesmer nem o de "Michaelus" para fazermos alguma comparação, mas podemos inferir que o livro da FEB foi feito para desviar as atenções das verdadeiras análises do Magnetismo, já que até hoje a obra de Mesmer, mesmo sendo ponto chave para a doutrina kardeciana, não teve até hoje uma tradução brasileira.

Desse modo, Franz Anton Mesmer se junta a Wolfgang Bargmann e Percival Lowell como três dos renomados cientistas que nunca tiveram trabalhos essenciais traduzidos no Brasil. E que, na lacuna das publicações brasileiras desses estudiosos, abriu-se o caminho para uma série de mentiras e deturpações trazidas pelo "movimento espírita".

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