sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Biografia de Bezerra de Menezes é parcial e fantasiosa


Muito estranho o "movimento espírita", tão seletivo em suas informações, a exemplo do que faz a grande imprensa reacionária, como a revista Veja, o Jornal Nacional da Rede Globo e O Estado de São Paulo. Dependendo dos interesses, o "espiritismo" brasileiro oculta ou revela, ou mesmo inventa.

Não temos um retrato do jovem Amauri Pena, o sobrinho de Chico Xavier, isso apesar de haver fotos divulgadas de seus familiares. Mas há um desenho (?!) de André Luiz, acompanhado da atitude arrogante de alguns "espíritas" de usar fotos de Carlos Chagas para atribuí-lo a identidade de tal personagem.

Mas ninguém foi beneficiado por esse jogo de revelar e ocultar conforme as conveniências que o antigo presidente da Federação "Espírita" Brasileira, o médico, militar e político Adolfo Bezerra de Menezes, cuja mania de memória curta típica dos brasileiros fez prevalecer uma visão romântica e nada realista do "dr. Bezerra".

Segundo os opositores do religiosismo roustanguista da Federação "Espírita" Brasileira, a visão que se tem de Bezerra de Menezes é falsa, tendo muito mais de fantasiosa e piegas, e quase nada de realista. Além disso, apresenta pontos muito obscuros e nada esclarecidos.

Primeiro, Bezerra de Menezes era membro de uma aristocracia cearense. Em sua árvore genealógica, envolve pessoas marcadas por sua forte inclinação ao Catolicismo, para o qual Adolfo não foi exceção, tendo sido ele mesmo um católico assumido e entusiasmado antes de se converter para o que ele entendia como "espiritismo", através não de Allan Kardec, mas de Jean-Baptiste Roustaing.

Há até mesmo um silêncio sobre que parentesco poderia ter tido o advogado e ativista católico Geraldo Bezerra de Menezes e o "dr. Bezerra" do "movimento espírita". Quem Geraldo teria sido, em relação ao "Bezerra de Menezes espírita"? Sobrinho? Primo de segundo grau? Ou vão dizer que o sobrenome Bezerra de Menezes não passa de uma desprezível coincidência?

"PAPAI NOEL" BRASILEIRO

Bezerra de Menezes é "isolado" do seu clã e é visto como um ser "excepcional", para o qual só cabem dados positivos, mesmo que seja fantasiosos, mesmo que ele seja descrito como a versão brasileira do Papai Noel, o "bom velhinho" que alegra a criançada na época do Natal.

Quando os dados se aproximam do "realismo", limita-se a descrever Bezerra de Menezes como um parlamentar do Segundo Império, e suas atividades no debate sobre o Abolicionismo. Ele deu alguma contribuição, tendo escrito até um livro em 1869, A escravidão no Brasil e as Medidas que Convém Tomar para Extingui-la sem Dano para a Nação.

No entanto, até seu trabalho foi superestimado pelo "movimento espírita", até porque não consta em muitas fontes bibliográficas que Adolfo Bezerra de Menezes tenha sido um dos maiores militantes abolicionistas do país, que os "espíritas" creditam ao lado da Princesa Isabel (?) e do imperador Dom Pedro II (??).

Seu papel teria sido menor, embora o referido livro tenha sido citado pelo militar e membro-fundador do ISEB (Instituto Superior de Estudos Brasileiros), Nelson Werneck Sodré, numa das edições do livro O Que Se Deve Ler para Conhecer o Brasil?.

Imaginemos os trabalhos parlamentares de hoje. Imaginemos tantos livros com propostas de figuras políticas menores são lançados. Imaginemos que mesmo um político de credibilidade duvidosa hoje como o senador tucano paranaense Álvaro Dias, empenhado na CPI do Futebol, feita para investigar a corrupção dos dirigentes esportivos.

Às vezes um político faz uma coisa e nem por isso é brilhante. Fez apenas algum trabalho porque em certos momentos um assunto de relevância nacional impulsiona os parlamentares a mostrarem serviço. Mas nota-se que a História não registra o dr. Bezerra como o super-militante da Abolição, talvez até pegando carona no que outros ativistas fizeram com mais ousadia.

Mas, se faltam dados realistas, sobram fantasias, sobretudo relatos atribuídos ao suposto espírito de Bezerra de Menezes, evocado em falsas psicofonias que numa comparação recente entre dois "médiuns" baianos, José Medrado e Divaldo Franco, apresentaram diferenças tão gritantes de estilos pessoais que é difícil não suspeitar de meros falsetes nada mediúnicos.

Fantasias descrevem o doutor Bezerra de Menezes ora como um dublê de caminhoneiro a atender um chamado de Chico Xavier para levar alimentos para a população carente, ou como alguém que se "materializou" para chamar a polícia para prender uma gangue de rapazes que iriam estuprar uma jovem. Fora outras passagens "lindas" e "comoventes".

QUEM REALMENTE TERIA SIDO O "DR. BEZERRA"?

Nada, porém, é descrito de maneira realista ou objetiva. A biografia de Adolfo Bezerra de Menezes é extremamente dotada de dados parciais, fantasiosos, exagerados. Na verdade, é um amontoado de dóceis relatos, que não corresponderam à realidade, e faz com que os que foram deixados para trás pela turma roustanguista se indignassem até hoje.

Bezerra de Menezes é descrito como um pretenso santo, uma pessoa aparentemente meiga, com trejeitos de Papai Noel, do qual se atribui tão somente a uma filantropia que, se foi praticada por ele, não foi da maneira intensa e comovente como seus seguidores tentam crer e fazer outros crerem. E mostra que a fé, no Brasil, tenta se julgar acima da razão e da coerência dos fatos.

Nas últimas décadas, houve até mesmo a "reabilitação" tendenciosa de Bezerra de Menezes como um suposto kardecista, em supostas psicofonias e psicografias, armadas por dissidentes da cúpula da FEB sob a colaboração de Divaldo Franco e Francisco Cândido Xavier.

Essa manobra oportunista e tendenciosa foi feita quando os dirigentes da FEB, como Francisco Thiesen e Luciano dos Anjos, levaram o roustanguismo às últimas consequências, criando uma crise que fez seus antigos defensores saírem do "barco que afunda". Através da manobra, criou-se um Bezerra "arrependido" que, no "mundo espiritual", trocou Roustaing por Kardec.

Assim, os roustanguistas convictos na prática mas não assumidos no discurso, Divaldo e Chico, puderam se livrar da encrenca adotando a postura oportunista de se autopromoverem às custas da campanha pela recuperação das bases de Allan Kardec. Justamente os dois que NUNCA expressaram verdadeira fidelidade às pesquisas e ideias transmitidas pelo professor lionês.

No entanto, se observarmos os relatos de vários opositores do roustanguismo febiano, inclusive herdeiros como Carlos de Brito Imbassahy, cujo pai, Carlos Imbassahy, foi um dos que combateram severamente os desvios religiosistas da FEB, a história de Bezerra de Menezes era bem outra.

Político de pouca expressão, ele era apenas um parlamentar mediano, que eventualmente cometia corrupção e fazia "caridade" visando a vitória eleitoral, processo que conhecemos como "compra de votos". Bezerra era temperamental e sua atitude "conciliatória" na FEB foi, na verdade, uma tentativa de expurgar os que eram fiéis às bases científicas de Allan Kardec.

Falta escrever um livro mostrando o lado sombrio de Adolfo Bezerra de Menezes. Isso pode soar "ofensivo", "depreciador" e "injusto", mas esse é o preço dos estragos que a memória curta no Brasil causa nas pessoas, que acabam acreditando mais numa visão tendenciosa construída a posteriori do que na realidade "desagradável" que havia ocorrido em seu tempo.

Isso acontece em vários ramos da atividade humana no Brasil. E que acaba reabilitando e até "canonizando" pessoas que não eram tão admiráveis assim. E se até o baiano Mário Kertèsz (que tem José Medrado como contratado em rádio) e Fernando Collor (apoiado por Chico Xavier), dois vergonhosos ícones da corrupção política, são "santificados" por setores da opinião pública, o caso de Bezerra de Menezes merece uma investigação muito cautelosa.

Por isso, seria preciso uma pesquisa jornalística, bibliográfica e documental que despisse de adorações, temeridades e sentimentalismos piegas, para que pudesse apresentar uma imagem mais realista de Adolfo Bezerra de Menezes porque, até agora, sua biografia está muito mais próxima de um conto de fadas do que de qualquer relato histórico. Convém agirmos.

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