Distanciado dos estudos sérios de Allan Kardec, o "movimento espírita" impede que os mortos, lembrados no dia de hoje, se manifestem eles mesmos. Lamentavelmente, o que se vê é tão somente o uso de seus nomes para reles proselitismo religioso.
O religiosismo do "espiritismo" brasileiro, tido como "saudável caraterística local" da doutrina, causou sérios prejuízos na apreciação da Doutrina Espírita, originalmente codificada na França pelo pedagogo francês Hippolyte Rivail, que adotou o codinome de Allan Kardec, cujos ensinamentos científicos foram violentamente deturpados no Brasil.
Primeiro, a FEB e seus seguidores - Chico Xavier e Divaldo Franco incluídos com gosto - defendiam as ideias delirantes do opositor de Kardec, o advogado Jean-Baptiste Roustaing, para depois escondê-lo debaixo do tapete e fingir que está às boas com Kardec.
Mas aí toda sorte de fraudes passou a ser cometida, de tal forma que o suposto médium pode se virar quando lhe der "branco" toda vez que lhe falta a necessária concentração para receber uma mensagem do além.
Por isso existe o seguinte truque. Se o dito médium não está preparado para receber a tal voz do além e dá "branco" justamente naquele evento decisivo num "centro espírita", ele simplesmente faz um teatrinho franzindo os olhos, colocando a mão na testa, fazendo expressão de muxoxo e depois escrevendo uma mensagem de sua própria imaginação.
Por isso é que essas mensagens, bastante padronizadas, são necessariamente carregadas de algum proselitismo religioso, em especial aquela ladainha que segue o seguinte caminho: "sofri pelos meus erros, fui socorrido numa colônia espiritual e descobri o amor e a luz".
Pode variar o contexto e as mensagens podem "diferir" conforme as informações superficiais colhidas de determinado falecido. Tudo para dar a impressão de que, embora nada autêntica, cada mensagem tenha também sua verossimilhança e que, como toda imitação, tenha também sua finalidade parcial de parecer com o original.
Aí, pronto. O "médium" pode até vir de uma briga de trânsito, ter perdido a cabeça e ficar sem a concentração mediúnica necessária no "centro espírita", que o seu fingimento não despertará desconfiança nem estranhamento, por causa das tais mensagens "fraternais", "amorosas" e "bastante positivas".
Em compensação, os espíritos do além, constrangidos, se afastam. Como é que eles poderão se comunicar conosco se eles não têm a menor condição favorável para isso? Eles não têm meios seguros e confiáveis para nos falar, para deixar novos legados e até para nos orientar para a vida.
Pior é que são justamente os ditos médiuns brasileiros, aqueles que poderiam servir de intermediários para suas comunicações, negam tamanha responsabilidade, apenas usando seus nomes para atribuir as autorias das mensagens que, na verdade, os próprios "médiuns" criaram.
E as ditas psicofonias, então? Por que se escolhem geralmente pessoas que viveram no século XIX? Simples. Por que quase não há registros sonoros dessas pessoas, a invenção do fonógrafo era recente e muito cara e inacessível. Por isso dá para o "médium" imaginar a voz de fulano ou sicrano e sair fazendo sua imitação vocal.
Às vezes nem precisa de teatrinho de transe. Divaldo Franco já fez, mais de uma vez, todo seu falsete, falando normalmente até que, em dado momento, passa a fazer uma voz de idoso bonachão, tipo Papai Noel, fazendo-nos supor que seja Adolfo Bezerra de Menezes. Tudo "vapt-vupt", sem escalas.
Além do mais, a máscara também cai quando vemos que a imitação do dr. Bezerra pelo amigo de Divaldo, José Medrado, é completamente diferente, mesmo em trejeitos, na maneira de dizer e até mesmo nas palavras utilizadas, mais parecendo um velhote franzino e de fala esganiçada.
O "espetáculo" que fascina tanta gente e que chega a enganar algumas famílias que perderam seus entes queridos, como o inocente Arnaldo Rocha apaixonado por sua Meimei, na verdade é um deplorável ato de horror se visto do lado do mundo espiritual.
Quantas pessoas ficam chocadas com esse "espetáculo" que se faz no Brasil!! É esse charlatanismo de falsas mediunidades, em que os "médiuns" são dotados de estrelismo e viram o centro das atenções, que faz até muitos incautos terem a vontade de pedir, no velório de seus entes queridos, para que eles retornem mensagem por intermédio de um "médium" da preferência daqueles que "ficaram".
Muitos se iludem e acham até verídicas as mensagens apócrifas, ora em romances "espíritas", pinturas "mediúnicas", mensagens "do além", supostas psicofonias, só por causa de semelhanças vagas aqui e ali, dessas que fazem com que muitos jurem que um caqui é um tomate.
Há até "variações" ao gosto do freguês, com "mais ciência" e mais "aspectos pessoais", e o que se vê em romances "espíritas" já começa a envolver erotismo (!), animais domésticos, roqueiros alucinados, motoqueiros durões, e deve vir até mesmo luta de UFC nas colônias espirituais.
Já a verdadeira manifestação dos espíritos, não. Muitos deles se entristecem. Eles poderiam se comunicar com alguém, se consolar com seus admiradores, talvez até continuar vivendo com seus entes mesmo desprovidos do corpo físico. Nem todo processo assim é obsessivo. Às vezes a presença de um espírito do além, vulgarmente conhecido como "fantasma", pode até ser benéfica.
Afinal, muitos deles é que nos previnem de cometermos decisões equivocadas. Se alguém, por exemplo, decide fazer uma coisa não muito conveniente a todo custo, evidentemente ele percebe alguma "sugestão contrária", no seu inconsciente. Em muitos casos, é aquele falecido que, prudente, quer que a pessoa viva evite de fazer algo que pode trazer consequências nocivas.
Mas o "movimento espírita" não quer saber. O que vemos é o uso dos mais diversos nomes de personalidades, de Getúlio Vargas a Mamonas Assassinas, para fazerem o mesmo lero-lero místico-religioso. Na prática, os mortos brasileiros são severamente censurados, enquanto suas imagens são usadas indevidamente para fazer propaganda religiosa.
Com isso, infelizmente os falecidos que nos são tão saudosos se reduzem a serem meros garotos-propagandas de todo o sistema igrejista que alimenta fortunas e vaidades sob o verniz da "doutrina espírita".
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