domingo, 9 de novembro de 2014

A liberdade de instintos e a escravidão da consciência

ENQUANTO A ATRIZ BRASILEIRA LETÍCIA SABATELLA DEFENDE O DIREITO DE "ENCHER A CARA"...

Recentemente, a atriz Letícia Sabatella - que os espiritólicos conhecem pelo papel da mãe de Chico Xavier, no filme dramatizado dirigido por Daniel Filho - , na sua estadia em Brasília, foi beber vodca numa boate, ao lado de amigos, se embriagando e caindo no chão.

O episódio foi divulgado pelo jornalista Léo Dias, do jornal carioca O Dia, e causou polêmica. Muitos não gostaram e reprovaram a atitude da atriz. No entanto, houve também seus partidários, "Quem nunca..." dispararam seus adeptos, lembrando o "nunca dantes" do ex-presidente Lula em seus piores momentos.

Irritada com os comentários negativos à sua embriaguez, Letícia deu o seguinte recado: "Me recuso a sentir vergonha com esta pedra moralista com que tentam me atingir. A vocês, queridos acusadores, ofereço um brinde". Vivemos uma espécie de liberdade tirânica, uma liberdade de instintos em que a consciência se torna escrava e submissa a erros, deslizes, equívocos etc.

Vivemos a era da mediocridade, e isso contraria frontalmente as supostas previsões de Chico Xavier, que jura que o Brasil será o centro do universo, a nação mais importante do planeta e que receberá tão somente os "restos" do Primeiro Mundo que os "nossos bondosos espíritas" desejam ver destruídos por hecatombes, tsunamis, terremotos, lavas vulcânicas, enchentes e atos terroristas.

Que "coração do mundo" é esse que se promoverá às custas dos excessos e debilidades humanos, parcialmente remediados pela seita pouco confiável do "espiritismo", que com suas falsas profecias pretende aglutinar novos fiéis e se tornar a "crença absoluta" da espiritualidade futura?

Não basta o Brasil ter o terrível hábito de estabelecer novos projetos ou ideais com base em valores velhos, como se mantivesse o vício de construir novos edifícios sempre usando bases velhas e enferrujadas?

...A ATRIZ NORTE-AMERICANA ELIZABETH PEÑA JÁ TINHA FALECIDO SEMANAS ANTES POR CAUSA DA "LIVRE BEBEDEIRA".

A humanidade brasileira está enferrujada e presa a paradigmas de liberdade e moralidade de 40 anos atrás. Uma liberdade promíscua e irresponsável, uma moralidade golpista e castradora, dois opostos que se alternam ou se misturam a depender das circunstâncias.

Os brasileiros ainda procuram o astral de festas que ocorreram há 25, 30 ou 40 anos atrás, com os excessos e a imprudência que já cobraram o preço para muitas pessoas ao longo dos anos. Como o Brasil é atrasado, até quando tenta parecer moderno.

Quando Letícia Sabatella reclamava seu "livre direito de encher a cara", já havia algumas semanas que ocorreu o falecimento de outra atriz, Elizabeth Peña, que fez La Bamba (1987) e participou de Família Moderna (Modern Family), aos 55 anos, em consequência do álcool.

Para piorar, o Brasil vive esse "saudável contraste" entre a libertinagem e o moralismo. A Minas Gerais que gerou uma Letícia Sabatella que defende o "direito à embriaguez" é a mesma que tem um Eduardo Azeredo pregando a "censura à Internet".

De um lado, a "marcha da maconha" e, de outro, a "marcha pela intervenção militar". Num meio caminho, Lobão, com passado de drogas e excessos de rebeldia, convertido a intelectual reacionário. O Brasil vive a alternância entre uma caricata Woodstock meio Zona Sul, meio periferia, e uma TFP provinciano e coronelista.

É a liberdade de instintos, a escravidão da consciência à supremacia da catarse, seja para onde ela vai, seja para um "baile funk" ou para uma reunião da TFP, entre o golpismo de Lobão e a embriaguez de Letícia Sabatella, entre a bregalização pseudo-vanguardista e o hit-parade de ontem tardiamente estabelecido aqui.

Isso se reflete sobretudo no Sul e Sudeste. Cariocas e paulistas, mineiros e gaúchos (paranaenses, catarinenses e capixabas vão na carona) virando escravos de seus próprios instintos, na eterna procura de prazeres que eles conheceram através de eventos e modismos do passado.

Procuram no Brasil de hoje o Verão do Amor inglês de 1988, a "cultura de rua" novaiorquina de 1983, a liberdade de Woodstock de 1969, as farras noturnas da era disco de 1974, os conceitos de "liberdade" da era pré-Aids, pré-yuppie, de 1968. Tudo com uma média de 30 anos de atraso.

Se essa visão atrasada de liberdade imprudente e abusiva, alternando com surtos de moralismo reacionário, predominam no Brasil, então não há a menor chance de acreditar em Chico Xavier, quando disse que o país será o centro da evolução planetária da humanidade. Nem em sonhos, exceto naqueles sonhados por Chico no seu sono, em vida.

O jeito é lamentar e esperar apenas crise, uma vez que uma humanidade não se evoluirá quando estiver submetida aos instintos que escravizam a consciência, à "liberdade" de se embriagar, de defender intervenção militar, de mostrar demais os corpos, de ofender as pessoas etc etc etc. Se o Brasil é o "coração do mundo", ele sofreu um infarto.

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