sábado, 29 de novembro de 2014

Comparação entre a assinatura de Humberto de Campos e a de seu suposto espírito

LIVRO DESTINOS (1935), UM DOS PRIMEIROS TRABALHOS PÓSTUMOS DE HUMBERTO DE CAMPOS, EM EDIÇÃO DE 1947.

Humberto de Campos tornou-se uma das maiores obsessões de Chico Xavier. O anti-médium de Pedro Leopoldo, depois radicado em Uberaba, no Triângulo Mineiro, era um católico de hábitos excêntricos e hábito regular de leitura, além de sentir um mórbido fascínio por mortos prematuros.

A obsessão de Chico Xavier pelos mortos precoces era notória, vide casos de Auta de Souza, Irma de Castro (Meimei) e, sobretudo, do escritor e jornalista Humberto de Campos, membro da Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira 20, inaugurada por Joaquim Manuel de Macedo, autor de A Moreninha, cadeira ocupada hoje pelo ex-jornalista de Manchete, Murilo Melo Filho.

Humberto foi o mais obsediado, transformado em marionete por Chico, talvez sob orientação da FEB, mas com a cômoda cumplicidade do popstar da mediunidade. O escritor de O Brasil Anedótico, hoje esquecido, era uma das grandes figuras literárias dos anos 1920 e 1930, e seu falecimento prematuro, com apenas 48 anos, comoveu seus admiradores.

Hoje Humberto está associado ao "espiritismo" da FEB e praticamente foi "sequestrado" por Francisco Cândido Xavier, que se apropriou dele a ponto dos herdeiros do escritor reagirem em processo judicial, enquanto seu advogado Milton Barbosa identificava irregularidades entre as obras do suposto espírito de Humberto e o que ele havia escrito em vida.

Um dos aspectos que contradizem a veracidade da autoria de Humberto de Campos, ignorada há 70 anos por conta do empate jurídico que favoreceu Xavier, é a assinatura colhida em um documento supostamente mediúnico, recebido por um funcionário ferroviário e aparente médium, Alarico Cunha, de Parnaíba, Piauí.


Este documento, de 1935, um ano após o falecimento do intelectual maranhense, teria sido apresentado à mãe do escritor, Ana de Campos Veras, que aparentemente reconheceu a assinatura do filho.

No entanto, confrontando as assinaturas, através da imagem abaixo, a veracidade soa duvidosa e talvez Ana, em suas primeiras impressões depois da perda do filho, tenha se comovido demais com uma mensagem atribuída ao escritor, jornalista e acadêmico.


A assinatura apressada teria sido feita por alguém que, conhecendo a obra de Humberto, conhecesse também a sua assinatura, já que ela apresenta, como numa imitação, algumas semelhanças no desenho das letras.

Mesmo assim, há o contraste entre a caligrafia nervosa lançada pelo suposto médium e a assinatura peraonalizada do autor, reproduzida num de seus livros póstumos. Note-se que as tentativas de imitar o estilo das letras H e C dá num resultado enganoso, mas nota-se a imitação superficial da caligrafia, semelhante mas nem tanto.

Numa outra comparação, desta vez usando uma assinatura mais corrida de Humberto de Campos, reproduzida em sua lápide no cemitério de São João Batista, em Botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro, onde o escritor está sepultado, o problema não se resolveu.


Compare então a suposta assinatura espiritual presente nestes dois arquivos de comparação - a suposta assinatura está embaixo em ambos - com a assinatura, também corrida, presente na moldura em homenagem ao escritor maranhense.


Nota-se que, em todas as comparações, a suposta assinatura espiritual não consegue reproduzir em todo a fluência da caligrafia de Humberto de Campos, e nota-se que o de Campos parece grudado e a caligrafia das letras minúsculas mais parece rabiscada, contrastando com a desenvoltura dos traços da caligrafia do escritor.

Quanto aos manuscritos dos supostos trabalhos de Humberto de Campos através de Chico Xavier, consta-se que eles desapareceram misteriosamente, mas o estilo de narrativa do suposto espírito já contradiz, por seu conteúdo, o estilo original do acadêmico.

O Humberto de Campos em vida tinha senso de humor, em certos casos levemente irônico, em outros divertidamente satírico. Já o suposto espírito de Humberto era piegas, melodramático e infantilizado, em muitos casos lembrando, nas palavras usadas, o mesmo discurso que Chico Xavier dava em suas entrevistas e depoimentos.

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