domingo, 16 de novembro de 2014

A cobrança de "fundamentos científicos" e seus equívocos

À ESQUERDA, PINTURA DE CLAUDE MONET E, À DIREITA, SUPOSTA PINTURA DO AUTOR LANÇADA POR JOSÉ MEDRADO, E ABAIXO AS RESPECTIVAS ASSINATURAS.

Mais uma vez, quando denúncias surgem contra totens do "movimento espírita" brasileiro, algumas pessoas reagem cobrando "fundamentos científicos", como se fizessem exigências "rigorosas" para que ícones consagrados do "espiritismo" sejam comprovadamente contestados.

Insatisfeitos (ou incomodados?) com os questionamentos feitos, principalmente contra nomes como Chico Xavier, Divaldo Franco e José Medrado, essas pessoas, mesmo aparentemente definindo como "críticos dos abusos do movimento espírita", parecem mais incomodados com a apresentação de um problema do que com a existência do mesmo.

A atitude é estranha. Afinal, pessoas assim cobram dos críticos um "fundamento científico" que deixam de cobrar quando é a prática espiritólica que, muitas vezes, vai contra qualquer noção de lógica dos fatos.

Quando os líderes "espiritólicos" adotam procedimentos mediúnicos duvidosos, ninguém pede "provas científicas". Se existe contradição ou irregularidade, os apreciadores "exigentes" preferem se satisfazerem com aquilo que parece semelhante ao real.

Ora, quando existe algum problema e surgem os primeiros relatos, não significa que eles possam trazer, de bandeja, algum fundamento científico. Exigir de um problema apresentado de início um "fundamento científico" seria como se pedíssemos que um vírus descoberto venha com um código de DNA já pronto e servido de bandeja.

INCOERÊNCIA

Quando surge um problema, ele não necessariamente surge com os atestados científicos já prontos. É uma grande incoerência exigir "fundamentos científicos" quando um problema é apresentado. O verdadeiro cientista não exige de alguém que comunicou um problema que tenha que vir com argumentos científicos prontos.

Uma vez que irregularidades apontadas em atividades de anti-médiuns como Chico Xavier, Divaldo Franco, José Medrado e outros aparecem, se a pessoa sente alguma falta de um fundamento científico, ela que prepare monografias com base no que viu, colhendo livros, documentação e depoimentos.

Mas o grande problema é que essa mesma pessoa que faz tal cobrança, quando o caso é desqualificar Chico Xavier e Divaldo Franco, por exemplo, perde toda a firmeza quando o caso é buscar argumentos científicos por conta própria e aceitar provas confusas e superficiais que "legitimem" as atividades desses anti-médiuns.

Por que a pessoa não exige "fundamento científico" para as teses delirantes que existem em obras como Nosso Lar? Ou será incômodo confrontar com tais teses, até porque é bonitinho saber que existem centros comerciais, sucos deliciosos, bichinhos fofinhos e até dinheiro nas colônias espirituais?

Quando é para questionar a aparente mediunidade de Divaldo Franco, Chico Xavier e quejandos, se exige "fundamentos científicos" que não são exigidos quando é para legitimar suas atividades ou mesmo para fazer vista grossa aos seus erros, relativizando-os. Há muito mais medo de tirá-los de seus pedestais do que de buscar coerência e honestidade no âmbito do tema espiritual.

É muita incoerência. Quando apresentamos irregularidades ligadas ao "espiritismo" brasileiro, estamos lançando problemas para serem discutidos e aprofundados por outrem. Apresentamos argumentação lógica, que não é um ponto de chegada, como se quer num processo científico, mas um ponto de partida, para que seja estudado a posteriori.

Um problema não surge com seu código científico pronto. Quando ele começa a ser apresentado, o problema aparece com seus aspectos "crus" e os primeiros argumentos lógicos que o apoiam. Se falta algum "procedimento científico", ele deve ser buscado depois, por outras pessoas, sem esperar que as primeiras denúncias "fechem definitivamente a questão".

Quando estudou os fenômenos das irmãs Fox, nos EUA, Allan Kardec não exigiu delas fundamentos científicos. O pesquisador não exige dos que apresentam um problema o rigor dos métodos científicos. Basta saber se algo está errado e ter as mínimas motivações possíveis, que só depois podem ser analisadas mediante métodos científicos.

Em outras palavras, quando um problema começa a ser denunciado, ele vem para abrir questões e estimular o debate e a investigação, ele não vem como questão fechada. Daí os equívocos que existem quando alguém cobra "fundamento científico" nas denúncias de irregularidades "espíritas".

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