domingo, 7 de fevereiro de 2016

Teologia do Sofrimento não combate a violência, antes a estimula


A Teologia do Sofrimento, base de uma corrente ultraconservadora da Igreja Católica e princípio ideológico do "movimento espírita", defende, na teoria, a não-violência. Em tese, a ideologia apela para que sejamos tolerantes a tudo, e que os sofredores aguentem suas desgraças e vejam os algozes com misericórdia e condescendência.

No entanto, essa ideologia é uma grande farsa. Defendida por Madre Teresa de Calcutá, essa ideologia, originária da Idade Média, pregava que os sofredores aceitassem suas situações de desgraça, enquanto consentia também com os privilégios e abusos dos algozes.

Como uma espécie de deturpação do sentido do sofrimento de Jesus, no seu famoso martírio da cruz, a Teologia do Sofrimento via nas desgraças um "caminho seguro para o céu", e, enquanto dizia que os sofredores deveriam aguentar as desgraças, não reagia quando os algozes prolongavam seus privilégios, abusos e benefícios, muitas vezes sem mérito.

A Teologia do Sofrimento, popularizada por Santa Teresa de Lisieux - aquela, que, diz a lenda, sentia êxtase pela fé religiosa - e difundida, no século XX, por Madre Teresa de Calcutá e o "espírita" Francisco Cândido Xavier, traz no entanto o lado oculto de seu discurso "pacifista" e "humilde".

Observa-se, no seu discurso, a defesa da desigualdade social, se não em casos extremos - a ideologia defende a prática de caridades paliativas para minimizar o sofrimento dos mais desgraçados, um "malabarismo" de caridade feito sem afetar o "sistema" - , pelo menos em sua essência.

Até mesmo a distribuição de tragédias e desilusões é desigual, pois elas não vêm para quem precisa conhecê-las, mas se repete para quem está cansado de sofrê-las e está traumatizado com isso. Pede-se mais sossego aos algozes do que se deseja a diminuição do sofrimento das vítimas.

PESSOAS ACUADAS SEMPRE REAGEM

O ponto fraco da Teologia do Sofrimento é quando as desgraças dos sofredores são intensas demais para eles aguentarem prolongadamente. É aí que os "dóceis" apelos, conhecidos pelas frases de Madre Teresa e Chico Xavier, para que as pessoas aceitem as desgraças "em silêncio", porque assim "serão ouvidas por Deus", perdem toda a sua "utilidade".

É natural do instinto carnal. Se a pessoa está acuada, se ela está oprimida demais, ela não vai aguentar isso por muito tempo. Se alguém vê um objeto cortante lhe ferir, ela irá gemer. Se pisam no calo de um dos pés, a pessoa irá gritar. Não há como falar da "beleza do silêncio" em apelos tão supostamente generosos.

E é aí que a Teologia do Sofrimento se torna a semente da violência, revelando que nem sempre palavras belas podem gerar ações belas. Em muitos casos, a beleza das palavras esconde o veneno mortal das mensagens ocultas, talvez nem tão subliminares, e apenas sutis num mundo que ainda tem dificuldades de compreender os malabarismos da retórica.

Com os apelos "bondosos", mas insistentes e forçados, de "conformação com a desgraça" e "tolerância com os algozes", Exigindo desilusão demais para quem já está desiludido e deixando os já iludidos viciados na sua ilusão, ela acaba semeando a violência nos dois lados.

De um lado, criminosos de colarinho branco, dos quais se conhecem feminicidas, fratricidas, estelionatários, mafiosos, grandes traficantes e políticos e empresários corruptos. De outro, assaltantes, sequestradores, pequenos traficantes, fratricidas e caloteiros.

Isso porque, do lado dos privilegiados, a ideia de benefícios e ambições é desmedida, o alpinismo social é sem limites e, quando há um obstáculo, o privilegiado perde a cabeça e reage de maneira criminosa, sempre lesando alguém, muitas vezes de forma grave e irrecuperável.

Já do lado dos desgraçados, o prolongamento dos infortúnios cria nas pessoas um sentimento de amargura, o que faz com que as pessoas compensem, da pior maneira, sua incapacidade de romper com as desgraças de difícil superação. E como não podem superar seus infortúnios de maneira honesta e tranquila, o fazem de forma traiçoeira e cruel.

A Teologia do Sofrimento, com isso, mostra a grande ilusão das palavras belas que muitos pensam sempre representarem atitudes maravilhosas. O "bem sofrer", com a utopia do "perdão infinito", o "silêncio da prece", sob a fantasia da "paz tolerante", são ineficazes e inexpressivos num mundo cada vez marcado pelo estresse, pela raiva e pela desonestidade.

Além de falso em muitos aspectos - o discurso "pacifista" do "sofrimento lindo" e da "tolerância aos algozes" não combate privilégios nem resolve problemas - , o discurso da Teologia do Sofrimento acaba criando um cenário viciado em que não há justiça nos privilégios e infortúnios. Quem tem demais continua tendo e quem não tem o necessário continua sem o ter.

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