sexta-feira, 5 de junho de 2015

Correio Espírita adota comentário sutilmente racista

PARA O "MOVIMENTO ESPÍRITA", PESSOAS COMO A BELA E GRACIOSA MARIA JÚLIA COUTINHO ESTÃO CUMPRINDO UM "CASTIGO".

A edição deste mês do Correio Espírita vem com mais uma "pérola" do moralismo medieval próprio do "movimento espírita". Relatando as migrações dos povos africanos para a Europa, o periódico alega que seus espíritos estão "voltando à Europa", e solta um comentário sutilmente racista ao definir a negritude como um "castigo".

O comentário foi assim escrito, sob o título "Africanos retornam à sua pátria (sic), a Europa", em que junta alusões racistas (definir a "roupagem física de africanos" como um "castigo") a um moralismo punitivo digno do Catolicismo medieval e um pedantismo supostamente reencarnatório:

"Agora, os invasores do pretérito aparecem reencarnados, no mesmo solo que pintaram de sangue, e com a roupagem física de africanos e tentam voltar às pátrias de origem, necessitando drasticamente de amparo, proteção e ajuda".

Manifestos assim são típicos do "movimento espírita", misturando moralismo condenatório e um certo paternalismo religioso, e mostram que, apesar dos "espíritas" reprovarem, no discurso, o legado do Catolicismo medieval, é de seu contexto histórico assumir, na prática, esse legado, eliminando somente o que havia de coercitivo na antiga corrente religiosa.

Mesmo assim, o "espiritismo" brasileiro, que nada tem do Espiritismo de Allan Kardec, que diz apreciar, e tudo tem da essência do Catolicismo português da Idade Média, que diz repudiar, mantém muito do antigo moralismo católico, além de outras práticas medievais. A presença de padres jesuítas como mentores dos "centros espíritas" não nos deixa mentir.

Segundo os "espíritas", a negritude seria uma desgraça e um castigo para as pessoas. O negro é visto, por essa doutrina, como um selvagem, um desgraçado, levando em conta a situação de escravizado que a visão medieval trazida pelo "espiritismo" brasileiro ainda mantém sob sua ideologia.

Até mesmo Chico Xavier compartilhou dessa visão. No livro em que ele escreveu com a ajuda de Antônio Wantuil de Freitas, então presidente da FEB, Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, tendenciosamente atribuído a Humberto de Campos, os negros africanos são vistos como "selvagens".

Para piorar ainda mais as coisas, essa visão de Chico Xavier já era vista como ultrapassada na Europa, e há um bom tempo a História das Mentalidades dos franceses Marc Bloch e Lucien Febvre causava uma grande transformação nas abordagens da História, Sociologia e Antropologia, desfazendo de preconceitos etnocêntricos.

Pois, a partir dessa nova abordagem, identificou-se, nas antigas tribos de negros e índios, estruturas de organização social e política, sistemas educacionais e expressivas atividades culturais, cujo legado foi fartamente absorvido pela sociedade contemporânea.

O que os "espíritas" metidos a ver o mundo de longe não percebem é que, quando os negros foram trazidos ao Brasil, eles eram escravizados por outras tribos de negros rivais. Eram disputas políticas locais, expressas pelos conflitos entre tribos, algo que acontecia também com os povos indígenas no território brasileiro.

Muitos dos negros vinham de povos organizadíssimos, com sua cultura, sua educação e sua estrutura social admirável. Suas tribos tinham uma relação com a natureza que os "civilizados" não conseguem ter.

E que "castigo" pode haver em ser negro, da mesma forma que em ser índio? São apenas questões de formação da pele e de traços corporais, que variam em cada pessoa. Recentemente, as pessoas conseguiram provar o que nem deveria ser combatido antes, que é na negritude demonstrar suas qualidades próprias e diferentes de beleza, charme etc.

Na televisão, a presença de Maria Júlia Coutinho, jornalista que faz as previsões do tempo no Jornal Nacional, é um bom exemplo. Maju, como é conhecida, é notável por sua beleza de traços suaves e sua graciosidade que nos fazem perguntar aos "espíritas": ser negro é um "castigo"?

Se houve o triste e trágico exemplo da segregação social e política trazida pela discriminação racial, ela veio porque durante anos houve o totalitarismo etnocêntrico dos brancos europeus, que durante século se voltaram contra negros, índios e judeus e se tornaram a radicalização de um aspecto negativo existente na Antiguidade Clássica, e exploração de trabalho escravo.

Essa radicalização se deu no Império Romano e se perpetuou na Idade Média. A visão acabou prevalecendo e foi introduzida no Brasil colonial, criando uma noção de "povos desgraçados" que permitiu a prática escravagista que norteou a visão etnocêntrica das elites "civilizadas" que, no caso do "movimento espírita", inspirou uma visão equivocada de Abolição.

Ignorando o verdadeiro sentido de Abolicionismo, o "espiritismo" brasileiro preferiu superestimar a Lei Áurea, como promotora de solidariedade entre os povos, quando sabemos que os "espíritas" menosprezam toda luta que antecedeu a esse documento, da mesma forma que ignoram o caráter inócuo que correspondeu a essa lei

Afinal, a Lei Áurea não conseguiu ressocializar os escravos libertos nem a indenizar os senhores de engenhos. Ela não conseguiu financiar uma nova estrutura social e acabou sendo a raiz de uma estrutura de pobreza e conflitos que se refletem até hoje.

Outros movimentos foram muito mais felizes na reafirmação e consolidação da negritude, permitindo a ressocialização e a reafirmação cultural. Mas até hoje os "espíritas" falam da Princesa Isabel e de Dom Pedro II como se tivessem feito um trabalho revolucionário. Mas não tiveram esse papel, e foram apagados na realidade histórica.

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