terça-feira, 2 de junho de 2015

Quando o próprio "espiritismo" banca o "mão-de-vaca"


"Dai de graça o que de graça recebeis", diz, em conjugação pomposa, uma das frases religiosas tão defendidas pelo "movimento espírita". enfatizando a caridade e a despretensão em ajudar alguém sem exigir algo em troca.

Mas a frase, também, acaba tendo o seu sentido desviado para a exploração e a ganância. E justamente no "movimento espírita", que tanto fala em ajudar o próximo, usa a máxima filantrópica para justificar seu desinteresse em realmente ajudar as pessoas. Um exemplo verídico mostra esse lado "mão-de-vaca" do "espiritismo" brasileiro.

Uma conhecida editora em Salvador estava, há quinze anos atrás, editando uma revista. Seu dono era um conhecido figurão do "espiritismo", aparentemente desvinculado da cúpula da FEB mas solidário com figurões como Chico Xavier, Divaldo Franco e até Paiva Netto.

Conhecido por suas ideias referentes à "coerência espírita", ele não remunerava dignamente seus funcionários. Eles estavam envolvidos na sua revista "por caridade", e só recebiam o dinheiro do almoço. Os salários eram sempre atrasados.

Pior: até mesmo as parcelas salariais pendentes, concedidas com atraso de um ou dois meses, eram concedidas como se fossem "adiantamentos". Uma funcionária chegava a reclamar que tinha um filho para criar sozinha e o dinheiro não dava sequer para pagar as contas. Outro pegava a grana do almoço para comprar só biscoito wafer e pegar o resto da grana para sua poupança pessoal.

O referido figurão "espírita", frequentemente, ia a julgamentos trabalhistas para resolver pendências salariais, o que seria desnecessário se ele, de uma família suficientemente abastada e dotado de visibilidade plena e apoio de seus pares, pagasse os salários corretamente.

Mas aí os trabalhadores é que são tidos como "exploradores". Pedir salários dignos acaba sendo visto como "mercenarismo" e "ingratidão" dos que deveriam "doar" para a divulgação "sem retorno" da "boa palavra". Essa desculpa "positiva" tem seu caráter de puro cinismo, se percebermos o outro lado da coisa.

Afinal, os funcionários precisam pagar as contas. Não se paga a conta de luz com "luz". Se paga com dinheiro. Há muitas outras contas a pagar, a cesta básica não é barata, o aluguel aumenta constantemente, não bastasse ser ele, em si, bastante caro, e há tantas outras coisas que não custam pouco dinheiro.

O problema é que o trabalho "gratuito" - ou, quando muito, só com a grana do almoço - causa muito constrangimento e vergonha, porque, evidentemente, a pessoa não podia sobreviver por conta própria. Tinha que pedir dinheiro emprestado dos parentes, ou viver sustentado pelos pais. Não era um trabalho gerador de renda.

Tudo isso ocorreu até por volta de 2000, 2001. Com tantas ações trabalhistas nas costas, o líder "espírita" teve que se mudar para São Paulo. Antes, ele prometeu até emprego numa nova rede de TV paga que nunca saiu do papel, para compensar os atrasos salariais. Mas foi em vão. Ele teve que fazer suas pregações em outra freguesia, porque a de Salvador se sentiu lesada.

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