quarta-feira, 22 de abril de 2015
Espiritismo ou Familiarismo?
O que poucos observam nas práticas do chamado "movimento espírita" brasileiro é sua ênfase nos assuntos familiares, de tal forma que a gente fica perguntando se isso é realmente Espiritismo ou deveria se chamar Familiarismo.
Embora a questão familiar seja um aspecto importante da vida humana e em muitos casos crucial para o futuro de cada indivíduo, sua ênfase nas palestras ditas "espíritas" soa como um grande desvio de foco, já que a instituição Família é uma formação material e não tem relação direta com o mundo espiritual.
Isso revela, na verdade, um completo despreparo dos nossos "espíritas" em relação aos assuntos relacionados à natureza da vida espiritual. No Brasil, as ideias que se tem da vida após a morte e do mundo espiritual são meramente especulativas e, não raro, fantasiosas, mas descritas como se fossem certezas absolutas cientificamente comprovadas, quando nem prováveis conseguem ser.
Ninguém se encoraja a pesquisar sobre o mundo espiritual nem sobre como se fará contatos com espíritos do além. Não há estudos sérios levando adiante, salvo honrosas exceções que praticamente se emperram pela falta de recursos e de outros tipos de apoio.
Enquanto isso, no "espiritismo" brasileiro, o que se vê é gente que nada sabe querendo passar a impressão de que sabe tudo, de que precisa sempre estar com a resposta pronta na ponta da língua - algo que já vem dos "insuspeitos" exemplos de Chico Xavier e Divaldo Franco - mesmo quando a ignorância sobre um assunto fosse total.
Sabem aquelas pessoas que não entendem coisa alguma e tentam dar a impressão de que tudo sabem? Ou então as pessoas que, mesmo admitindo que não sabem, fingem que vão conhecer melhor e estudar mais? Infelizmente o pedantismo é uma "epidemia" muito forte no Brasil.
Por isso é que, quando a maioria dos palestrantes "espíritas" fala de contatos com espíritos, se perde no pedantismo científico mais constrangedor. Confundem Parapsicologia com Astrologia, consultório sentimental com Psicologia, e escrevem artigos citando Albert Einstein, Charles Darwin e Isaac Newton sem ter a mínima ideia de suas obras e ideias.
O "espiritismo" brasileiro é construído pelos vícios próprios existentes no nosso povo. É um religiosismo exagerado que se mistura com um confuso arremedo de cientificismo, cheio de incompreensões, equívocos, contradições.
Ele contraria frontalmente a essência de Allan Kardec, que pregava o equilíbrio de Ciência, Religião e Filosofia. O sentido kardeciano de "religião" se aproximava mais nos problemas de ordem moral do indivíduo humano do que de um processo rígido de seitas, ritos e dogmas.
Já o "espiritismo" brasileiro virou um engodo que realiza justamente o desequilíbrio entre uma Ciência mal compreendida, uma Religião levada ao exagero e ao fanatismo e uma Filosofia que nada tem de filosófica, apenas mostrando frases sentimentais e piegas, dessas que os internautas com preguiça de lerem livros colhem e colecionam nas suas contas nas mídias sociais.
E aí, o que se observa? Muita enrolação, muito papo furado, longos e cansativos seminários sobre Família que, em certos casos, cobram até taxa de inscrição ("é para a caridade, nééé..."), ou palestras pseudo-científicas onde se discutem e debatem temas que os próprios palestrantes fingem conhecer profundamente mas são completamente ignorantes.
E haja temas sobre Família: perda de entes queridos, sobretudo. De preferência, jovens, porque a energia maléfica espalhada por um Chico Xavier que se seduzia por mortos prematuros infecta muitas famílias felizes que geralmente perdem justamente aquele filho mais evoluído, aquela filha confidente, aquelas pessoas mais necessárias para ajudar nas dificuldades da vida.
Mas, fora isso, há muitas e muitas coisas, como indagar se o espírito já encarna na fase fetal ou se ele só entra no corpo de um filho depois do parto, se avós e netos apresentam mais afinidade que pais e filhos, se maridos e mulheres serão sempre almas gêmeas, se um mau filho de hoje será pai de um garoto-problema amanhã.
Há todo tipo de discussão sobre o tema Família. Já quando o assunto é vida espiritual, é tudo especulação, mas seus seguidores e adeptos tomam isso como "certo" por causa do status pseudo-científico que acumularam as obras "espíritas", sobretudo as de Chico Xavier (em especial as que levam o crédito de "André Luiz") e as palestras do "professoral" Divaldo Franco.
Por isso, o "espiritismo" brasileiro é feito por pessoas que desconhecem o verdadeiro Espiritismo. Gente que não lê Kardec e, quando lê, não consegue aprender direito. Finge que sabe, finge que aprendeu, finge que vai conhecer profundamente as coisas, mas no fundo tudo continua a mesma. E o que se observa nessa doutrina é justamente a ênfase no "Familiarismo".
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