sábado, 11 de abril de 2015

A corrupção, a impunidade e o fiado


A edição deste mês do Correio Espírita, periódico que segue ideologicamente o "espiritismo da FEB", tem como matéria de capa a corrupção, tendo como título a chamativa frase "Na realidade espiritual, nada acaba em pizza", em alusão ao famoso alimento associado à impunidade política.

Segundo o periódico, a corrupção política, como todos os erros humanos, terá seu preço "estabelecido" no retorno à "pátria espiritual", quando os devedores saberão o quanto deixaram de débitos para a humanidade, a serem pagos nas próximas encarnações.

Tudo bem, se fosse só isso. O grande problema é que o "espiritismo" brasileiro adota um estranho moralismo para o qual os erros são cometidos por longos períodos sem causar danos sérios a seus praticantes, beneficiados pela impunidade e pelo "exemplo de sucesso" que acabam deixando para seus seguidores e parceiros.

Existe até mesmo o julgamento "espírita", logo vindo de uma religião que pede para "ninguém julgar", de que corruptos, assassinos, ladrões e semelhantes agem prolongadamente e com êxito porque estariam "cumprindo" missões de "reajustes espirituais" ou "resgates morais" de suas vítimas. No "espiritismo" brasileiro, a vítima é a "culpada".

Dessa feita, a corrupção, que é o caso do artigo do Correio Espírita, e a impunidade que a protege, revelam uma espécie de "fiado" moral em que seus praticantes têm um longo prazo para estas práticas abusivas, e quando sofrem algum dano, ele não se torna grande o suficiente para intimidar suas atividades ilícitas.

Quando muito, pessoas que cometem graves erros são odiadas por multidões, mas são apenas arranhões que não comprometem o privilégio daqueles que agem em prol do egoísmo. Praticam longamente seus abusos e maldades, e vivem em relativo sossego embora longe de viverem em paz.

Quase não há decadência, diante dessa perspectiva, e o infrator ou criminoso só cumprirá os efeitos de seus abusos em uma ou duas encarnações adiante, de preferência quando tiver consequência do arrependimento. Quando não se arrepende, não paga pelos erros. Só começa a pagar quando não tem mais vontade de errar e passa a se opor às suas antigas atitudes e interesses.

O fiado é assim. A pessoa que poderia pagar deixa a conta para depois. Quando deixa de ter condição para pagar, a conta vem amarga. O devedor moral tem condições, na encarnação de seus atos errados, de sofrer desilusões pesadas ou mesmo de abreviar sua vida para evitar o prolongamento de sua vida de crimes e o aumento de influência de seus êxitos.

Mas, em vez disso, o pagamento só é feito quando ele não se acha mais nas condições de sofrer infortúnios, quando seu arrependimento se torna pleno e quando sua consciência repudia os antigos atos.

O fiado moral se reverte, quando seu faltoso já se arrependeu de seus atos, em juros pesados e prolongados, que o faltoso já não precisa mais suportar, mas têm que aguentar em doses maiores do que aquelas que naturalmente suportaria.

Com isso, o "espiritismo" brasileiro torna-se cruel, ao permitir que o egoísmo humano se prolongue demais numa vida para depois seus praticantes, no momento do arrependimento, sofrerem mais do que o necessário para o aprendizado e para o verdadeiro reajuste moral.

A corrupção política, que no Brasil atinge seu apogeu, não se limita a casos como a Petrobras e ao esquema de Marcos Valério. Também não se limita ao PT, PMDB e similares, mas também ocorre no PSDB, DEM e outros partidos mais conservadores.

À sua maneira, a corrupção também ocorre na Federação "Espírita" Brasileira, com seus chefões deturpando a Doutrina Espírita e estimulando a prática de falsas mediunidades - das quais Chico Xavier e Divaldo Franco não são exceção - que mancham o movimento religioso e agem por sua decadência devido a suas próprias faltas.

Enquanto as atividades "espíritas" desperdiçam seu tempo falando em "moralismo familiar" e "problemas emocionais", seu total desconhecimento da Ciência Espírita é mascarado por simulacros de mediunidade e compreensões fantasiosas do "mundo espiritual", que mal conseguem disfarçar conceitos moralistas, dogmáticos e ritualísticos herdados do Catolicismo medieval.

Por isso a própria "advertência" do Correio Espírita deveria servir para o próprio "espiritismo", de forma ainda mais grave e chocante do que prega para os corruptos políticos. Isso porque a ilusão de "superioridade" do "movimento espírita" já fez muitos de seus líderes se chocarem com a situação humilhante no regresso à vida espiritual.

Tomados de um estereótipo de filantropia e humildade que mascaram vaidades pessoais e práticas abusivas de enganação e ilusionismo, os líderes e anti-médiuns "espíritas", quando voltam ao mundo espiritual, sentem a aberrante e traumatizante decepção de verem que até mesmo a ilusão terrena da falsa humildade se desfaz no além-túmulo, como em todas ilusões levianas feitas na Terra.

Portanto, se a corrupção política não "termina em pizza" no além-túmulo, também não os líderes "espíritas" não se tornarão "iluminados" no retorno à vida espiritual. Pelo contrário, eles tornam-se ridiculamente inferiorizados e frustrados com a realidade que produziram na Terra.

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