terça-feira, 28 de abril de 2015

Livro revela que Carlos Baccelli praticava "leitura fria"


O anti-médium de Uberaba, Carlos Baccelli, discípulo de Chico Xavier e que, em parte, "auxiliou" as famílias dos mortos da tragédia da Boate Kiss, em Santa Maria (RS), ocorrida no ano de 2013, é apontado como coordenador da "leitura fria" que seus colaboradores faziam em seu "centro".

O dado se encontra no livro Por Trás do Véu de Ísis, do então imparcial pesquisador do "espiritismo", Marcel Souto Maior (convertido depois a um propagandista de Chico Xavier), e que será reproduzido a seguir.

A "leitura fria" é um mecanismo de manipulação da mente em que o entrevistador explora os gestos emotivos do entrevistado e realiza uma conversa com muitas perguntas sutis, de forma que seu interlocutor possa fornecer informações pessoais sem que perceba o que está fazendo.

Tudo é feito aparentemente sem pretensões e, no caso do "espiritismo", se aproveitam até mesmo informações colhidas "sem compromisso" de frequentadores de doutrinárias que conversam informalmente com palestrantes "espíritas" no final de cada doutrinária. Qualquer dado é ouro e tudo isso é juntado nos bastidores.

Há vários mecanismos feitos. Consultas de jornais e revistas, mais recentemente a da Internet, que reforçam a coleta de dados para produzir informações mais sutis e sofisticadas possíveis, de maneira a criar uma suposta psicografia convincente, através de uma estória dramática, de apelo religioso, escrita pelo suposto médium e atribuída ao espírito do falecido da ocasião.

Pois vejam a narrativa que Marcel havia escrito sobre Carlos Baccelli, que se responsabilizou pelas cartas atribuídas a dois mortos, Stéfani Posser Simeoni e seu namorado Guilherme Pontes Gonçalves. A carta atribuída a Stéfani apresentou irregularidades aqui analisadas.

CARLOS BACCELLI COM CHICO XAVIER.

Segue então a passagem do livro de Marcel logo abaixo:

Pais e mães vindos de todo o país esperam a vez de conversar com Baccelli, antes da sessão, numa saleta miúda localizada ao lado do hall de entrada. 

É ali, atrás de uma mesa de madeira, que Baccelli atende os candidatos a receber uma mensagem do além. Estes encontros se sucedem a partir das cinco da manhã, uma hora e meia antes do início da psicografia. 

Durante as conversas, quase sempre ligeiras, Baccelli pede mais detalhes aos visitantes sobre seus entes queridos e as circunstâncias da morte. Informações como nomes de avôs e avós são anotadas por ele, muitas vezes, em pequenos pedaços de papel, levados mais tarde até a mesa do salão principal, o palco da psicografia. 

Quem organiza a fila é um carteiro aposentado de Uberaba, o seu Paulo, sempre simpático e dedicado. Ele se posiciona em frente à porta da saleta, que se fecha assim que cada visitante entra. 

Neste sábado, ele está preocupado com a família que veio de carro de Florianópolis em busca de uma mensagem do filho morto. Foram dezenove horas de viagem. 

O pai do jovem está na fila e recebe instruções solidárias do seu Paulo: 

— Capricha, hein? Conta tudo pro médium pra você receber sua mensagem. 

O pai entra sozinho na saleta e, para alívio do seu Paulo, fica quase três minutos lá dentro.

— Este deve receber a cartinha — prevê o ex-carteiro, agora encarregado da correspondência entre vivos e mortos. 

O seu Paulo quase nunca erra. 

[...] 

Uma das cartas chama atenção especial pela crise de choro provocada na platéia. Um choro profundo, desesperado, que começa com lágrimas e soluços e termina com berros, gritos de dor e de saudade.

Querido papai Manoel João, querida mamãe Maria Therezinha, Esqueçamos o acidente de que fui vítima. Imaturidade aos 23 anos de idade… 

Os avós são citados, com nomes e sobrenomes, entre detalhes sobre as circunstâncias da morte: um acidente de carro. 

Quando a sessão termina, aproximo-me da mãe, ainda aos prantos, ao lado do marido contido e tenso. 

Demoro a reconhecê-lo. 

É o pai de Florianópolis, instruído pelo solidário seu Paulo. 

Dona Maria Therezinha não tem nenhuma dúvida: o filho dela está vivo. 

O seu Manoel João responde antes que eu tenha tempo de perguntar: 

— Tudo o que está na mensagem eu contei para o médium lá na sala — ele diz. 

(Abaixo, Marcel Souto entrevistando Carlos Baccelli)

— Por que o senhor… digamos… “entrevista”, antes da sessão, os visitantes que vêm aqui em busca de mensagens? Por que são necessárias tantas informações? 

Baccelli tem uma resposta pronta: 

— O trabalho de psicografia não é só dos espíritos. É do médium também. O médium é parte integrante da equipe espiritual e deve ser o guardião da autenticidade de cada mensagem. 

A coleta de informações antes da sessão teria, segundo o médium, as seguintes funções: facilitar a sintonia com os espíritos e preservar o trabalho de qualquer “fraude maledicente”. 

— Este, Baccelli, é um cenário de dor, fé, esperança e de desconfiança também. Muitos pais duvidam da autenticidade das mensagens quando encontram, nas cartas destinadas a eles, dados já revelados ao senhor — argumento. Baccelli reage com calma: 

— Este não é um problema meu. Não cabe ao médium duvidar. As pessoas duvidam até da existência de Deus, apesar de estarem diante da maior evidência de todas: a criação do mundo. 

A resposta se prolonga: 

— Normalmente as pessoas não querem apenas uma simples mensagem. Elas estão aqui porque querem o filho de volta, e isto as mensagens não conseguem fazer. Cada mensagem é de conforto, de esclarecimento, mas não é de convicção para aquele que não quer crer. A fé é uma conquista individual. Nós não nascemos com fé. A fé, como a paciência, como tudo, é uma conquista. A mensagem é um material de reflexão. 

A conversa se encerra com uma citação de Paulo de Tarso: 

— A profecia não é para os que duvidam, é para os que creem — diz Baccelli. 

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