segunda-feira, 13 de abril de 2015

O ridículo da "senha" de Chico Xavier


No final de sua vida, o anti-médium Francisco Cândido Xavier disse para seus amigos mais íntimos que havia criado uma senha para eles usarem para verificar a veracidade de futuras mensagens espirituais que levassem seu nome.

Segundo seus seguidores, essa senha seria um código que possibilitaria a identificação do espírito de Chico Xavier, que passaria um tempo "sem se manifestar"- ele "aposentaria o lápis e o papel", no seu dizer - e, quando se "manifestar", o código serviria para identificar a sua autoria.

A senha foi anunciada em 1994 para três pessoas: a amiga Kátia Maria, o filho adotivo Eurípedes Higino e o médico Eurípedes Tahan. Kátia já faleceu, guardando o segredo para si. Os dois Eurípedes mantém o segredo e também não revelarão.

Chega-se a dizer que "não há necessidade" de divulgar a senha, porque o "código maior" de Chico Xavier teria sido seu "trabalho para o bem". Uns temem também pela repercussão de uma mensagem espiritual atribuída a Chico Xavier.

Depois do dia do falecimento de Chico Xavier, num dia em que o "Brasil" (leia-se Ricardo Teixeira, Fifa, CBF e a Rede Globo) estava "muito feliz", muitas mensagens "espirituais" atribuídas ao anti-médium foram divulgadas, todas consideradas oficialmente inverídicas.

Lei de Causa e Efeito. Afinal, o próprio Chico Xavier havia divulgado mensagens que também eram inverídicas, como a série "Humberto de Campos" cujo estilo de prosa nem de longe lembrava o do saudoso escritor de O Brasil Anedótico.

Também era muito estranho que o anti-médium, que seus seguidores viam como se fosse uma espécie de Speed Racer da escrita mediúnica, divulgasse mensagens atribuídas aos mortos que quase sempre só tinham a assinatura do próprio "médium" ou, quando muito, de um colaborador, mas sempre divergindo das assinaturas originais daqueles que faleceram.

Quanto à senha, seria risível ou trágico conforme o enfoque emocional de cada questionador. Afinal, não há segredo algum no mundo espiritual e mesmo os espíritos mais traiçoeiros podem se servir dos mais intrincados segredos guardados por gente na Terra.

Chico Xavier, em verdade, era cercado de muitos espíritos obsessores. O caráter perverso do antigo jesuitismo encontrou atualização no "movimento espírita" e várias fotos de Chico Xavier apresentam um semblante pesado e assustador, como uma foto publicada na imprensa em 1935.

O próprio Emmanuel era autoritário e explorava a fragilidade de Chico Xavier. Certa vez, o anti-médium estava sem trabalhar porque estava com problema num dos olhos, e Emmanuel reagiu dizendo que seu subordinado tinha o outro olho sadio e que "ficar doente e poder trabalhar" era quase que "ter saúde". Bem tirano, o jesuíta.

Muitos espíritos farsantes, portanto, já têm a senha de Chico Xavier. Uma quantidade grande deles. E isso não é desaforo nem calúnia, mas uma constatação que se baseia nos avisos que Allan Kardec recebeu dos espíritos e registrou em O Livro dos Médiuns, aqui lembrado na tradução de José Herculano Pires.

Nele, há capacidade para tudo nas mensagens espirituais, e esse vale-tudo do além-túmulo nem de longe pode ser controlado por senhas. No capítulo 25, "Das Evocações", na questão 37 do item 283, Kardec questionava o sentido de pessoas terem recebido mensagens de espíritos de animais e a resposta foi contundente: "Evoque um rochedo e ele responderá. Há sempre uma multidão de Espíritos prontos a falar sobre tudo".

Imagine então o que seria a manifestação do tal "código de Chico Xavier"! E o próprio anti-médium, que fez das suas nas fraudes "psicográficas" - podemos dizer que eram pseudográficas - , fazendo pastiches literários e não convencendo os literatos mais renomados, não deixaria também de receber o troco de alguns desafetos espirituais ou mesmo de supostos médiuns terrenos oportunistas.

Imagine exigir autenticidade a um "médium" que, usando o nome de Humberto de Campos, o fazia ser um melancólico escritor igrejista, totalmente diferente do culto, fluente mas coloquial e descontraído prosador maranhense!

A senha então não passa de uma grande piada. Não existe segredo no mundo espiitual e os espíritos mais zombeteiros irão usar tranquilamente o código descrito por Chico Xavier. E vão passar uma mensagem de maneira verossímil ou intuir a um suposto médium para realizar um pastiche que possa condizer com as mensagens igrejistas do anti-médium mineiro.

Há um ditado gaúcho, muito popular, que diz: "Em tempo de guerra, mentira é como terra". Num país conflituoso como o Brasil, e diante de uma religião fraudulenta que é o "espiritismo", mentira é como "terra", habitual, abundante e real, principalmente aquela que usurpa as fantasias terrenas que se tem do além-túmulo e contaminam, como epidemia, nossos "espíritas" tão materialistas.

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