domingo, 12 de abril de 2015

"Cirurgias espirituais" revelam conflito entre "espiritismo" e Ciência


Já se falou do problema das chamadas "cirurgias espirituais" do "espiritismo" brasileiro. Um dos maiores problemas é típico dessa doutrina, que é o total desconhecimento da Ciência Espírita e as condições duvidosas que indicam exercício clandestino e improvisado da Medicina.

Os "espíritas", cheios de razão, ou melhor, cheios de falta de razão - uma vez que Razão é o que eles detestam, porque ela de vez em quando desafia a "fé espírita" - , se sentem ofendidos quando se acusa suas práticas "curandeiras" de exercício ilegal da Medicina, e preferem criar uma "medicina paralela" a ter que adotar procedimentos mais seguros e condizentes à Ciência Médica.

O que chama a atenção nas manifestações "espirituais" supostamente medicinais é que elas, praticadas a título de exercício "mediúnico", revelam o conflito que existe entre "espiritismo", ou ao menos as manifestações "mediúnicas independentes", e a Ciência na Terra.

O "espiritismo", tão metido a unificador, conciliador e aglutinador de tudo, suposto acolhedor da ampla diversidade de crenças e expressões da sociedade mundial, acaba reagindo com arrogância diante das acusações de charlatanismo e atribui à Ciência um "subproduto da paixão materialista dos homens".

Com arrogância, o "espiritismo" quer manter imaculado alguns valores e procedimentos que devem ser mantidos fora de qualquer avaliação do raciocínio humano, criando um terreno em que o surreal, o misterioso, o vago e o oculto possam viver sossegados, criando um mundo de fantasia contra o qual qualquer investigação lógica é desqualificada.

E isso cria problemas entre os critérios da "medicina espírita" e os da Ciência Médica aqui na Terra. Não há diálogo nem entendimento, o que há é o acolhimento da Ciência Médica nos limites que são permitidos pelo "movimento espírita".

Em outras palavras, a Ciência é só é benvinda se ela aceitar os dogmas, ritos e crenças do "espiritismo" brasileiro e agir em favor delas. Vide o caso dos acadêmicos da Universidade Federal de Juiz de Fora que arrumaram um jeitinho para legitimar as duvidosas "psicografias" de Francisco Cândido Xavier.

Se autoproclamando possuidor da verdade, o "espiritismo" brasileiro quer que a Ciência se ajoelhe a seus pés. Não questionar Chico Xavier nem Emmanuel (que sempre condenou o raciocínio investigativo e o debate), não adentrar no terreno da mistificação e aceitar certos absurdos porque eles agem de acordo com a "fé espírita".

E aí isso causa problema quando o assunto é "cura espiritual", porque procedimentos duvidosos poderiam ser substituídos por práticas espirituais que pudessem se harmonizar e dialogar com valores e conhecimentos da Medicina na Terra. Mas não são substituídos.

Tudo se limita a práticas duvidosas, misteriosas, e o valor delas está justamente no que está oculto e misterioso. As pessoas são desestimuladas a saberem por quê. Tudo fica "maravilhoso" porque ninguém sabe como e por que aconteceu. Apenas... "aconteceu".

Isso é ridículo. As pessoas têm direito de saber as justificativas das coisas e os segredos dos mistérios. O "espiritismo" se comporta igualmente ao Catolicismo medieval, do qual herdou sua essência bem mais do que a de Allan Kardec,

Sabe-se que o Catolicismo medieval criava também seu "terreno do surreal", em que deturpações narrativas de fatos bíblicos, com episódios fictícios ou detalhes surreais inseridos, cujo questionamento era severamente condenado sob a alegação do "mistério da fé".

Em que pese o "espiritismo" ter rompido com a maioria dos absurdos bíblicos, ele criou novos e mantém a prática de ocultar certas práticas, ideias e procedimentos para ser "temido" por seus seguidores, uma vez que o "mistério" domina mais as pessoas.

Daí que as "curas espirituais" tornaram-se um procedimento irregular e duvidoso. As pessoas são proibidas de saber como realmente se dão essas cirurgias, qual a relação delas com procedimentos científicos, e se contentam a aceitar procedimentos "simples" mas feitos em total ignorância tanto da Medicina terrena quanto da Ciência Espírita.

Cria-se um conflito entre a Medicina terrena e as práticas "espirituais", e isso prejudica a confiabilidade dessas cirurgias, que podem dar certo ou errado não pela luz da Medicina, mas por aspectos nebulosos que variam dos efeitos placebos ao mau agouro que os tratamentos espirituais costumam trazer para as pessoas.

E esse conflito é muito grave, diante do verniz "conciliador" do "espiritismo" brasileiro, com suas irregularidades, mistificações, fraudes, deturpações etc. E, no caso das "cirurgias espirituais", pode-se afirmar que a medicina "espírita" se mantém muito doentia.

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