quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Waldo Vieira é mesmo o verdadeiro André Luiz (TEXTO ATUALIZADO)


O critério mais seguro de identificação de uma mensagem espiritual são suas caraterísticas peculiares em relação ao espírito atribuído à mesma. Ou, quando é uma mensagem de autoria duvidosa, ela guarda o estilo não do espírito falecido mas do suposto médium que atuou "em nome" dele.

No caso do suposto espírito de André Luiz, que havia sido motivo de tantas controvérsias sobre quem ele havia sido feito de fato, pesquisamos a respeito de vários textos atribuídos a ele e chegamos à seguinte conclusão: André Luiz não passa de um personagem fictício que Waldo Vieira teria trabalhado sob encomenda da FEB.

Waldo Vieira era o garoto-prodígio da aparente mediunidade, e já aos nove anos dizia ter mediunidade e colecionava livros e revistas em quadrinhos - há volumes datados do final dos anos 1930 - e já exercia um trabalho regular de aparente mediunidade aos 13 anos de idade.

A trajetória do suposto André Luiz teria ocorrido entre 1943, com o livro Nosso Lar, e durou 25 anos. Não se sabe se Waldo já começou a trabalhar diretamente com as obras de André Luiz no começo, mas há indícios de que ele, por conhecer medicina e HQ de ficção científica, pode ter sugerido a Chico Xavier aspectos pessoais que compuseram o suposto médico espiritual.

Na essência, André Luiz acabou sendo uma "brincadeira" feita por Waldo e seu então parceiro Chico Xavier através de um livro que, embora se autoproclame como uma narrativa realista do mundo espiritual, mais parece uma ficção científica de qualidade inferior.

Note-se que Nosso Lar fez grande sucesso que a Editora da FEB resolveu explorar o filão "André Luiz" e, com isso, foram produzidos outros livros sob tal codinome. O pretenso cientificismo de "André" permitiu até que a FEB criasse um "substituto" para O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec, denominado Nos Domínios da Mediunidade, lançado em 1955.

Desta forma, Nos Domínios da Mediunidade se pretendeu ser uma tradução "mais moderna" do que a obra kardeciana, a pretexto de ter sido lançado 94 anos depois, além da desculpa da "adaptação brasileira", como alardeiam os chamados "espíritas" brasileiros.

POLÊMICA

Há três atribuições de quem teria sido André Luiz na vida, trazida por três correntes diversas do "movimento espírita", cada qual com sua pretensa certeza de sua tese particular, em que pese o caráter "unificador" do "espiritismo" brasileiro e de seu suposto compromisso com a coerência e o raciocínio discernitivo.

A primeira delas teria atribuído a identidade da última encarnação do suposto médico André Luiz ao cientista Osvaldo Cruz, criador das vacinas contra a febre amarela e a varíola. Foi a primeira atribuição dada por integrantes da FEB, mas desmentida depois de uma comparação com o texto de Nosso Lar.

Segundo o texto do livro, André Luiz era filho de um comerciante, enquanto Osvaldo (falecido aos 45 anos incompletos em 1917), era filho do médico veterano que serviu na Guerra do Paraguai, Bento Gonçalves Cruz (não confundir com o Bento Gonçalves da Silva, nome homenageado em cidade gaúcha, que teria sido líder da Revolução Farroupilha).

O próprio ano de falecimento de Osvaldo Cruz, 1917, contradiz com os relatos atribuídos a André Luiz, que sugerem que ele teria falecido entre 1929 e 1930, já que André teria narrado sua vida na colônia espiritual Nosso Lar em 1939 e teria levado de oito a nove anos para se firmar nessa colônia.

Há uma outra tese, atribuída ao médico e ex-dirigente esportivo, ex-presidente do Clube de Regatas Flamengo, Faustino Esporel, que havia exercido o mandato no clube em 1921. Não há muitas informações a respeito do dirigente na Internet, mas a tese foi defendida em livro escrito por Luciano dos Anjos, quando ainda estava ligado ao roustanguismo.

Aparentemente, a tese de Luciano dos Anjos parece verdadeira, como seu relato parece supor, mas há dúvidas se Esporel teria tido essa visão caricaturalmente cientificista, como a que se observa em Nosso Lar, por mais que se considere o esforço teórico de Luciano.

Apesar disso, a tese "vitoriosa" foi a de Waldo Vieira, que atribuiu a Carlos Chagas a identidade de André Luiz antes de seu falecimento, o que traz uma conexão de nove anos entre o falecimento do famoso cientista, em 1934, e a publicação de Nosso Lar, em 1943.

Mesmo assim, se a narrativa de Nosso Lar passa em 1939, esse dado cria um problema, porque, em vez de oito ou nove anos, teriam sido cinco os anos entre a morte do médico e sua estadia na colônia espiritual. Ainda assim, Carlos Chagas chega a ter suas fotos usadas como se fossem as de André Luiz.

SEMELHANÇAS TEXTUAIS

O blogue Obras Psicografadas, um dos principais espaços de questionamento dos deslizes do "espiritismo" brasileiro, publicou um texto que atribuiu a Nosso Lar e seus derivados o plágio do livro do médium protestante inglês George Vale Owen, A Vida Além do Véu, traduzido no Brasil em 1921.

Chico Xavier, provavelmente com alguma contribuição de Waldo Vieira, chegam a reproduzir, do livro de Owen, o roteiro novelesco que muitas obras "espíritas" utilizam, até mesmo quando anti-médiuns se apropriam de nomes contemporâneos como os dos roqueiros Cazuza (1958-1990) e Raul Seixas (1945-1989): sofrimento em zonas espirituais inferiores, internação em colônia espiritual e salvação da alma.

Mas o que se nota nesses livros, em que pesem os diversos plágios e as diversas identidades de celebridades - há quem afirme que André Luiz teria sido o médico fluminense Miguel Couto, apesar de falecido em idade relativamente avançada, aos 69 anos em 1934 - , é o pedantismo pseudo-científico caraterístico da Conscienciologia de Waldo Vieira.

É só observarmos os livros do ciclo Nosso Lar e as ideias difundidas por Waldo Vieira, que se desligou da FEB em 1968 e depois fundou, em Foz do Iguaçu, a Conscienciologia, pseudociência de cunho místico-psicológico. A Conscienciologia, que ainda tem uma divisão chamada Projeciologia, apresenta muitos dos aspectos pseudo-científicos descritos em Nosso Lar.

Daí que a identidade se dá através das obras, das semelhanças exatas de diferentes fenômenos. André Luiz, portanto, não teria sido mais do que um personagem de Waldo Vieira, que criou o personagem que Chico Xavier aproveitou em seus livros e "segurou" o personagem após o desligamento de seu criador, mas herdou as caraterísticas que teriam sido traçadas por Waldo.

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