quarta-feira, 10 de setembro de 2014

"Espiritólicos" se apavoram com questionamentos sobre a Doutrina Espírita


Na Internet, começam a haver reações desesperadas dos chamados "espíritas" que se assustam com os crescentes questionamentos que envolvem a Doutrina Espírita, sobretudo em relação aos descaminhos que foram adotados pelo chamado "movimento espírita" no Brasil.

As queixas são variadas, mas se referem geralmente ao "intelectualismo excessivo" e à "falta de amor" nos espaços de discussão. Sobretudo quando anti-médiuns que, durante décadas, gozavam de altíssima reputação, como Chico Xavier e Divaldo Franco, são agora desqualificados tal qual Paulo Maluf na política nacional.

A razão que se pode obter nessa situação é que o chamado "espiritismo" brasileiro sempre se valeu numa religiosidade em que a emoção exercia supremacia sobre a razão, e que o pretexto do "amor e paz" impedia que se estimulassem o questionamento e o debate, enquanto permitia que o sentimentalismo fosse além dos limites.

Por isso, pessoas que nunca estavam acostumadas ao debate e que eram habituadas a cultuar mitos e totens, numa emotividade exagerada que beira à pieguice e é herdada do antigo sentimentalismo da devoção católica, passaram a ver os debates atuais e crescentes como algo catastrófico e alarmante.

Tais questionamentos, aliás, são considerados pelos dirigentes "espíritas" - FEB e derivados, mesmo "dissidentes" - pelos adjetivos preconceituosos de "escândalo", "conflito" e "sensacionalismo". Querendo defender seus interesses, tais dirigentes trabalham a ideia de que esses debates "pregam a desunião" e ameaçam a "doutrina de paz e amor" que "une os homens".

"FÉ RACIOCINADA"

Existe o mito da "fé raciocinada" nos meios "espíritas", um engodo que interpreta muito mal a ideia de religiosidade difundida por Allan Kardec. O professor lionês nunca quis criar uma religião e o sentido de religiosidade que difundiu tem muito mais a ver com o aspecto filosófico-moral do que com o misticismo moralista que se acredita no Brasil.

Kardec falava de religiosidade no sentido filosófico e talvez pré-antropológico, já que a Antropologia era uma ciência que só se desenvolveria anos mais tarde. Era a relação entre o homem e uma força criadora das coisas, a que se atribui o nome de Deus, e cujas caraterísticas ainda são muito desconhecidas e até duvidosas.

Em nenhum momento Kardec quis fundar uma religião ou fosse exaltar a devoção religiosa como princípio maior da emancipação humana. O que ele quis dizer é algo que ele até admitia mais dúvidas que certezas, sobre a relação do indivíduo humano com o chamado "criador", e no desenvolvimento filosófico da moralidade através dessa relação.

Neste sentido, a "fé raciocinada" - um espírita autêntico propôs substituir o termo por "fé raciocinante", por ver nesta expressão maior coerência - seria um processo mais marcado pela dúvida do que pela certeza, dentro da milenar relação do ser humano com o desconhecido, com o incerto.

Através dessa ideia, infere-se que o homem busca o reconhecimento de uma força original de todas as coisas, mas que esse reconhecimento não é garantia de certezas, mas fonte originária de dúvidas e questionamentos.

O homem, surgido como animal racional, estaria assim abrindo caminho para questionar todas as coisas e fenômenos, em vez de se contentar com o "mistério da fé" que deixa "arquivados" os segredos de fenômenos mal-interpretados ou mesmo de processos surreais.

Foi assim, por exemplo, com a má interpretação de que o profeta Moisés "abriu" o Mar Vermelho, como se fosse "cortar" o mar como quem divide um pão em fatias. Algo bastante ilógico e sem sentido, e que seria melhor interpretado por físicos do que por religiosos.

Mas o "mistério da fé" protege tais mitos como se fossem "reais", como se fossem vetados à apreciação da razão humana. E foi isso que fez a doutrina de Jesus e seus antecessores ser violentamente deturpada pela Igreja Católica e seitas protestantes, transformando os fatos bíblicos em fábulas surreais de fazer um escritor de ficção científica sair babando.

No "espiritismo" brasileiro, a "fé raciocinada" também não melhorou muito essa incompreensão. A ciência é apenas bajulada e mencionada de forma pedante, superficial e oportunista. Enquanto isso, toda sorte de deturpações, más interpretações e fraudes reduzem a Doutrina Espírita, no Brasil, a um igrejismo em que a "fé raciocinada" tem muito de fé e nada de raciocínio.

Durante muitos anos, essa "fé", na verdade uma fé cega e deslumbrada, um alucinógeno em forma de pregações religiosas, permaneceu na "paz-sividade" do não-questionamento. Em nome da "razão", não se raciocinava, apenas se acreditava e se usava uma argumentação confusa, supostamente "científica", para legitimar tais absurdos.

Agora que questionamentos profundos e até severos surgem, a ponto de ameaçar os prestígios de antigas estrelas do "espiritismo" brasileiro, as pessoas se apavoram e se assustam. E vão reclamar para seus ídolos, alegando "falta de amor" e de "boas energias". O que é um grande equívoco.

Pelo contrário, o "espiritismo" brasileiro é que atraiu para si energias pesadas, por causa das deturpações e fraudes que cometeu, e que foram acobertadas por uma falsa aura de "amor e caridade". Sem falar de um moralismo retrógrado e até mesmo da glamourização da morte alheia, que parece exercer nos ditos "espíritas" um fascínio a um só tempo mórbido e sensual.

Muito se fala em luz, para acobertar as trevas dessa doutrina. Da mesma forma que se usava o pretexto da fraternidade para acobertar intrigas, fraudes e vaidades pessoais. Revelar tudo isso não é falta de amor, mas busca de bom senso e do altruísmo perdido que originalmente era feito pelo professor Kardec, tão bajulado porém tão desprezado em seu legado de conhecimentos.

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