quinta-feira, 14 de julho de 2016

Os "espíritas" foram apoiar o ódio e a revolta

JANAÍNA PASCHOAL E MARCELLO REIS - Ódio e revolta a uma presidenta que queria melhorar o Brasil.

Tentando aliar um profetismo exageradamente otimista e uma visão política pedante, o "movimento espírita" caiu em grave contradição quando foi elogiar as manifestações do 13 de Março, classificando as passeatas ocorridas na referente data, neste ano, como sinais de "regeneração" da humanidade.

A religião que sempre apela contra o ódio e a revolta foi justamente exaltar movimentos que surgiram dos piores exemplos de ódio e revolta que se observa nas mídias sociais da Internet e em setores reacionários da política, da imprensa e do Poder Judiciário.

O "histórico" 13 de Março, no qual manifestantes pediam até a volta da ditadura militar, foi exaltado pela suposta indignação contra a corrupção política. E, do contrário das manifestações de 2013, foi um evento puramente partidarizado, financiado por corruptos bem piores do que o que se atribui aos ditos "petralhas", nome pejorativo dado aos petistas (pessoas ligadas de alguma forma ao Partido dos Trabalhadores).

Denúncias recentes, reveladas por gravações trazidas por delatores da Operação Lava-Jato, como Sérgio Machado, ex-senador do DEM e ex-presidente da Transpetro, mostram que os organizadores de tais passeatas, como o Movimento Brasil Livre e o Revoltados On Line, foram financiados por partidos como o PSDB, PMDB e DEM.

O financiamento envolveu não apenas pagamento em dinheiro, como remuneração a esse falso ativismo. Ele se deu também pelo fornecimento de serviços gráficos, produção de camisetas, pagamento de lanches e almoços e aluguel de ônibus de excursão. Instituições como a FIESP e empresas estrangeiras instaladas no Brasil também teriam financiado os movimentos.

Isso é estarrecedor. Além do mais, se observarmos bem, todos esses protestos surgiram de campanhas de ódio vindas da imprensa reacionária, como a revista Veja que, recentemente, deu capa ao "médium" João Teixeira de Faria, o João de Deus, que tem como principal colunista o truculento Reinaldo Azevedo, e refletiu nas mídias sociais.

Troleiros, cyberbullies, fascistas digitais, "midiotas" e outros desordeiros, que espalhavam de comentários racistas a defesas de arbitrariedades políticas ou modismos de mídia, eram os mais entusiasmados manifestantes dessa campanha que fazia de Lula e Dilma Rousseff as únicas pessoas que uma boa parcela da sociedade se achava sob o direito de caluniar e difamar sem piedade.

Personalidades como Marcello Reis - do Revoltados On Line - e a juíza Janaína Paschoal mostram o quanto o "espírito do 13 de Março" é carregado de muito rancor. E logo o "espiritismo", que tanto reprova o ódio e a revolta, definindo como "regeneração" e "libertação" uma série de passeatas cujo um dos patrocinadores tem o nome de "revoltados".

Além do mais, toda essa campanha "vitoriosa" resultou num governo marcado por sucessivos escândalos de corrupção, incidentes que não eram apenas constantes, mas muitíssimo graves. Ver que o presidente interino, Michel Temer, é ele mesmo um condenado político, proibido de concorrer a um cargo eletivo por oito anos, devido a um crime eleitoral (doou mais do que devia numa campanha em 2014) é muito preocupante.

REGENERAÇÃO? ORGANIZADORES DAS PASSEATAS DO 13 DE MARÇO POSANDO AO LADO DE EDUARDO CUNHA E JAIR BOLSONARO.

Hoje o Brasil está desgovernado. Recentemente, vieram propostas das mais reacionárias, que praticamente deixariam os brasileiros em um padrão profissional anterior ao da Lei Áurea. E logo o "espiritismo", que superestima a Abolição, apoiar movimentos que resultaram num governo que quer retomar padrões escravocratas do mercado de trabalho.

Imagine: o cidadão ganhando menos salário, perdendo encargos e garantias sociais - não terá mais assistência médica gratuita no caso de sofrer um acidente de trabalho - , tendo uma carga horária semanal de 80 horas e se aposentando apenas aos 75 anos de idade, quando sabemos que, nas classes populares, a pessoa já fica velha e doente com 55 anos.

Foi isso que o governo Michel Temer cogitou fazer dias atrás. E as pessoas, tranquilas com esse "governo de salvação nacional", não sabem a catástrofe que ele representa. E os "espíritas", apoiando direta ou indiretamente esse cenário, caíram em suas próprias contradições, mais uma vez com atos que deixariam Allan Kardec profundamente envergonhado.

O "espiritismo", ao apoiar os movimentos do 13 de Março, portanto, provou ter cometido duas graves contradições, que praticamente desmoralizam a doutrina brasileira:

1) Condenando o ódio e a revolta, o "espiritismo" definiu como "libertadoras" e "regeneradoras" passeatas e manifestações movidas pelo ódio e pela revolta, das quais muitos pediam não só a volta à ditadura militar mas, se preciso, morte a Lula e Dilma Rousseff. Além disso, um dos organizadores do "memorável" 13 de Março é uma instituição com o nome de Revoltados On Line.

2) Superestimando a Lei Áurea, ignorando que a Abolição assinada pela Princesa Isabel não conseguiu resolver os problemas dos escravos libertos, os "espíritas" também se contradisseram quando foram exaltar o 13 de Março definindo-o como "libertador", mas abrindo o caminho para o governo de Michel Temer que propôs medidas para retroceder o mercado de trabalho justamente aos padrões escravocratas ou, quando muito, para os primórdios desumanos da Revolução Industrial.

DONOS DA REDE GLOBO, PROPAGANDISTA DO 13 DE MARÇO, MANTÉM PROPRIEDADE ILEGAL EM PARATI.

Há também o aspecto da desinformação, como o fato de que o evento "libertador" do 13 de Março abriu caminho para votações e processos jurídicos marcados pela corrupção. As manifestações do 13 de Março, supostamente "contra a corrupção", além de ter aberto o caminho para gente muito mais corrupta (na política, na mídia, no Judiciário) também não poderiam ser de conscientização política, porque os mais conceituados analistas políticos afirmam que é um ato de "analfabetos políticos".

É bom deixar claro que a maior rede de televisão que fez propaganda para o 13 de Março, a Rede Globo, que os "espíritas" conhecem pelo carinho que ela trata figuras igrejeiras como Chico Xavier e Divaldo Franco, é de uma empresa que sonega impostos e cujos donos, além de acusados de abocanharem boa parte da grana do Criança Esperança, ainda recebem verbas públicas e, multimilionários, figuram na lista da Forbes entre os mais ricos do Brasil.

Os empresários João Roberto, José Roberto e Roberto Irineu, filhos do falecido Roberto Marinho, ainda estão associados a um triplex em Parati, no Sul fluminense, uma propriedade construída ilegalmente, sem alvará, e sobre um terreno que deveria ser de proteção ambiental, onde deveria ter sido proibida a construção de determinada residência.

Mesmo a suposta imparcialidade do juiz midiático Sérgio Moro - com uma aparência que lembra um Superman hollywoodiano - , típico herói de novela da Globo, se demonstra uma farsa, diante do fato de que o juiz paranaense só se dispõe a prender e investigar políticos do PT, enquanto finge que vai investigar políticos do PSDB e PMDB, neste caso criando desculpas para eventuais vacilações.

Além disso, as "iluminadas" manifestações tiveram como efeitos uma votação patética na Câmara dos Deputados, em 17 de abril, cujo presidente, em menos de três meses depois, renunciou ao cargo diante de tantas denúncias graves de corrupção e até acusações de violentas chantagens.

Sim, se está falando de Eduardo Cunha, um dos ídolos dos organizadores das passeatas de 13 de março de 2016, uma das figuras mais traiçoeiras e ameaçadoras da política brasileira dos últimos tempos. Ele apareceu certa vez recebendo o apoio de membros do Movimento Brasil Livre e Revoltados On Line, responsáveis pelas "memoráveis" manifestações de 13 de março.

É como, usando jargões "espíritas", as "crianças-índigo" se reunissem com um "espírito trevoso" para celebrar uma causa em comum. Aliás, dois "espíritos trevosos", uma vez que, na memorável reunião dos "pais" do 13 de Março, Movimento Brasil Livre e Revoltados On Line, estava não só Eduardo Cunha, mas o líder neo-fascista Jair Bolsonaro, famoso pela homofobia e pela apologia ao estupro e à tortura ditatorial.

O 13 de Março não pode ser considerado um momento de despertar político, porque o desconhecimento da História, o reacionarismo político extremo e os preconceitos morais e sociais existentes revelam, na verdade, uma série de passeatas de "analfabetos políticos", que permitiu tanto a mudança de governo para um cenário calamitoso como o de Michel Temer e companhia, que agora ninguém faz o mesmo contra esta situação.

O "espiritismo" errou mais uma vez, e mais uma vez caiu em uma situação insustentável, exaltando um cenário de profundo reacionarismo político como se fosse o "início de uma época de regeneração" da humanidade. Deu um tiro no pé.

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