sábado, 31 de janeiro de 2015

Autênticos espíritas brasileiros desconhecem critérios de mediunidade


Mesmo as pessoas que fazem críticas sérias aos descaminhos do "movimento espírita" brasileiro e reclamam a recuperação das bases kardecianas ainda mantém um sério medo diante de tantas irregularidades. Sem terem a firmeza do professor lionês, eles se limitam a criticar tais descaminhos apenas dentro de problemas óbvios como "fulano não leu Kardec".

Todavia, eles chegam mesmo a atribuir autenticidade a anti-médiuns como Divaldo Franco e Francisco Cândido Xavier, e tudo que se faz nesses círculos é analisar apenas seus erros e equívocos. Eles não leram Allan Kardec, mas parecem destinados a saírem incólumes, para muitos, diante de uma possível recuperação das bases kardecianas.

As pessoas preferem apostar no duvidoso, no discutível, dando-lhe uma credibilidade e uma veracidade que não existem. Analisamos as contradições de Divaldo Franco, Chico Xavier e José Medrado, mostrando irregularidades sérias de suas atividades ditas mediúnicas, e obtivemos constatações fazendo análises cuidadosas de conteúdo.

Algumas fotos de Chico Xavier "psicografando", na verdade, mostram mensagens que só têm a caligrafia do anti-médium mineiro. Isso traz veracidade na mensagem espiritual? Não traz. Mesmo que a mensagem evoque aspectos referentes à vida pessoal do falecido, elas não garantem que haja veracidade ou sejam realmente confiáveis.

Vamos comparar, por exemplo, um tênis pirata da Reebok. A essência do falso é ser igual ao verdadeiro. Nota-se, no tênis falsificado, os mesmos elementos estéticos e funcionais que se apresentam no tênis verdadeiro, só que de forma mais limitada e malfeita. Não são as semelhanças que garantem que o produto é verdadeiro, mas uma série de fatores.

A procedência, as caraterísticas mais sutis, a observação se há alguma contradição que denuncie a falsidade de um produto, outros detalhes técnicos, tudo isso deve ser observado. Da mesma forma que uma nota de dinheiro, numa época em que as notas falsas tentam apresentar alguns aspectos mais sutis, como a "marca d'água".

Na mediunidade, é a mesma coisa. Se ela apresenta algum aspecto de contradição, podem anotar que é fraude e o anti-médium é charlatão. Não tem choradeira que faça voltar atrás. Se existem provas, devemos estar do lado da razão, da coerência, da realidade dos fatos, que está acima de qualquer indivíduo, seja ele prestigiado ou não.

ANÁLISE DE CONTEÚDO DERRUBA FÁCIL

Um exemplo: a psicofonia de Divaldo Franco. Certa vez ele falava com sua voz natural e, sem qualquer pausa, saía uma voz de um velho bonachão atribuída a Bezerra de Menezes. Isso é aberrante e de cara, não tem o menor grau de veracidade.

Primeiro, porque dois espíritos não podem, num processo mediúnico, falarem sem alguma pausa. Isso é incoerente. Sendo pessoas diferentes, há uma pausa entre o fim da fala do médium e o começo da do espírito. Não pode haver essa sincronia de duas pessoas "falando como se fosse uma só voz", coisa que só a pieguice emotiva e cega tem a arrogância de "legitimar".

Segundo, porque não há uma voz conhecida de Bezerra de Menezes, que viveu o tempo em que a invenção do fonógrafo era muito recente e por isso mesmo as personalidades ilustres dificilmente deixaram registros sonoros.

Além disso, notou-se que o "Dr. Bezerra" da suposta psicofonia de Divaldo Franco contradisse com a de José Medrado. O de Divaldo era sereno, bonachão e tranquilo. O de Medrado, esganiçado, agonizante e aflito.

Quanto a José Medrado, analisamos a contradição das pinturas verificando os quadros originais de Claude Monet, Edouard Manet e Pierre-Auguste Renoir, e notamos dessemelhanças entre os quadros de cada um deles com os de Medrado, ao passo que os quadros "mediúnicos" apresentam um mesmo estilo e as assinaturas mais parecem vir da mão do próprio Medrado.

Há muitas contradições, irregularidades, equívocos, que muitos analistas espíritas, mesmo sérios, têm muito medo em apreciar. Confiantes no status de Divaldo Franco e Chico Xavier, acham que a mediunidade atribuída a eles é "100% confiável", quando, em seus históricos, existe graves acusações de plágios, fraudes, adulterações e outros artifícios nada honestos.

ALLAN KARDEC ERA CÉTICO

Outro aspecto a destacar é que Allan Kardec era muito cético e não dava uma confiabilidade absoluta às mensagens espirituais trazidas a seu conhecimento. Se os brasileiros lessem mais O Livro dos Médiuns, na tradução de José Herculano Pires, ficariam envergonhados com a alta reputação que Divaldo e Chico acumularam para si ao longo dos anos.

Kardec descrevia que era muito difícil reconhecer a identidade de um espírito falecido. Ele adotava critérios que se aproximassem da veracidade, que ele definia como provável e não absoluta. Ele estabeleceu um método que se aproximasse da veracidade, mas que mesmo assim não é garantia alguma de êxito sem algum risco de irregularidade.

Esse método, incluído no Controle Universal do Ensino dos Espíritos (C. U. E. E.), consiste em colher mensagens atribuídas a um espírito falecido através de diferentes médiuns, sem qualquer relação entre si, e verificar se tais mensagens apresentam caraterísticas rigorosamente comuns.

Por exemplo, se quisermos receber uma mensagem escrita do ex-beatle John Lennon, teríamos que recorrer a um médium de Cuba, outro na China e outro na França, sem qualquer relação entre si, e depois verificar se a caligrafia e o estilo de linguagem correspondem ao do músico inglês, sem que apresente algum aspecto que apontasse alguma falha.

No Brasil, nem isso é garantia de veracidade. Até porque o corporativismo "espírita" - há "espíritas" divergentes que cometem a mesma pseudo-mediunidade - faz com que diversos supostos médiuns de diferentes partes do país, sem relação entre si, possam, mesmo assim, serem igualmente fraudulentos.

Houve tentativas assim, de maneira capenga - e com algum vínculo institucional entre os ditos médiuns - , relacionadas ao esforço de familiares das vítimas do incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria, de colher mensagens de seus entes mortos.

Supostos médiuns do interior de São Paulo e do de Minas Gerais foram escolhidos para a aparente tarefa. Mas contradições apareceram, como falhas na assinatura de Stéfani Posser Simeoni e uma pregação religiosa demais de outra vítima, que "teorizava" demais sobre "reajustes espirituais".

Chico Xavier, espécie de "grife" do "espiritismo" brasileiro, também está associado a muitas irregularidades. E olha que ele era o único recorrido por tantas pessoas, despreocupadas em tentar recorrer também a outros supostos médiuns para ver se as mensagens de um mesmo espírito não se contradiziam.

Até o caso de Jair Presente não deixou de apontar fraudes. As famílias tentaram argumentar que Chico detinha informações "difíceis" sobre o falecido jovem, mas uma comparação que fizemos entre a primeira mensagem "mediúnica" atribuída a ele, de um religiosismo exagerado, expressava uma aberrante contradição com outra, com excesso de gírias hippie e narradas com nervosismo de alguém que estava sob o efeito de drogas.

Análise de conteúdo derruba fácil as fraudes mediúnicas. Nem é preciso ser grafologista ou bacharel, bastando apenas ter uma observação bastante apurada. No caso de Humberto de Campos, por exemplo, a análise de conteúdo derruba, definitivamente, qualquer hipótese de que o autor de O Brasil Anedótico tenha realmente escrito as obras atribuídas ao seu espírito.

O estilo de Humberto era culto mas levemente coloquial, de temática laica e bastante descontraído. O do seu suposto espírito era tristonho, excessivamente religioso e de referenciais igrejísticos. Em muitas passagens, identifica-se, nos textos atribuídos ao espírito de Humberto, semelhanças com a retórica de Chico Xavier ou com o moralismo literário de Antônio Wantuil de Freitas.

A análise de conteúdo é, portanto, um embasamento científico na essência, mas que pode ser aplicado por pessoas de formação mais simples. Comparar estilos, confrontar contextos, verificar caligrafias, observar situações, entre tantos outros critérios, fazem com que não seja difícil observar irregularidades diante de mensagens supostamente espirituais.

Tudo é uma questão de pesquisa, raciocínio e discernimento. O resultado final pode ser extremamente doloroso, até chocante, para muitas famílias ou para os seguidores de algum médium-estrela do "movimento espírita". Mas é preferível ficar com a realidade dos fatos do que relativizarmos a lógica atribuindo veracidade a coisas absurdas e contraditórias.

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