quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Nas supostas "psicografias", o "escritor-fantasma"' está no mundo dos vivos


A mediunidade brasileira é uma coisa surreal e ridícula. Afinal, seu processo enfatiza muito mais as "palavras de amor", um mero amontoado de vocábulos açucarados, do que qualquer manifestação real dos espíritos falecidos.

Artistas pesando nas "mãos" perispirituais, ícones da cultura jovem adotando um discurso formal e solene demais - como no caso de Rafael Mascarenhas, filho de Cissa Guimarães, e do roqueiro Chorão, líder do Charlie Brown Jr. - , obras "mediúnicas" que apresentam plágios literários explícitos etc.

Essa indústria de livros e mensagens "psicografadas" - sejam elas pinturas, cartas, vozes etc - mostram o grave grau de charlatanismo que envolve até mesmo astros "espíritas" ainda muito badalados, e tais atividades não diferem muito das supostas biografias que alimentam o mercadão das celebridades.

Sabe-se da existência do "escritor-fantasma" - ghost-writer, em inglês - que é o escritor anônimo ou semi-anônimo que está por trás de um livro supostamente escrito por alguém famoso, e que quase não leva crédito de autoria, às vezes, quando muito, como um "co-autor".

Normalmente, nesse mercado, o famoso que quer lançar sua "autobiografia" conversa com o escritor, dá seu depoimento sobre como deve ser narrada a sua vida e o escritor faz todo ou quase todo o trabalho, enquanto atribui ao famoso a autoria total ou principal da obra.

No "espiritismo" brasileiro, o "escritor-fantasma" bem que poderia ser o espírito que se manifesta na mensagem mediúnica, mas esse espírito nem sequer chega perto, não diz um pio, não mexe no pincel, não fala uma sílaba e não põe uma vírgula nas supostas obras "espirituais".

Quando muito, espíritos zombeteiros podem aparecer fazendo o seu teatrinho. "Olha, eu fui a atriz tal, eu sofri nas trevas da desolação, fui socorrida na colônia espiritual e reencontrei a luz fraterna em Cristo", dirá algum deles. Mas não raro os "escritores-fantasmas" são os próprios que se autointitulam "médiuns".

A imaginação fértil desses escritores "fantasmas" em carne viva faz com que as personalidades dos falecidos sejam parcialmente reproduzidas nas obras, e mesmo assim da forma mais estereotipada possível - vide os casos de Raul Seixas e Cazuza - , enquanto se insere algum proselitismo religioso.

É assustador como muita gente acredita na veracidade dessas obras, quando a gente vê que nada do espírito falecido realmente apareceu ou se aproximou, o que se observa, na verdade, são obras fictícias, em que os supostos médiuns, na verdade, botam o que sua imaginação supor, no mais errante juízo de valor, de quem seriam os espíritos das pessoas depois de mortas.

Por isso, esses pretensos médiuns na verdade se equiparam aos "escritores-fantasmas" do show business e, da mesma maneira que estes, promovem o sensacionalismo tentando impressionar a opinião pública às custas da exploração da imagem de entes queridos ou de gente famosa, reduzidos estes a meros propagandistas religiosos das mais baixas categorias.

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