terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Governo Dilma Rousseff já sinaliza fim do sonho do "Brasil Coração do Mundo"

KÁTIA ABREU (E), AO LADO DA PRESIDENTA DILMA ROUSSEFF - A nova ministra da Agrigultura irá governar para os grandes fazendeiros e para o agronegócio.

Francisco Cândido Xavier nunca passou de um sonhador. Ele queria ver o Brasil transformado em nação mais poderosa do mundo. Sonho infantil e tolo, mas, como é Chico Xavier, um homem que conseguiu status e visibilidade e, para uns, é quase um vice-deus (mais do que um semi-deus), tais devaneios de poucas horas de sono viraram profecia para toda a humanidade.

Se eu sonhar que pesquei uma sardinha e acordei com a impressão de que a pesca irá transformar a vida de meu país, por este ou aquele pretexto, diriam que eu estaria maluco. Mas, fazer o quê, às vezes o status social, que dependendo do caso beneficia Chico Xavier, ou Neymar, Luciano Huck, Fernando Collor, Ivete Sangalo ou Jaime Lerner, etc, garante certas prerrogativas.

Mas aí a realidade bate à porta e o Brasil que não "aconteceu" em 2014 - a vitória na Copa do Mundo de 2014 tinha tudo para ser um "aperitivo" para o "coração do mundo" pós-2019 - têm que pagar as contas da festa arruinada com um governo Dilma Rousseff que decepciona seus próprios apoiadores.

Dilma anunciou, já no fim do ano passado, que seu governo adotará uma linha econômica bastante conservadora, convidando o ex-executivo do Bradesco, Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, para promover uma política de cortes de gastos e redução de investimentos.

Levy é adepto do falecido economista neoliberal dos EUA, Milton Friedman. O ministro foi colaborador de Armínio Fraga, que, por sua vez, foi pupilo do magnata George Soros, que, para desespero dos adeptos de Chico Xavier, é o "senhor do mundo" e não é brasileiro, e patrocina desde projetos internacionais de informática até mesmo o "funk carioca".

O ministro avisou que vai tomar uma política austera de cortes de investimentos, que podem, à primeira vista, não afetar os projetos sociais da presidenta - como Bolsa Família - , mas poderão representar aumentos de preços e um controladíssimo reajuste salarial que sangrará as finanças de muitas famílias.

Para começar, a energia elétrica já teve um reajuste de 17% da tarifa, meses depois da esperança de queda nos preços. Num dia de calor, com uso intenso de ar condicionado e ventilador, isso traz uma diferença enorme, fazendo com que as contas se tornem mais salgadas.

Já a escolha de Kátia Abreu para a pasta da Agricultura, numa situação insólita para alguém que era desafeta do PT e fazia violentos ataques ao governo Lula, pode representar políticas impopulares para as populações rurais, já que Kátia Abreu é ligada aos grandes latifundiários que investem no agronegócio e, como senadora, integrou a bancada ruralista do Congresso Nacional.

Isso significa que os pequenos agricultores e os deserdados da terra não poderão ter chances de ter algum terreno para plantar produtos agrícolas ou cultivar seus próprios alimentos, já que as medidas irão privilegiar os grandes proprietários de terras.

E o que isso tem a ver com o tal "coração do mundo"? Muito. A "previsão" de Chico Xavier foi tão "certa" que o Brasil não foi o primeiro país a se tornar potência econômica dos emergentes, tendo sido passado para trás pela China ainda autoritária, castigada por intempéries e escrava da tecnoburocracia.

Evidentemente, ainda não estamos em 2019. Mas será que virá a fada-madrinha, quando chegar o referido ano, com sua varinha de condão e vai transformar a nação-borralheira num país de prosperidade e predestinado a conduzir a humanidade planetária às custas de BRT, "funk carioca" e Campeonato Brasileiro de Futebol?

Não. Infelizmente o Brasil ainda não enfrentou os problemas e dilemas do "velho mundo", e não será com orações em silêncio que se dará o tão sonhado desenvolvimento econômico, social, político, cultural e moral. Isso tudo, só em sonhos já outrora sonhados pelo "velho Chico".

O Brasil não viveu as contradições, os arbítrios, as injustiças, os dramas e as desilusões vividos na Europa. É só observar o que é o cinema independente europeu, dotado de questionamentos e reflexões, mesmo melancólicas, em contraste com as utopias surreais expostas pelo cinema brasileiro onde até os documentários "sonham demais".

A overdose de informação, considerada uma catástrofe pelos intelectuais mais conceituados do Primeiro Mundo, aqui é um tabu, uma frescura para quem não aprecia a "liberdade de imprensa". A espetacularização do entretenimento, que na Europa é um problema, aqui é servida como "artigo fino" até por monografias de antropólogos tidos como "conceituados".

O Brasil ainda está no conto-de-fadas. A própria linguagem do livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, lembra mais a de um livrinho didático infantil extremamente ruim, desses que depois são apreendidos pelo Ministério da Educação. Tem muito mais contos-de-fadas, fábulas e até "história da carochinha" do que verdadeiros relatos da história brasileira de ontem, hoje e amanhã.

O sonho do "Brasil Coração do Mundo" acabou. O Brasil terá mais dificuldades, e mesmo que possa superá-las, isso não o fará um país superpoderoso. Também não devemos nos preocupar com o "brasilocentrismo", porque isso soará muito perigoso.

A julgar pelo que uma parcela de brasileiros quer para presidente da República, o autoritário, prepotente e encrenqueiro Jair Bolsonaro, já dá para perceber como será o tal "coração do mundo". Já vimos o caso da Alemanha. E Chico Xavier, no auge da ditadura militar, dizia que os generais estavam criando o "reino de amor" no futuro. O que isso nos quer dizer, afinal?

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