sexta-feira, 25 de julho de 2014

Espiritismo não é cristão


Tanto nos círculos espíritas autênticos como nos espiritólicos, discute-se a influência de Jesus na Doutrina Espírita. Há uma séria polêmica para muitas pessoas, já que ainda existe a crença de que o Espiritismo é uma doutrina cristã, o que, por incrível que possa parecer, é um enorme equívoco.

Em primeiro lugar, isso resulta de uma série de más interpretações. Até em relação ao sobrenome de Jesus, que só virou "Cristo" por conta de um ritual de hospitalidade realizado pelo seu primo João Batista, que o Catolicismo define como "batismo".

Através de um jogo de palavras - "batismo" para Batista e "cristo" para crisma - , criou-se um valor ideológico que nunca existiu, transformando o ritual que "transformou" Jesus numa obrigação para "limpar" as pessoas do chamado "pecado original".

O "batismo" seria na verdade uma festa, um ritual de celebração, equivalente ao que ocorria em muitas tribos primitivas para receber um visitante. Era uma forma de celebrar a amizade e mostrar um grande afeto e confiança à pessoa que recebe tal cerimônia. Culturalmente, é um processo belo e admirável.

Por sua vez, o chamado "pecado original" é muito mal explicado pelo Catolicismo ortodoxo pela lenda de Adão e Eva, fábula de forte acento fictício provavelmente inspirado em um suposto personagem que havia existido no Oriente Médio, segundo relatos do Velho Testamento.

No Espiritolicismo, o "pecado original" corresponde a ideia das "faltas passadas", às quais se relaciona uma forma glamourizada de sofrimento humano, que a doutrina espiritólica define como "resgate espiritual". Sofrimento é bom, desde que não seja para os líderes espiritólicos e seus consortes. É como diz o ditado: "pimenta nos olhos dos outros é refresco".

A questão do sobrenome de Jesus é bastante controversa, e seria melhor que historiadores, sociólogos e antropólogos fizessem e divulgassem estudos a respeito. Sabe-se que, por sua origem geográfica, ele teria sido Jesus de Nazaré ou Jesus Nazareno, porque era comum na época atribuir como sobrenome a procedência geográfica, o lugar de nascimento ou de moradia de longa data.

JESUS NÃO QUIS CRIAR RELIGIÃO

Jesus não criou religião e o que oficialmente se registra como o Cristianismo primitivo seria, na verdade, um movimento progressista. Seriam precisos estudos sérios para analisar o caso, mas sabe-se que Jesus fundou uma das organizações não-governamentais mais antigas, reunindo amigos solidários que hoje se registra como "apóstolos".

O mito de que Jesus teria criado religiões, várias delas divergentes e hostis entre si, se deu na Idade Média, quando as mesmas elites responsáveis pela morte do ativista judeu, as aristocracias romanas, teriam se apropriado do Cristianismo primitivo e criado uma religião de acordo com seus próprios interesses, muitos materialistas e até mesquinhos, que veio a ser o Catolicismo medieval.

Foi ele que criou uma visão oficial de Jesus que hoje conhecemos. Uma visão deturpada, distorcida, que atribuiu a Jesus procedimentos, crenças e atitudes que ele teria reprovado severamente. Nem é preciso muito esforço para isso: as "cruzadas", forças militares e bélicas que marcaram o período medieval, provocavam guerras sangrentas a pretexto de defender o pacífico Jesus.

E se Jesus não criou religião alguma, e ele só foi "o Cristo" depois de um ritual de amizade e afeição de seu primo, também Allan Kardec não teve o propósito de transformar a Doutrina Espírita numa doutrina cristã.

É preciso discernir as coisas. Kardec se afinava com as ideias progressistas de Jesus. Evidentemente, há uma admiração do professor francês pelo ativista judeu, mas isso não significa a idolatria cega e nem a transformação de Jesus num fetiche, que é o que se expressa a tese do Espiritismo como uma "doutrina cristã".

O Espiritismo, como Kardec estabeleceu, era uma ciência com todos os seus riscos de revisão de teses, conceitos e conhecimento. O Espiritismo estava sujeito a revisões e reinterpretações, mas muito longe da maneira fútil e depravada que o "espiritismo" brasileiro da FEB e congêneres promoveu em mais de cem anos.

Kardec não tratava Jesus como um totem nem como um fetiche. Por isso sua doutrina, em que pese as afinidades profundas com a doutrina do nazareno, não se define como "cristã", até para não se associar às distorções que Jesus acabou sofrendo ao longo dos séculos.

Portanto, o Espiritismo foi apenas um movimento intelectual francês do século XIX, de grande importância, mas dotado de muita autonomia. Dialogava com as ideias de Jesus como poderia dialogar com as ideias de Sócrates, Rousseau, Voltaire e Newton. Mas cada um com sua individualidade, sem essa preocuçação de fulano ser neo-sicrano, pós-beltrano e coisa parecida.

Mas todos eles tinham seus repertórios de ideias autônomos, e a integração de suas ideias não pode ser confundida com um vínculo forçado que só desvaloriza esses pensadores em suas contribuições pessoais para a humanidade. Todos eram brilhantes e diferenciados nos seus esforços de esclarecer a humanidade. Vínculos forçados e uniformizadores contrariam a individualidade dessas pessoas.

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