sábado, 26 de julho de 2014

O mistério da jovem Meimei


Um dos nomes mais cultuados pelo Espiritolicismo é o da jovem mineira Irma de Castro Rocha, conhecida como Meimei. Bela, inteligente e generosa, ela havia nascido em 22 de outubro de 1922 onde hoje é o município de Mateus Leme, na região metropolitana de Belo Horizonte.

Ela, que desejava ser professora e adorava crianças, não chegou a completar 24 anos de idade, já que sofria de nefrite, ou seja, doença grave de inflamação renal, e faleceu em 1946 nas exatas três semanas antes de seu aniversário. Estava casada com o esportista Arnaldo Rocha havia dois anos e não chegaram a ter filhos.

Arnaldo, amoroso e dedicado, combinou com Irma que ela seria conhecida pelo apelido de Meimei, palavra que conheceram do livro Momento em Pequim, do pensador chinês Lyn Yutang. Em chinês, "meimei" é uma palavra que significa "noiva querida" ou "amor puro".

Onze dias depois do falecimento de Irma, Arnaldo, num dia de chuva, foi para a casa do irmão Orlando e, depois, os irmãos, descendo uma avenida em Belo Horizonte, cidade onde faleceu a jovem, e encontraram Chico Xavier, que logo os reconheceu. Orlando teria entrado em contato com ele antes.

Chico disse que Meimei "queria muito falar" com o marido. A partir daí vieram as mensagens aparentemente psicografadas e, posteriormente, os livros com autoria atribuída ao espírito de Meimei, que eventualmente são lidos nos "centros espíritas" de todo o país.

AFEIÇÃO OU FASCINAÇÃO?

Com toda a certeza, seria bela e comovente a comunicação de Arnaldo com o espírito de sua mulher. Mas dentro do contexto espiritólico de Chico Xavier e Emmanuel, a situação torna-se estranha, ante o constante oportunismo dos dois, bastante relatado aqui.

Segundo Entre a Terra e o Céu, obra de Chico Xavier atribuída a André Luiz, publicada em 1954, Meimei teria sido Blandina, moradora da suposta cidade espiritual de Nosso Lar. Já Ave Cristo, ditado pelo espírito Emmanuel a Chico, e lançado um ano antes, ou seja, em 1953, Meimei, sob o mesmo nome de Blandina, teria vivido no século três da nossa era.

Embora Arnaldo não apontasse qualquer estranheza em relação às mensagens atribuídas ao espírito de Meimei e pelo fato dela ter sido católica fervorosa, já que o chamado "espiritismo" brasileiro sempre teve acento católico e esta era a religião devota de Chico Xavier - que atraiu para si o espírito Emmanuel, que teria sido o jesuíta Manoel da Nóbrega - , o caso ainda é misterioso.

Não é impossível que, mesmo falecida, Meimei pudesse conviver com o marido, como um espírito que pudesse lhe orientar nos caminhos da vida, até porque a afeição entre os dois era profunda e sincera. Mas da forma com que Chico e Emmanuel trabalharam o mito de Meimei, mesmo da forma aparentemente mais positiva e amorosa possível, ainda traz muitas dúvidas.

À primeira vista, não foram notadas contradições entre as mensagens e livros atribuídos a Meimei e a personalidade da jovem. Meimei, católica praticante, talvez tivesse escrito boa parte das ideias religiosas que foram publicadas nos livros atribuídos à sua autoria.

O grande problema é que Chico Xavier havia passado, pouco antes, por uma séria polêmica por causa do processo judicial movido pelos herdeiros de Humberto de Campos por conta do uso do nome do autor em obra duvidosa, como Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, cuja qualidade textual é inferior ao que o escritor havia produzido em vida.

Mesmo resultando em empate, o caso em parte poderia ter abalado Chico e este, já tendo se tornado um astro da FEB - um verdadeiro "astro pop", um "rei do pop" no Espiritolicismo - , teria que se alimentar às custas da emotividade dos que perdem seus entes queridos.

E aí o caso Meimei caiu como uma luva para alguém acusado de plagiar a obra de Humberto de Campos e usurpar o prestígio deste, e Chico juntou as peças, criando um clima de fascinação que talvez tivesse seduzido o viúvo da jovem.

Possivelmente, Chico se aproveitou da situação e buscou alimentar prestígio para tentar abafar o caso Humberto de Campos, que diante de ações recorrentes obrigou Chico a substituir esse nome para o de "Irmão X".

Portanto, torna-se uma coisa estranha. Aparentemente, não foi identificada estranheza entre as mensagens do espírito Meimei e o que ela teria representado em vida. Pelo menos os familiares não se pronunciaram sobre isso. Boa-fé ou confiabilidade? E diante do oportunismo de Chico e seu despótico "orientador" Emmanuel? Pode se esperar alguma veracidade nisso?

Mesmo a católica Meimei teria realmente escrito os livros e mensagens atribuídos à sua autoria? E todo esse clima de afetividade e emotividade não seria um recurso de "fascinação", uma armadilha de espiritólicos para fazer envolver as pessoas?

O que se sabe é que esse mistério não pode ser resolvido pela simples aceitação emotiva, que conforta mas não assegura a realidade dos fatos. Seria melhor uma análise mais científica, ainda que sob sério risco de contestação, e bem longe do pedantismo pseudo-científico do dito "espiritismo" brasileiro. É preciso analisar as coisas com muita cautela, o máximo possível, para não cair em graves enganos.

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