quinta-feira, 3 de julho de 2014

O primeiro grande caso de obsessão no "espiritismo" brasileiro


Na história do "espiritismo" brasileiro, aquele comandado pela roustanguista Federação "Espírita" Brasileira (FEB), há um grande caso de obsessão espiritual numa doutrina supostamente voltada para combater esse mal.

A obsessão envolve uma só pessoa, o anti-médium mineiro Chico Xavier, e ela envolveu dois espíritos em processos bastante diferentes. Esses dois espíritos são o padre jesuíta Manoel da Nóbrega e o escritor maranhense Humberto de Campos.

No caso de Manoel da Nóbrega, que apareceu na vida de Chico Xavier sob o codinome Emmanuel - alusão ao vocativo Ermano Manoel dos tempos do Brasil colonial - , o jesuíta tornou-se obsessor de Chico, conduzindo-o de maneira autoritária e opressiva nos trabalhos supostamente caridosos. Emmanuel aparece como algoz nesse processo obsessivo sobre Chico.

Já Humberto de Campos tornou-se vítima, já que, sendo um dos escritores prediletos de Chico Xavier, que, do contrário que se pensa, não era um iletrado, mas um ávido leitor de livros, teria seu nome usado de forma leviana em supostos trabalhos mediúnicos do mineiro, que nem sempre produzia trabalhos mediúnicos, já que seu dom de médium às vezes deixava de acontecer.

EMMANUEL TERIA SE IRRITADO COM FIM DAS COMPANHIAS DE JESUS NO BRASIL

Fortes indícios dão conta que o espírito Emmanuel teria sido mesmo o Padre Manoel da Nóbrega, jesuíta português famoso por seu temperamento autoritário e por vezes violento, mas astucioso o suficiente para ter manipulado as tribos indígenas a deturpar suas crenças culturais e nelas inserir valores do catolicismo medieval ainda vigente no Portugal pós-Idade Média.

É a mesma coisa que Emmanuel faz com a doutrina de Allan Kardec. Ele finge apoiar e apreciar a doutrina do outro, faz que adere a ela e nela insere valores retrógrados do catolicismo medieval, às vezes até de forma bastante austera. Vários aspectos entre o jesuíta e o "mentor de Chico Xavier" são bastante idênticos. A identidade do espírito se verifica através de caráter, obras e hábitos pessoais.

Emmanuel, através dessa hipótese, teria se frustrado com o fim dos trabalhos da Companhia de Jesus no Brasil. O fim se deu por ordens do então primeiro-ministro Marquês do Pombal, que julgou as atividades dos jesuítas na colônia sul-americana bastante onerosas.

Pombal queria recuperar Portugal, que em 1750 foi violentamente atingida por um terremoto que destruiu várias cidades e causou várias mortes. Os danos materiais foram imensos e Pombal estabeleceu várias medidas austeras para sanear as finanças no país europeu. Entre elas, o corte de muitos investimentos na colônia brasileira. Daí, por exemplo, o fim dos trabalhos jesuítas.

Isso teria irritado o espírito de Manoel da Nóbrega, já falecido na época, e depois, quando soube que o "espiritismo" brasileiro foi implantado com bases católicas, já que a FEB se originou, na verdade, por meio de dissidências católicas de cunho "espiritualista", ele resolveu "ficar de olho".

E aí veio a oportunidade de seduzir e dominar o caipira mineiro Francisco Cândido Xavier, católico fervoroso, devoto de Nossa Senhora da Abadia, e aí Emmanuel, com os livros que ditava para seu "protegido" decidiu diluir o Espiritismo de Allan Kardec com inserções de valores e ritos católicos "adaptados" para o "espiritismo" brasileiro.

Chico Xavier, em princípio, até questionou a missão sobrecarregada que teve que assumir depois, mas recebeu uma ameaça dada em tom irônico pelo espírito do jesuíta e resolveu, pelo menos, assumir o trabalho de psicografar muitos livros, ainda que se suspeite que uma parte deles teria sido escrita por outrem e atribuída à autoria do anti-médium mineiro.

HUMBERTO E "IRMÃO X"

Já o caso da obsessão por Humberto de Campos, era até um processo um tanto doentio por parte de Xavier, uma vez que, depois que o escritor maranhense, nos seus últimos anos de vida, avaliou o livro Parnaso de Além-Túmulo, de uma forma educada mas não necessariamente positiva, Chico passou a "perseguir" o escritor nordestino e se alimentar do carisma dele.

Humberto, que em vida foi ateu, foi um dos primeiros falecidos usados pela campanha religiosa do Espiritolicismo, apropriado por essa doutrina sob a habitual e surrada desculpa de que "sofreu após a morte, foi socorrido por benfeitores e apresentado à doutrina de Jesus (visto sob ótica católica)".

Foi a partir dessa obsessão que Chico decidiu lançar em 1938 o livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, um trabalho de credibilidade bastante duvidosa e que se nivela até abaixo dos piores livros didáticos sobre História do Brasil da época, usando o nome de Humberto, cuja erudição cultural o faria incapaz de escrever um livro como este.

O episódio gerou um processo judicial por parte dos herdeiros de Humberto, que viam na obra, e em outros livros atribuídos à sua autoria como espírito, aspectos que contradizem ao estilo e ao pensamento do autor maranhense. Seu advogado já declarou que a qualidade dos textos do "espírito Humberto de Campos" são bastante inferiores à que o autor produziu em vida.

Na época, o processo judicial deu em empate. A Justiça da época, 1944, não compreendia ainda a natureza das supostas psicografias e só respondia pelo que os falecidos deixaram de sua produção em vida, e por isso fecharam o caso sem dar ganho de causa a qualquer das duas partes.

Mas o empate rendeu pontos a Xavier e à FEB, e a partir de então o mito do mineiro cresceu a ponto dele quase se tornar unanimidade décadas depois. Pressões dos herdeiros de Campos apenas fizeram que o nome de Humberto de Campos fosse substituído por um pseudônimo, daí o codinome "Irmão X".

Mesmo assim, o nome "Irmão X" manteve a obsessão de Xavier por Campos, já que o codinome parodia um pseudônimo usado pelo escritor maranhense, "Conselheiro XX". E de uma forma ou de outra, Humberto passava a ser associado às mesmas pregações católicas que Emmanuel ditava para Chico Xavier, e que gerou outros "comparsas" como André Luiz, Joana de Angelis etc.

O "espiritismo" brasileiro, com seu moralismo católico retrógrado e carregado de uma gororoba místico-religiosa, usava a bandeira da desobsessão para atrair seguidores. Mas, no mais típico estilo "faça o que eu digo, não faça o que eu faço", tem em Chico Xavier uma das pessoas mais carregadas da mais pesada obsessão espiritual, dominado por Emmanuel e dominando Humberto de Campos.

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