sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Supostas mediunidades e seus clichês


O "espiritismo" brasileiro chega a ser uma comédia. As atividades ditas "mediúnicas", não bastassem as mesmas serem feitas na base do improviso, desprezando a Ciência Espírita de Allan Kardec e preferindo, em muitos casos, práticas ocultistas medievais, elas seguem um "padrão" que na verdade corresponde a um repertório de clichês respectivamente adotados por cada prática.

Muitos desses "métodos" foram popularizados por gente como a família Gasparetto e Francisco Cândido Xavier e, embora sejam práticas bastante populares e até vistas por muitos como respeitáveis, são, não obstante, de valor e procedimentos bastante duvidosos.

Observam-se as mesmas caraterísticas em vários exemplos de práticas que aqui analisamos, como as supostas psicografia, psicopictografia (pintura mediúnica), psicofonia e nas cirurgias ditas mediúnicas, em que os mesmos clichês e estigmas são observados:

1) Nas psicografias, observa-se que, no Brasil, a prática não vai muito além do simulacro, em que um suposto médium finge que psicografa e redige, da própria mente e usando sua caligrafia - às vezes um parceiro seu inventa uma assinatura diferente, mas isso é pouco comum - e manda uma mensagem de apelo religioso, creditando a "autoria" ao falecido solicitado na ocasião.

As mensagens são padronizadas, e seguem uma narrativa linear. O "espírito" conta que sofreu ao falecer, que depois foi assistido por outros espíritos, que se instalou numa colônia espiritual e, conhecendo os ensinamentos de Jesus, apela para as pessoas da Terra se dedicarem a este.

2) Nas psicofonias, além de se observar a prioridade nos personagens do século XIX, o que é estranho e traz indício de fraude - porque as personalidades do século XIX raramente tiveram acesso às novas tecnologias de gravação do som lançadas a partir do fonógrafo, em 1877 - , nota-se o mesmo tom religiosista das supostas psicografias.

Em alguns casos, permite-se fazer supostas psicografias com "espíritas" próximos, ou então os mais conhecidos - já se faz com Chico Xavier, por exemplo - , feitos geralmente por aqueles que conviveram intimamente com eles, para que assim conhecessem seu estilo de falar e seus trejeitos.

3) Nas psicopictografias, o clichê está sempre na "multidão" de pintores que se supõe reunir durante o evento, como se fosse muito fácil juntar pintores de diferentes épocas e lugares para um mesmo trabalho. Se é muito difícil reunir colegas de escola de 25 anos atrás, quanto mais pintores de diferentes tempos e lugares?

Geralmente as pinturas são feitas, "sensacionalmente", com as mãos ou os pés, com técnicas mais "modestas" para garantir o caráter sensacional das obras que, com todo o esforço de imitação, soam sempre inverídicas, bastando uma comparação com a obra que o falecido pintor fez quando era vivo. Além disso, os "médiuns" nem medem escrúpulos de usar assinaturas diferentes das originais.

4) Nas cirurgias mediúnicas, o que se observa são duas coisas: a prática rudimentar e o clichê de quase sempre "incorporar" um médico alemão, austríaco ou coisa parecida. Lembrando práticas de cirurgias clandestinas da época medieval, as operações, cujos critérios são a revelia da ciência médica contemporânea, são quase sempre feitas com tesoura ou facão.

Os resultados, dizem, são "eficazes", mas o caráter duvidoso das práticas é evidente e essa eficácia é discutível. Corpos são perfurados sem muita higiene e tumores são retirados como um caroço é tirado de uma fruta cortada por uma faca.

As "cirurgias" sempre têm esse aspecto marginal de romperem com os procedimentos médicos atuais como se a Medicina que temos na Terra fosse um "mal". Além disso, o caráter rudimentar surge para fazer sensacionalismo através da simplicidade.

Outro aspecto a se considerar é que boa parte dos "médicos espirituais" é vingativa, já que, em dado momento, os supostos médiuns acabam sofrendo alguma tragédia, atribuída a uma suposta represália movida por esses "enérgicos espíritos".

Assim, observa-se um amontoado de clichês. A suposta psicografia de apelo religioso e narrativa linear de sofrimento-socorro-salvação. A suposta psicofonia que usa gente que viveu antes da popularização do fonógrafo. A suposta pintura mediúnica que reúne grupos de pintores de origem dispersa e a cirurgia dita espiritual que só usa tesoura ou faca e "incorpora" médicos germânicos.

Não se trata de um método rigoroso que envolve essas semelhanças. Pelo contrário, se tratam de clichês de práticas duvidosas, em muitos casos correspondentes a práticas clandestinas da Idade Média que passaram a ser aceitas por um repaginado Catolicismo medieval, que adotou reformas pontuais para se transformar no "espiritismo" que se tem no Brasil.

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