quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Casamentos "estáveis", mas sem afinidade


Todo casamento duradouro é necessariamente uma união feliz de pessoas afins e companheiras? Nem sempre. Casais considerados felizes são muito mais raros, o verdadeiro companheirismo conjugal é um dos fenômenos que se contam nos dedos, e até causam estranheza para outros casais, durante eventos pessoais.

Maridos e mulheres que ainda "se namoram" é muito mal visto pelas pessoas, diante da função "pragmática" - termo dado ao atendimento superficial, geralmente precário e imediatista das necessidades humanas - das relações conjugais, em que se toleram até infidelidades nas relações.

Numa sociedade marcada pelos jogos de interesses, muitos casamentos duram mais pelas conveniências que os cercam. Como relações "contratuais", vide o fato de que "consórcios" são vistos como sinônimos de casamentos, elas se amarram menos pela necessidade de convívio dos cônjuges e mais pelas relações de negócios ou mesmo de amizades associadas.

Daí que se observa a "vida de solteiros" que têm esses conjuges. E isso se reflete principalmente quando o marido é marcado por uma posição de poder econômico na sociedade e a mulher é uma espécie de "vitrine" mesmo quando também exerce alguma posição de comando ou influência.

O homem permanece nos seus negócios, ou está ligado à vida política ou empresarial, e geralmente se mostra pouco na mídia, a não ser quando a situação obriga. Geralmente reservado, ele está muito mais comprometido, sob a vestimenta de seus paletós, camisas de colarinho e sapatos engraxados, a formalidades e atividades que só servem para promover a ascensão e o poder econômicos.

A mulher praticamente sai sozinha em quase todos os eventos. Ela é vista geralmente desacompanhada até nas suas saídas à rua. E, quando é entrevistada e perguntada sobre qual tipo de homem atraente, a tendência costuma ser evitar citar o próprio marido, até porque ele costuma estar longe de ser atraente.

NO MUNDO DA FAMA

No mundo da fama, muitos casos são conhecidos de homens casados que levam vida de "solteiros" e mulheres casadas que até parecem "solteiríssimas" além da conta. Em muitos casos, nem as páginas de fofocas chegam a dar um pio, e os casais casados, mas "solteiros", continuam ficando separados, só se juntando em situações tendenciosamente combinadas.

Elas estão entre as saídas com filhos - o casal geralmente já têm dois ou mais filhos - , os jantares com amigos próximos, os eventos de gala, os almoços ou jantares formais, e tudo parece harmonioso como um "comercial de margarina", divertida alegoria para casais que dissimulam crises conjugais.

Nesses comerciais, em que aparece uma "família feliz" tomando um desjejum (o popular "café da manhã"), o marido, geralmente usando uma camisa de colarinho e uma gravata posta, prestes a ir para mais um dia de negócios, se senta para apreciar o pão com aquela margarina que foi preparado pela esposa.

Trata-se de uma peça publicitária que usa, na verdade, atores não necessariamente casados entre si e que, em muitos casos, nem casados são, para fazer a cena da "família feliz" que serve para vender o produto, a margarina que precisa ser consumida pelos vários membros da família.

Quanto às mulheres, a vida de casada "solteira" chega a ser mais evidente que a de seus maridos, geralmente "reservados" e "escondidos" na sua vida pessoal-profissional. O fato das mulheres aparecerem quase sempre desacompanhadas é um indício do casamento de "comercial de margarina" que vivem.

Há caso de humorista estadunidense bastante famosa, casada com um produtor de humor e tem dois filhos, mas que praticamente vive "vida de solteira" levando em conta o fato de quase sempre aparecer sozinha. Ou de apresentadora de TV brasileira, casada com empresário, que aparece quase sempre sem o marido, chegando a viajar constantemente sem ele.

Pode ser que, em alguns casos, o "casamento feliz" seja deixado para a privacidade, mas observa-se que, se isso ocorre, ele sempre mostra algum indício de cumplicidade. Quanto não, ele mostra, na verdade, que o casamento não passa de uma forma de um dos cônjuges patrocinar o sucesso do outro.

De um lado, é o marido que serve de suporte financeiro para a "vida de solteira" de sua mulher. De outro, é a mulher que serve de "vitrine" para o sucesso profissional e para o crescimento econômico do marido. Nenhuma cumplicidade, nenhum companheirismo. Só negócio, como nos mais típicos consórcios.

AMOR FICA EM SEGUNDO, OU TALVEZ, ÚLTIMO PLANO

O chamado amor espiritual, ou seja, a identificação espiritual de pessoas afins que se unem de forma conjugal - algo que não atravessa encarnações, mas pode se tornar estável em ao menos uma encarnação - , é muito raro nos casais que duram ao sabor das conveniências dos "contratos" e contatos sociais.

Em verdade, os cônjuges sabem ficar juntos por muito tempo. Daí o estabelecimento de "cargas horárias" para a "vida solteira", que pode ser marcada por aventuras extra-conjugais ou não. Calcula-se os horários e eventos que maridos e mulheres ficam juntos, algo que não é muito mais do que os horários que vão do jantar de uma noite ao café da manhã seguinte e alguns eventos formais.

Até quando saem com os filhos, nota-se que os cônjuges se comportam mais como dois amiguinhos cuidando de crianças. A impressão que se tem é que os maridos e suas mulheres nem se olham direito, a não ser quando um dos cônjuges pergunta a outro sobre aquele objeto que está procurando e que está lá dentro do automóvel da família.

O "amor" acaba sendo uma formalidade que faz o casamento "se carregar" por mais tempo que o necessário. A relação amorosa é como um cadáver embalsamado, o namorico que mal deu num casamento às pressas e no impulso de fazer a filharada perdeu a razão de ser.

Neste caso, o casamento vira uma zona de conforto e existe muito mais medo de enfrentar as consequências de um divórcio do que uma vontade de manter o casamento pelo companheirismo e pela cumplicidade. Os cônjuges ficam juntos mais porque não têm coragem de arcar com a separação decepcionando os amigos, sacrificando as finanças e decepcionando as crianças.

Afinal, um divórcio significa compra de nova casa para um dos cônjuges em separação, requer também investimentos financeiros maiores, porque uma vida familiar se fragmenta em duas, e há a partilha de responsabilidades, nem sempre fáceis de serem assumidas.

É muito mais cômodo, portanto, haver o faz-de-conta de "casamento feliz" nesses casos, enquanto maridos e mulheres aparecem quase todo o tempo separados, vivendo suas "vidas de solteiros" e pouco ligando se realmente se amam ou não. A mulher pode até eleger seus outros bonitões que o marido nem está aí para o ciúme. É a alma do negócio.

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