quinta-feira, 27 de agosto de 2015

A preocupante despreocupação de muitos brasileiros


O conformismo é um dos maiores males no Brasil e as pessoas têm a falsa impressão de que o país já está acabado e perfeito, mesmo que seja "um país perfeito cheio de imperfeições". Contraditoriamente, as pessoas pensam que há muito o que fazer no país, mas que não há necessidade de se fazer muito pelo país.

A crise existente no Brasil e em outras partes do mundo é vista de forma desigual. Na Grécia, a crise é encarada com pânico e insegurança. Na França, com um certo ceticismo. Já no Brasil, a crise é vista com indiferença, porque não é com os umbigos das pessoas ditas influentes.

A indisposição das pessoas se reflete na Internet, quando textos questionadores são praticamente boicotados. Isso quando não chega o vandalismo digital de sociopatas, como zoeiros e troleiros (trolls), potencialmente reacionários, que contradizem seus conhecimentos de Informática (pelo menos como usuários) com um senso medieval de "patrulhamento" e visão de mundo.

O Brasil passou por inúmeros retrocessos nos últimos 50 anos. Estima-se que eles foram impulsionados a partir do golpe militar de 1964. O Brasil ficou brega praticamente a partir da Marcha da Família Unida com Deus pela Liberdade, que teve os "rosários" do padre estadunidense Patrick Peyton, teve o Catolicismo ortodoxo, a neo-pentecostal Nova Vida e até a Federação "Espírita" Brasileira, com o aval de Chico Xavier e tudo.

Mas os piores retrocessos vieram a partir dos anos 90, com Fernando Collor sendo eleito e uma avalanche de retrocessos de ordem social, cultural, urbanista, político, econômico, moral etc. Mas como eles vieram sob o pretexto da democracia, do populismo, dos avanços tecnológicos e da prosperidade econômica, eles foram aceitos praticamente com submissão bovina.

Daí que a crise acontece e as pessoas não levam a sério. Os noticiários não conseguem esconder essa crise, e até mostram. Crises que envolvem violências, acidente, corrupção, gafes gravíssimas e tantos outros problemas. Mas a banalização de tudo isso anestesia as pessoas, sobretudo numa época em que se passou a brincar de WhatsApp e desprezar a leitura ou escrita de blogues.

As pessoas imaginam que tudo está sob controle, mesmo o descontrole. Acham que os problemas dificilmente baterão às suas portas. Se ocorrem tragédias, a impressão é que nunca envolverão aquele "rapagão divertido" das rodadas de cerveja ou aquelas pessoas "iradas" que dizem piadas nas mídias sociais.

Até mesmo os homicidas se acham sob controle de tudo. Supõem que tiram a vida de outrem por alguma "causa nobre" moralista, como a "defesa da honra" masculina ou o "direito à propriedade" dos grandes fazendeiros e acham que, para eles, tudo pode ocorrer de forma linear e direitinha. Mas não é assim.

Nada impede que grupos de extermínio morram em um desastre automobilístico pouco depois de cometerem seus atentados. Seus automóveis geralmente sucateados apontam para isso. Da mesma forma, nada impede que um feminicida conjugal, mesmo relativamente jovem e aparentemente saudável, morra de infarto só porque, fugindo para o exterior, viu um parente da vítima na rua.

O espírito de imprudência e imprevidência é muito comum no Brasil. E isso prova a inexperiência de um país jovem, configurado como nação política em 1500, um período que parece "ontem" se comparado com os milhares de anos da nação grega. Se a crise da Grécia, hoje, causa aflição nos seus cidadãos, isso é um perigoso alerta para o Brasil.

As pessoas tentam procurar os "anos dourados" do nada. Seja pelas "vídeocassetadas" que as concorrentes da TV Globo anunciam como "espaços dos internautas", como se na Internet as pessoas só se interessassem em tolices, seja pelo supérfluo de qualquer espécie que soa prioritário para muitas e muitas pessoas.

No Rio de Janeiro, cidade que mais sofreu retrocessos nos últimos 25 anos, a situação é mais grave. Essa decadência é vista com indiferença pelas pessoas, que até esnobam de tal constatação. Acham que praia, cerveja e futebol representam por si a prosperidade, e riem da crise achando que ela "existe em todo o país", uma forma eufemista de dizer que "é uma coisinha de nada que ocorre no Brasil".

Só que isso é sério. A decadência do Rio de Janeiro, que a partir de seu grupo político - comandado por Eduardo Paes e Luiz Fernando Pezão, não muito diferentes em autoritarismo que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, ele um integrante do prepotente PMDB carioca - , impõe retrocessos em níveis medievais para seu Estado, não pode ser vista como coisa sem importância.

O Estado do Rio de Janeiro é visto de tal forma como referência para o país, juntamente com São Paulo, que se um retrocesso prevalecer nesses lugares, ele acaba valendo para todo o país, fossem como fossem seus males para o povo em geral.

O povo nem precisa apoiar tais retrocessos, bastando o respaldo de grupos de políticos e empresários que definem o retrocesso tal, lançado no eixo Rio-São Paulo - geralmente a partir de São Paulo sob a "consolidação" no Rio de Janeiro - , como "viável" para todo o Brasil.

O Rio de Janeiro há muito perdeu toda a modernidade e contemporaneidade que se tentou desenvolver na Cidade Maravilhosa durante anos, inicialmente como uma reação, por vezes de apoio, por outras de contestação, aos projetos urbanísticos do prefeito Pereira Passos lançados por volta de 1905.

Era uma modernização que parecia definitiva e inabalável há 55 anos. Mas que hoje rui de forma dramática, embora o silêncio dos cidadãos e o pouco caso da grande mídia, que denuncia os milhares de desastres que acontecem no Estado do Rio de Janeiro como se fossem atrações de circo, tentem renegar essa realidade.

Há uma despreocupação um tanto masoquista e suicida. Como se tudo que ocorresse de ruim fosse comédia ou fizesse parte da complexidade pós-moderna de hoje. Só que o pouco caso das pessoas, que já estão na quarta ou quinta geração dos que ficam aceitando retrocessos desde que os militares assumiram o Poder Executivo federal em abril de 1964, estabelece um preço muito caro para o país.

Perdem-se referências e pessoas de grande valor e o país se mergulha numa mediocridade que não dá mais para esconder. A "cultura popular" que transforma o povo pobre em caricatos "debiloides consumistas" é cada vez mais questionada, depois que a onda de blindagem intelectual e acadêmica caíram no ridículo de tanto apoiarem essa "cultura de mercado".

O problema é que mesmo a classe média alta sofria da crise da Educação e de toda uma série de crises de valores e princípios, que os fazem ao mesmo tempo doentes e ao mesmo tempo ignorantes de suas próprias doenças.

Sem referenciais sólidos, tentam atribuir alguma superioridade a determinados totens através de valores meramente simbólicos ou materiais, como o diploma, a visibilidade e o prestígio junto aos privilegiados para dar um apoio e credibilidade a essas pessoas.

Daí o apoio a Luciano Huck, Danilo Gentili, William Bonner, Jaime Lerner, Alexandre Sansão, Rachel Sheherazade, Rodrigo Constantino, etc.Daí a ilusão de que diploma, fama, votos eleitorais e dinheiro garantem a credibilidade e o respeito. Em primeira instância, até quem tinha um forte idealismo abria mão de boa parte de seus princípios para se vender a um corrupto em troca de visibilidade.

Só que isso não resolve a crise. Não se sustenta o progresso dessa forma, e o triunfo da mediocridade não significou até agora a recuperação gradual de antigos progressos perdidos, pois os medíocres não se dispõem, até pela falta de capacidade natural, de interesse para ter a mesma competência do antigo gênio falecido ou jogado para o ostracismo.

A mediocridade se apoia em valores medíocres e, por vezes, mesquinhos. Não pode dar lições nem exemplos com a mesma competência dos mestres. Bajular é inútil, criar arremedos também, e o progresso é comprometido de qualquer maneira porque nas altas posições da atividade humana há a predominância de incompetentes que só fazem falar, dizendo que sabem tudo, que podem fazer qualquer coisa valiosa, mas nada fazem.

Os retrocessos no Brasil, e, sobretudo, no Estado do Rio de Janeiro, com a outrora Cidade Maravilhosa se afundando na decadência e sua vizinha Niterói isolada no seu preguiçoso marasmo, se mostram cada vez mais evidentes, por mais que a sociedade faça vista grossa.

Chegará um momento em que não dará mais para esconder ou esnobar, até porque o reacionarismo dos internautas que queriam manter a "visão oficial (e irreal) das coisas" começa a ser questionado.

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