quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Intelectuais não confiaram 100% em Chico Xavier

MONTEIRO LOBATO FEZ COMENTÁRIO IRÔNICO SOBRE CHICO XAVIER.

Oficialmente, as declarações de intelectuais brasileiros sobre a suposta mediunidade de Chico Xavier feita nos livros Parnaso de Além-Túmulo e Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho parecem estar a favor do anti-médium apenas porque não expressavam um claro desmentimento.

No entanto, observando bem as tais declarações, das quais selecionamos as principais delas, nota-se duas tendências. Ou havia a ingenuidade de acreditar que o processo poderia ter sentido, já que Chico Xavier não seria capaz de imitar uma ampla variedade de estilos literários, ou então havia um certo ceticismo em relação à procedência das mensagens "espirituais" contidas nesses livros.

Enquanto a FEB festejou as declarações abaixo reproduzidas como sendo a "comprovação" ou "afirmação", da atividade mediúnica de Xavier nos dois livros - ele teria sido médium, provavelmente, mas nem sempre exercia realmente esse dom - , nota-se que tais frases expressam muito mais uma incerteza neutra do que uma certeza sobre o "poderoso dom" do mineiro.

Segue então a reprodução das frases de intelectuais influentes na época, por volta das décadas de 1940 e 1950, tempo em que Chico Xavier estava em ascensão. A exemplo da ação judicial dos herdeiros de Humberto de Campos, a incerteza que dominava intelectuais e juristas quanto ao fenômeno da mediunidade favoreceu, pelo empate, a reputação de Xavier, hoje reconhecida como discutível.

"Se é mistificação, parece-me muito bem conduzida. Tendo lido as paródias de Albert Sorel, Paul Reboux e Charles Muller, julgo ser difícil (isso digo com a maior lealdade) levar tão longe a técnica do pastiche. Não sei como elucidar o caso. Fenômeno nervoso? Intervenção extra-humana? Faltam-me estudos especializados para concluir." - AGRIPINO GRIECO, crítico literário.

"Se Chico Xavier é um embusteiro, é um embusteiro de talento. Sua facilidade de imitar seria um dom especialíssimo, porque ele não imita apenas Antero de Quental, Olavo Bilac e Humberto de Campos, mas Alphonsus de Guimaraes, Artur Azevedo, Antônio Nobre, etc." - RAIMUNDO DE MAGALHÃES JÚNIOR, escritor e acadêmico.

"Se Chico Xavier produziu tudo aquilo por conta própria, então ele merece ocupar quantas cadeiras quiser na Academia Brasileira de Letras." - MONTEIRO LOBATO, escritor.

Em nenhum deles há o reconhecimento afirmativo da mediunidade de Chico Xavier. Mesmo R. Magalhães Júnior, simpático a essa tese, se manteve em incerteza quanto à veracidade desse dom, em relação à antologia poética. Agripino Grieco também se mostrou incerto a respeito disso.

Já Monteiro Lobato pareceu seguir a ironia que o próprio Humberto de Campos fez sobre Parnaso de Além-Túmulo, já que este havia até mesmo "desafiado" os mortos - pouco antes dele ser um - a concorrer com os vivos na atividade poética. A ironia de Humberto se deu por conta de sua dúvida sobre a veracidade da ação mediúnica.

Não havia um descrédito total, mas também não havia uma crença. As frases indicam que eles tinham apenas incerteza quanto ao processo, sendo incapazes, por sua incompreensão, de estabelecer um julgamento definitivo a respeito. Portanto, nenhum deles confirmou a mediunidade de Chico, nem eles quiseram dar algum mérito definitivo para ele. A FEB é que puxou a "brasa" para sua "sardinha".

O que eles não dizem, porém, e que já mostramos no texto anterior é que Chico Xavier não fez o livro sozinho e, a julgar pelas mudanças editoriais, pelas polêmicas e acordos sobre as alterações em Parnaso, tudo indica que o livro, embora tivesse a contribuição de Xavier, também teve a colaboração da equipe editorial da FEB, praticamente confirmando a "absurda tese" defendida pelos católicos.

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