domingo, 22 de dezembro de 2013

Quando Allan Kardec é refém do Espiritolicismo


O tom de certos articulistas do Espiritolicismo dá uma amostra de como é o fanatismo, a pretensa sabedoria e o caráter de bajulação que seus porta-vozes fazem em relação à doutrina de Allan Kardec, o professor que virou refém do "espiritismo à brasileira" e é usado para defender até aquilo que ele nunca acreditou.

Aparentemente, existe uma frase de Kardec que diz que "o Espiritismo é uma religião e nós nos ufamanos disso", talvez uma dessas frases mal-traduzidas e mal-interpretadas, já que o "espiritismo" brasileiro, a exemplo do catolicismo medieval, tem por hábito deturpar a mensagem dos verdadeiros mestres e profetas, que nunca se cercam de pompa nem de palavras dóceis para alertar a humanidade.

O que se deve contestar é a má interpretação que se faz do sentido de religião dado por Kardec. Ele estava preocupado apenas com a natureza moral, e não com os dogmas e rituais ligados ao espetáculo que se tornou conhecido como "religião".

Kardec, esse professor desconhecido, na sua essência dos ensinamentos, queria apenas reestabelecer a ligação filosófica entre o homem e Deus, sem a intermediação de crenças supostamente iluminadas feitas apenas por homens que não obstante são mais vulneráveis à tentação dos erros e dos caprichos dos privilégios materiais.

Kardec virou um fantoche da FEB, no processo mais leviano de apropriação dos mortos que nos dias de hoje atingem até mesmo nomes como Raul Seixas, Karl Marx, Che Guevara ou mesmo a gracinha da Brittany Murphy.

É o "maluco" Raulzito, são Karl Marx e Che Guevara paparicados por neoliberais pseudo-esquerdistas - eles estão assim aos montes, sobretudo no Brasil - é a "drogada" Brittany Murphy que "não deveria" participar da continuação da animação infanto-juvenil Happy Feet, são Cazuza e Renato Russo reduzidos a espectros digitais (hologramas) a cantar até com "sertanejos" etc.

E tem Allan Kardec apoiando todo tipo de absurdo, todo tipo de aberração que o grande pedagogo nunca teria apoiado, ele, na sua serena mas firme busca pelo conhecimento, como um pesquisador sério que não aceitaria mistificações baratas.

Kardec, om toda certeza, não iria apoiar as barbaridades que a FEB faz, este que é o partido político do Espiritolicismo, uma espécie de PSDB espiritualista, com seus "trensalão" e "privataria" do além-túmulo.

Um colaborador da FEB, Jorge Hessen, em tom bastante violento, demonstra num texto toda a sua fúria - logo ele, que tenta reprovar a fúria dos outros - contra aqueles que investigam as distorções, falhas e conflitos do "espiritismo à brasileira", com as seguintes palavras:

"A rigor, o que está escamoteado na retórica desses aventureiros da ilusão, sob o tema “Emmanuelismo”, é, nada mais nada menos, o aspecto religioso da Doutrina Espírita sustentado dignamente no Brasil pela FEB e abrilhantado por Chico Xavier na prática mediúnica. Esses kardequeólogos “PhD’s de coisa nenhuma”, longe do uso do bom senso, insistem em divulgar a “progressista” tese de que se é preciso fugir do “Cristo Católico”, do religiosismo, do igrejismo no Espiritismo e transformá-lo numa academia de expoentes do “saber”, sob a batuta deles, obviamente! Isso só pode ser chacota!"


A irritação clara é o momento extremo dos espiritólicos pois, como já descrevemos, eles começam dizendo coisas como "meu irmão, você está alterado", "você fala mal dos que promovem o amor e a caridade, reveja suas posições, amigo!", numa fúria diluída em palavras "angelicais".

Tentando desmentir as distorções catolicizantes do "espiritismo" da FEB, e defendendo as "ilustres" figuras de Emmanuel, André Luiz e Chico Xavier, Hessen ainda não está contente em usar o nome de Kardec, usa o nome de Santo Agostinho, o bispo Aurelius Agostinus de Hipona, para justificar a "natural afinidade" entre Catolicismo e Espiritismo segundo a ótica da FEB.

Ainda vamos falar muito de Santo Agostinho, mas sabe-se que ele foi uma exceção entre tantos católicos. O bispo de Hipona, hoje cidade de Annaba, na atual Argélia, e na época parte do Império Romano. Apesar de bispo, Santo Agostinho também foi filósofo, matemático e teatrólogo, e procurava aliar os conhecimentos cristãos à lógica da qual o catolicismo medieval destruiu.

Se Santo Agostinho deu seu depoimento aos médiuns consultados por Allan Kardec, e publicados na bibliografia do professor lionês, não foi pelo mesmo sentido que o jesuíta Emmanuel se interferiu na Doutrina Espírita.

Santo Agostinho queria fazer o Cristianismo andar para a frente. Emmanuel queria que o Espiritismo andasse para trás, com o mesmo método que o conhecido Padre Manuel da Nóbrega (o E.Manoel - Ermano Manoel, dos documentos antigos do Brasil colonial) fazia tentando "absorver" as culturas indígenas para depois enfraquecê-las e matá-las com o catolicismo medieval.

É lamentável que manifestações de completa intolerância dos chefões da FEB e seus colaboradores aos questionamentos feitos à deturpação da Doutrina Espírita feita durante décadas pela instituição, venham à tona, com a desmoralização gratuita aos questionadores do Espiritolicismo.

Pois se questionamos o Espiritolicismo - que Hessen descreve jocosamente como "Emmanuelismo", desqualificando os contestadores do "insuspeiro" Emmanuel - , é pelos erros que nele consistem, que transformaram o Espiritismo num engodo místico, ritualístico, cheio de dogmas moralistas e outras irregularidades.

E ainda sentem-se tranquilos quando usam o nome de Allan Kardec para legitimar seus absurdos. Antes admitissem que Kardec não era para seu bico, que só falava para os franceses, que no Brasil não cabia Iluminismo nem Espiritismo etc. Seria cruel, mas seria mais sincero.

Kardec andou sendo deturpado pelo Espiritolicismo gratuitamente. Houve até suposta aparição de Kardec falando como um padre católico, e houve até farsante esotérico que disse ter sido Allan Kardec noutra encarnação. Sem falar dos textos deturpados em traduções diversas, a partir do exemplo febiano do roustangusta Guillon Ribeiro.

O grande pedagogo, seguro defensor da boa Educação, gratuita, abrangente e preparatória para os desafios (e as armadilhas) da vida, nunca iria aprovar isso. Kardec é usurpado, distorcido, deturpado, quando ele mesmo afirmou que, se houver alguma coisa errada sob o nome do Espiritismo, ele preferiria ficar com a ciência.

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